4º Festival Contato: Sábado!

Novamente o Festival Contato, Festival Multimídia de Rádio, TV, Cinema e Arte Eletrônica, realizado pela Universidade Federal de São Carlos, em conjunto com diversas parcerias e apoios, ocupa e anima o centro da cidade de São Carlos no fim de semana emendado com feriado do dia 12 de Outubro.

De 7 a 12 de Outubro, o festival, em sua quarta edição, ofereceu à cidade diversas atividades, desde exposições, apresentações, oficinas e debates até uma dinâmica gastronômica. Dentre essa gama de atividades, nos dias 9, 10 e 11, instalou-se na Praça Coronel Salles uma estrutura para shows, para a II Feira de Economia Solidária, para a programação infantil Contatinho e para o espaço de apresentações e exposições do Contato Eletrônico.

A praça, que também foi utilizada como cenário para os shows da terceira edição, dessa vez teve a Travessa Prof. Walter Blanco liberada para a feira, pois o palco, diferente da edição anterior, não foi instalado na travessa, mas sim, na frente da fachada da Câmara Municipal, liberando, dessa vez, a fachada da Escola Cel. Paulino Carlos para as megaprojeções do festival. A disposição das atividades foi bem pensada e de acordo com o projeto da nova praça. O pergolado circular recebeu, apropriadamente, a tenda para abrigar o Contato Eletrônico.

A edição 2010 ofereceu três dias de shows na praça. No sábado, primeiro dia, o público pode conferir cinco apresentações vindas de norte a sul do Brasil: Maria Butcher (São Carlos), Os Rélpis (Araraquara), Flavião e o Retrofuturismo (São Paulo), Apanhador Só (RS) e Wado (AL).

Com um público mediano, iniciou-se a única apresentação de músicos da cidade. Maria Butcher trouxe uma consagrada e convencional MPB. Em seu repertório, Fátima Guedes, João Bosco, Milton Nascimento. Sua banda, composta por seis músicos, além da cantora, traz uma linha musical enxuta e harmoniosa, tecnicamente incontestável e cuidadosa, uma sonoridade redonda e limpa. Além da bateria, baixo e guitarras, a presença do sax, do clarinete, da flauta transversal e dos impecáveis vocais de apoio traz brilho à produção.

No entanto, ao lembrar as edições anteriores, sentiu-se ali que Maria Butcher era, na verdade, uma estranha no ninho, pois seu repertório estava distante de qualquer tendência contemporânea de pesquisa musical esperada por um público de festival multimídia.

Nesse sentido, a meados da apresentação, o mais interessante foi sua música própria Eu e a Estrela. Seu mundo a parte das atuais tendências trouxe uma inusitada composição Reggae à moda do Pop dos anos 1980 no Brasil. E, ao final, percebemos que o show caminhou por vários ritmos, do Chorinho e Samba, passando por ritmos nordestinos e chegando ao Pop, mas sem nenhuma mistura, cada qual no seu lugar.

Já com um público levemente maior, contando com os admiradores que se deslocaram da vizinha Araraquara, a banda psicodélica brasileira Os Rélpis fez grande proveito da oportunidade de subir ao palco do Festival Contato. Após marcarem presença em São Carlos por diversas vezes, como no Grito Rock 2010, a banda se sentiu completamente em casa e a temperatura em queda no fim da tarde nem de longe esfriou os ânimos da banda.



Diferente da apresentação do Grito Rock, além da troca do baterista, tinha-se a ausência da percussionista Dara Ohdara, com a banda mostrando um formato mais enxuto, menos exuberante, mas positivamente sintético. Guilherme Garboso caminha para um vocal mais sutil, e, com mais experiência, a banda atinge a cada vez uma sonoridade mais envolvente e contínua. É visível uma qualidade maior nos vocais de apoio e as possibilidades experimentais da guitarra de Paulo tomam mais espaço. Barone na guitarra, Caiubi no baixo e Conrado na bateria completam a formação.

Os Rélpis, formados em 2008, estão se inserindo bem no circuito de bandas independentes e cativam pela mistura bem humorada que traz sua incomum forma psicodélica revisada. Com brasilidade tropicalista, misturam de forma homogênea o Blues, o Country e o Rock’N’Roll à Bossa Nova e ao lirismo carnavalesco. Perpassam por uma atmosfera caipira, e ainda se lançam sem perder a linha do uso de Maracatu à levada Surf Music, tudo através de uma estética bem definida e apropriada expressa no autêntico e personalizado figurino característico.

