Ensaio: Móveis vs. Los Hermanos - Um Público Só?


Ontem o Móveis Coloniais de Acaju se apresentava no Festival Alto Verão, em que fim-de-semana passado rolava Macaco Bong. Bongs, que aliás, fizeram um show épico, acompanhado dos sopros do Móveis, de Vitor Araújo, pianista precoce que vem ganhando nome ao agregar elementos do Rock ao piano erudito, Siba com sua rabeca e Jack, percussionista dos mineiros Porcas Borboletas. Felizmente, para nós que não vimos e para o registro histórico, houve uma gravação do show e há prenúncios de que o mesmo será lançado logo mais!

Vai lá um dos muitos vídeos que o pessoal do Urbanaque fez da apresentação dos sujeitos:


De todo modo, falando de Móveis, já esmiuçamos duas apresentações dos sujeitos, uma a época do auge da turnê do primeiro álbum, outra vez à exata época do lançamento do segundo, disponibilizando bootleg e tudo. Então, vamos abordá-los por outro lado, desta vez...

MAS, você certamente já ouviu falar de gente comparando o Móveis Coloniais de Acaju com Los Hermanos, não? Nunca me fez sentido esta comparação. Eram duas propostas completamente diferentes em estilos completamente diferentes:
Los Hermanos era Hardcore, dessas alternatividades, pelo menos ao primeiro álbum, enquanto Móveis Coloniais era Ska, altamente influenciado pela música Folk dos Balcãs; Hermanos é egoísta, (sem usar dos valores pejorativos da palavra, no sentido da valorização do ego), levando para sua poesia expressões do acometido a volta de seus sujeitos-compositores, alta classe média carioca, falando de... amor! Já o Móveis, faz crítica, leve e jovial, fala das excentricidades da vida do homem contemporâneo, também da classe média, de maneira descontraída. Discute política, modismos, sociedade, pelo menos ao primeiro álbum, fortemente.

Quando muito, Los Hermanos tinha certas influências do Ska, mas e daí? Assim como tinha influências do Reggae. Não era Ska. Móveis é.

Mas demorei pra entender como no pensamento coletivo os dois grupos guardavam semelhanças, a ponto de serem relacionados numa mesma frase feito "Ah, eu gosto de Los Hermanos, Móveis, essas coisas..." Mesmo a imprensa não-especializada os comparava, como que de maneira burra, quando na verdade eles enxergavam inconscientemente o que poucos críticos devem ter percebido a tempo. Eu entendia a questão que os ligava, isoladamente, não de maneira evidente, associando o fato que a envolve a semelhança entre as duas bandas. A questão, é bem simples: Quem ouve Móveis hoje, ouvia Los Hermanos ontem.

E é justamente isto, afinal eles tocam para a classe média. O que é genial, comercialmente falando, considerando que a média é nossa maior classe e tem um poder aquisitivo altíssimo, pensando no corpo da massa. Mas, enfim, não é porque eles se parecem, diretamente, que a classe média os ouve. Mesmo indiretamente a relação não é tão óbvia. O que acontece é que a maneira como eles se comunicam, a linguagem, é construída a este público. No final, eles estão conversando com seus pares, claro.

Antes, quando falavamos em MPB universitária, música cabeça, cabeção, queria-se dizer que ela agradava especificamente a este público. E o resto? O resto não sacava. Porque ali se tratava de temas de fora de seu cotidiano, usando de referências de fora de sua alçada, numa linguagem ligeiramente mais rebuscada, que não comunicava a todos. O mesmo acontece com Los Hermanos e Móveis Coloniais de Acaju. Com propostas diferentes, eles atingem um mesmo público, dotado de certa ecleticidade. No final, o Móveis se expropriou de um público orfão d´Los Hermanos, que já havia preparado a molecada para receber algo deste naipe. Talvez, algo mais interessante, inclusive. Feliz do Móveis, que não, não é igual Los Hermanos.

3 comentários:

Anônimo disse...

...fala assim deliberadamente de um grupo que deu uma guinada na música brasileira..pequena guinada mas influente. Os hermanos, dos quais nem sou fã, querendo ou não, colocaram uma estrela no céu. e M.C.A talvez mereçam também, mas se vc não acha nem parecido com os caras dos los hermanos, nem deveria citá-los, parecendo que os hermanos fossem quaisquerzinhos no mundo da música..eu heim..? depois reclamamos que o brasil não tem memória..

Vanderlei Reis disse...

O texto é claro. Não acredito que Los Hermanos e Móveis sejam tão parecidos em todos seus aspectos. Claro, em alguns, como disse, são muito parecidos. Quem faz a comparação dessa maneira estapafúrdia na verdade é a mídia, e por vezes, o público.
Contudo, em momento algum menospreza-se seja um, seja outro. Apenas se discute a estranha comparação sempre presente entre os dois.

Anônimo disse...

Vanderlei, você mostrou claramente que não conhece Los Hermanos pela forma que colocou que os mesmos falavam de amor. Falavam sim, mas tanto quanto o Móveis. Também faziam críticas. O texto se mostra parcial, e não só por esse detalhe. Imagino que essa tenha sido a proposta.