4º Festival Contato: Segunda!

A Segunda-Feira do 4º Contato, 10 de Outubro, evidenciava uma linha de atrações que se desarolaria a nossa frente voltada ao Rap. Lá estavam diferentes estilos, permeando o Hip-Hop em vários nomes e mesmo indo se mesclar ao Reggae no Dub do Baiana System ou na forma do repente no experimentalismo do Sol na Garganta do Futuro e no Rap Latino do Bomba Estéreo. Assim, o último dos dias de palco do festival permeava uma organização temática como os dois primeiros dias também faziam claramente - No primeiro dia, sábado, tinha-se uma linha voltada a grupos que exploravam regionalidades, gente da gente, enquanto o segundo dia, Domingo, era envolto em música do mundo, por assim dizer. Claro, não rotulando cada um destes dias, criava-se maior expectativa do público e permitia-se inserção de outras propostas no festival como um todo. 


Contudo, falando justamente de Hip-Hop, denunciar a proposta escancarando o tema no material de divulgação poderia alavancar um certo preconceito que existe sempre ao gênero. De todo modo, esta valoração do gênero no festival Contato demorou a acontecer, pensando na grande movimentação de grupos no âmbito nacional e na própria cidade de São Carlos, que tem um sem número de grupos atuando e mesmo um festival dedicado, o Sanca Hip-Hop. Uma das poucas manifestações aconteceu na segunda edição do Contato em 2008, com a apresentação do Zero16 ainda na sua primeira formação com instrumentos da cozinha do rock, grupo sancarlense com proposta bastante inovadora  surgido anos antes, na Semana do Macaco. Nada mais válido que pontuar um dia todo deste festival dedicado ao Rap então.

E assim começaria a festa, com um grupo de Hip-Hop recém surgido em São Carlos, Sem Medo do Medo. Infelizmente não vimos a apresentação destes meninos do Jardim Gonzaga, mas não deve ser difícil trombarmos com eles novamente. 

E vindos da Bahia, como o próprio nome já sugere, o Baiana System apareceria naquele palco em São Carlos quando ainda era dia, trazendo a guitarra baiana em novos contextos. O instrumento, mais conhecido em cima de trios elétricos, é utilizado aqui com a proposta da exploração de novas possibilidades. Acompanhada de baixo, vocal e um DJ, tiram-na do seu ambiente natural, e a põem para dialogar com ritmos inusitados como o Dub. As músicas tocadas foram poucas mas longas,  proporcionando amplos espaços para improvisações. Apesar de trabalhar com estilos musicais já existentes e bem definidos, o Baiana System tem a sua originalidade justamente na mistura bem feita entre ritmos e instrumentos, e no de perceber o potencial ainda tão subexplorado da guitarra baiana.


Setlist Baiana System
1. Jah Jah Revolta; 2. Oxe Como Era Doce; 3. Ubarana Amaralina; 4. Barra Avenida; 5. Zui;

Subindo aos palcos do Contato já pela segunda vez, desta vez no palco principal, quem daria as caras agora era o pessoal do Sol na Garganta do Futuro. Em 2009, quando passaram por ali pela primeira vez pelo festival, fizeram as honras na cerimônia de abertura dentro da reitoria da UFSCar. A banda capixaba já tem dois álbuns lançados e naquela noite faziam um show comemorativo, do aniversário de seus dez anos de história. 

O grupo se apresentava com Hugo Reis à guitarra, violão e vocais, Murilo Esteves nos samples, Vinicius Fabio no contrabaixo e vocais, Caio Nunes na bateria e Fabricio Noronha nos vocais principais. Vocais estes que lançam mão do referido tema da noite, o Rap. Só que aqui, na sua forma mais brasileira, como que no repente nordestino, musicando poemas de diversos escritores e com poesias próprias. Ao invés do repente com ritmos nordestinos, como bem fazia o extinto Cordel do Fogo Encantado, Sol na Garganta do Futuro traz a poesia aliada a uma mescla de experimentos sonoros que perpassa variados estilos, do Funk ao Grunge. Fizeram uma boa apresentação, embandeirada por um "Não vamos deixar o José Serra ganhar a eleição!", alertando Noronha.


