Já faz um tempo que discutia com Marcelo Toyama o fenômeno Emo (Emocore?). Numa comparação com o Punk (Punk Rock!) focavamos os padrões de comportamento destes nichos e das comunidades em que estão inseridos. Deixávamos de lado a própria música a medida em que esta origem intrínseca perde sua importância frente ao importante reflexo social que percebemos no Punk e apontamos para o Emo. Contudo, não parece que esta última situação se concretizará. Não se mostra mais relevância ao Emo.
Nos primeiros anos do Punk, seja dentro do gênero Rock, seja na visão da sociedade, sua recepção era um grande choque. A proposta musical rompia com os formatos do mercado, propondo uma abertura em todos os sentidos. Os amantes do estilo transpuseram estes ensejos no seu cotidiano e daí, na construção de uma imagem própria: roupas rasgadas, piercings pelo corpo, cabelo moicano.
A força do movimento era tamanha que viria a influenciar fundamentalmente a música desde então, como se observaria desde a década de 1980. Sobremaneira, levaria a uma mudança da própria sociedade, familiarizando-a com o que parecia ser o absurdo de seus filhos. Os anos fariam com que todo aquele sentimento fosse incorporado pela própria sociedade que ele negava, diluindo-o. Teríamos o Punk, sem qualquer espanto na moda das grandes grifes ou ensinando a mídia e a indústria o faça-você-mesmo.
Acontece de aquele mesmo estranhamento inicial com o Punk na década de 1970 ressurgir nos anos 2000 com o Emo. Temática musical de difícil aceitação, refletindo comportamento e imagem descabidos para os padrões da época, a história do Punk caminhava para repetir-se sob novos trajes. Substituía-se o moicano pelas franjas cobrindo o rosto, os rasgos pelo colorido ofuscante impecável, a rebeldia inconformada pelo choro, conformado. Mas o choque e a negação por parte das famílias e todos os demais permaneciam os mesmos.
E então não seria difícil enxergar novamente a incorporação deste valores, com uma aceitação inconsciente e gradativa naturalização, porque estas manifestações estavam ali para ficar. Dali anos teríamos a pose e figurino desapercebidos no comportamento de toda a sociedade. Neste contexto, o novo paradigma teria sido de inflência e possivelmente importância para a construção da sociedade futura, dos anos 2010, 2020 e doravante.
Mas acontece de toda atenção dedicada ao Emo desaparecer da boca do povo. Não se fala mais do fenômeno na grande mídia, sequer se nutre o ódio que emenava em conversas e redes sociais. Simplesmente passou, assim como outras pequenas modas passaram. Os ciclos parecem se tornar mais rápidos, restritos as ditas tribos, subculturas. O mesmo tinha-se com o Gótico, de origem comum no Pós-Punk e pé no Heavy Metal, mas que não tinha a mesma evidância que o Emo. Persevera, lado a lado com outras figuras clichê, do metaleiro, do próprio punk.
Poderia-se dizer que apesar de My Chemical Romance, no mundo todo, e Fresno, no Brasil, terem emplacado uma série de hits, o Emo não teve relevância, frente a Beyoncé e Ivete Sangalo. Mas com o Punk Rock, o cenário era o mesmo, com vendagem muito inferior aos grandes da época, do Heavy Metal e do Hard Rock. Então os fatores que viravam o jogo não eram exatamente uma massa crítica, mas uma questão de contexto.
Podemos inferir daí duas possibilidades. Uma, onde há a relativização da inflência destes movimentos de pequena sublevação, deixando de atingir tão fortemente a sociedade como se tinha anteriormente. Outra possibilidade, que caminha atrelada de certa maneira a primeira, mostra que a sociedade atual passa a aceitação muito rapidamente. Assim, esta sociedade se arma facilmente contra novos rumos, destruindo suas causas na raiz, levando-os ao desuso. A sociedade protege-se mais do que nunca.
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