A meados do sábado de shows, sobe ao palco o projeto Flavião e o Retrofuturismo. Flavião apresenta suas composições, letra e melodia, que contaram com as bases e seqüências criadas por Isidoro Cobra, das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro. A produção final de seu novo álbum contou com a parceria de Daniel Saavedra e participação de Tatá Aeroplano, também das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro. Para a apresentação ao vivo, o projeto conta com os teclados e synths de Fernando TRZ, do projeto Lavoura de Eletro Jazz / Acid Jazz e do experimental eletrônico Acutilado, com o baixo de Caleb Luporini, também do Lavoura, com a bateria de Paulo Pires e guitarra de Daniel Todeschi.

Flavião envereda por caminhos próprios e atinge uma poética bem paulistana, numa temática urbana e do indivíduo solitário e noturno. A atmosfera da cidade é marcada pelos synths e pelas batidas quebradas. A harmonia elaborada dos teclados e synths de TRZ enriquece o projeto preenchendo a música e trazendo a influência do lounge e acid jazz do Lavoura.

O projeto se mostrou o mais interessante do dia. É extremante cuidadoso e domina totalmente a esfera musical contemporânea. Toda a criação do projeto e sua execução é realizada por competentíssimos músicos organizados em São Paulo. Trata-se de um dos frutos de um meio de artistas cujas parcerias tem rendido ricos trabalhos. Excelente!

Aproveitando um público maior, Apanhador Só, a penúltima apresentação, contemplou àqueles que aguardavam um som mais Pop em conformidade com aquilo que já se tem produzido pelo cenário Indie Rock. Impossível não lembrar de Los Hermanos ao ouvir o embriagado vocal e a mistura de Samba e carnaval.

Mas ficar nessa simplória comparação com as referências é injusto, a banda do Rio Grande do Sul tem as suas peculiaridades. Trazem uma interessante experiência com alguns elementos percussivos do Samba e chegam a executar a bateria com dois membros da banda num momento alto do show, onde a levada rapidíssima e crescente impressionou e empolgou o público. Apitos e até a execução de uma escultura / instrumento musical composta por partes de bicicleta, que compõe a cenografia e é a marca visual da banda, incrementam e conduzem a envolvente apresentação com a clássica formação em duas guitarras, baixo e bateria.

Estava mais do que preparado o terreno para o show principal do dia! O festival propôs a difusão do trabalho de Wado, músico catarinense radicado em Alagoas que tem lançado álbuns desde 2001, totalizando cinco trabalhos com o lançamento Atlântico Negro, de 2009. Foi um grande acerto situá-lo dessa forma no festival, pois embora tenha uma ótima produção, o músico não é lá muito conhecido como Bnegão, Jards Macalé e Tom Zé, chamarizes das edições anteriores do Contato.

O show, contando com um público grande, começou morno para aqueles que não acompanham seu trabalho. O molho da apresentação ficou por conta do teclado de Dinho Zampier e das programações de Tup. Mas o vocal passou a ganhar presença crescente na melodia cadenciada até o contágio do público com a música fortemente pop Fortalece Aí. Peixinho e Cavalcante completam a formação com bateria e baixo, além da guitarra de Wado.


Uma extrema sutileza na incorporação de influências musicais em um enxuto formato pode parecer pouco rica a primeira vista. No entanto, o trabalho de Wado é fruto de uma contínua experimentação do cenário contemporâneo popular brasileiro onde há uma grande conexão da cultura urbana com a cultura regionalista e uma força dessa conexão no contexto nordestino potencializada pelo contato com São Paulo, pólo cultural. Sintonizado com os rumos da música popular, Wado tem atuado num campo de refinada síntese do experimental ao pop.

Já em seu último álbum, cujas faixas ficaram para a segunda metade do setlist, é explícita a diversidade de suas referências. Além do Samba, usa Reggae, Rap, candomblé, ritmos nordestinos, recursos eletrônicos e por aí vai. O público se esquentou dançando na noite fria com Rap Guerra no Iraque, cuja batida familiar se dá pela parceria com Curumin, presente na segunda edição do Contato. As batidas e synths usados na versão de Boa Tarde, Povo fizeram o público se agitar ainda mais. Essa música, de Maria do Carmo Barbosa, conta também com uma versão do projeto Acutilado, que se apresentou a dois anos atrás no Teatro Florestan Fernandes na UFSCar.

Findas as atrações do dia na praça, o público que já podia se sentir satisfeito, ainda tinha a noite e a madrugada de programação nos estabelecimentos parceiros do festival. Falsos Conejos, um power trio instrumental porteño já são-carlense, Samba di Cumádi e festas com discotecagens estenderam a diversão e a boa música até não poder mais!

Saiba mais sobre o Contato acessando a Cobertura Colaborativa do festival. E veja mais fotos deste e outros dias do Contato no Picasa do Programa Bluga e da Caroline Pazian! Veja também textos sobre o Domingo e a Segunda desta edição do festival.



Fotos por Caroline Pazian (Maria Butcher, Os Rélpis) e Vincent de Almeida (Flavião e o Retrofuturismo, Apanhador Só, Wado)

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