Setlist Sol na Garganta do Futuro
1. Lugar de Corpo; 2. Qualquer Silêncio; 3. Casa Tomada; 4. Devolve Meu Corpo em Casa; 5. Vinil Agarrado; 6. Das Pulsações; 7. Teoria; 8. Guitarra Outra Vez; 9. Máquina de Som; 10. Metáforas da Visão;

Seguindo a noite voltando ao Hip-Hop, teríamos outro grupo de São Carlos, numa boa política de incentivo às iniciativas locais. Subloco Coletividade, bastante conhecido daqueles que acompanham as noites pela cidade, representando justamente os diversos coletivos que culminariam na expressividade do Hip-Hop em São Carlos. Essa união já gerou até a primeira gravação, Subloco Coletividade Volume I: Idéias à deriva, disponível para download. Vinham com diversas vozes, Gaivota, Tiago, Sandro, Miguel, Marquinho, Lincoln e Ringo, acompanhados do DJ Scratch J. Com público cativo na cidade, atrairam um bom número de pessoas para a Praça Coronel Sales. Cantavam lá o já famoso Melô da Internet, que depois ainda teria o videoclipe que segue abaixo  exibido nos telões na Praça. Falando de um contexto bastante presente a cidade e mesmo ao Festival Contato, suas rimas acabavam contagiando mesmo aqueles que só prestigiavam o festival.


Na sequência teríamos Emicida, nome que vem se tornando grande nacionalmente, com o buxixo promovido pela sua mixtape Emicídio, amplamente divulgada pelo Fora do Eixo Discos. O show, com o Emicida na voz acompanhado de DJ, perde um pouco do impacto depois da apresentação do Subloco, mas é bem recebido pela platéia ali, todos amantes do Hip-Hop, com o Contato cedendo a esta vontade que este público de São Carlos manifesta, deixando um pouco de lado os ensejos universitários, que é que parece se resumir a cidade.


Encerrando não só a noite, mas o Festival Contato como um todo, ficava o espaço do palco do Contato aos colombianos do Bomba Estéreo. Era outro dos nomes que cruzaram o SWU Festival além do Contato, ao lado de The Twelves, que se apresentava lá no tal pista eletrônica Heineken Greenspace, e um dos grupos que tocou no Contato na festa de abertura na USP, junto da Patife Band e Leptospirose, o Black Drawing Chalks, que subia aos palcos principais em Itu representando o independente nacional junto de Macaco Bong, afora toda tenda Oi Novo Som, espaço dedicado a estes nomes, do dito alternativo. Bomba Estéreo se apresentava no SWU no domingo, dia 10 de Outubro, justamente neste espaço, ao lado de Otto, Tulipa Ruiz e Lucas Santtana. Aliás, lá no SWU, podia-se garantir que no Brasil os melhores técnicos de som estão trabalhando no independente, tamanha era a qualidade do som na tenda Oi.


O pessoal do PopLoad, Lúcio Ribeiro e cia., apontaram este colombianos com oo melhor show do segundo dia do SWU. No Contato, não poderia ser diferente. Apesar de não sacar de imediato a textura do Bomba Estéreo, o público estava lá presenciando o que seria o encerramento deste dia dedicado ao Rap. Trazendo-o esta linguagem em estranhas combinações, que não negavam os ritmos latinos como a Cumbia e a Salsa e sensivelmente se faziam camaleão com o Dub, o Rock. Com uma base centrada em samples do arquiteto do bem-bolado Simón Mejía e acompanhados pelo baixo de Julián Salazar a bateria de Kike Egurrola e a voz atirada de Liliana Saumet, completamente contagiante e politicamente engajada. Ainda pouco conhecidos no Brasil, invariavelmente faziam o público se contorcer e agitar ao som do inusitado ritmo criado, um belo fim para a data, um dos dias mais interessantes e bem recebidos pelo público neste 4º Contato.



Saiba mais sobre o Contato acessando a Cobertura Colaborativa do festival! E veja mais fotos do Contato no Picasa do Programa Bluga!. Veja também textos sobre o Sábado e Domingo desta edição do festival.  



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