Semana passada, na Folha de São Paulo a propoganda era "Artistas, gravadoras e fãs falando a mesma letra". Esta semana, na Veja, "A Ordem das músicas altera, sim, o produto". Os anúncios falam da nova investida da Som Livre, maior distribuidora de discos do país, no campo do comércio de música online, o portal Escute.
Com diversos canais noticiando já previamente seu lançamento, não era difícil farejar seu surgimento. Mas boas leituras sobre o portal só surjem mais recentemente. Pedro Paranaguá, quem nos lançou mão da propaganda na Folha, faz boa análise do formato que a loja online do Escute apresenta, com forte uso do DRM e uma acessibilidade limitada. Contudo, ainda permanece pendente a crítica considerando o plano político recente.
Numa abordagem ainda bastante leviana, não é difícil compreender a preocupante mensagem vendida na campanha publicitária, amparada em falsas impressões. Fazendo uso da imagem do ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil, aproveitam-se dos apelos do mercado independente defendendo a democratização do acesso com preços baixos. Inclusive, falam indiretamente da até de uma remuneração verdadeira do trabalho dos artistas. Já com Luan Santana, ícone de uma nova geração de consumidores, apropriam-se também do discurso que dá dias contados para os formatos físicos na indústria da música, transparecendo uma contestável liberdade na compra de faixas online.
Todavia, o mais preocupante é denotar que nenhum momento poderia ser mais propício para o lançamento do portal do que quando se discute amplamente a reforma da Lei de Direitos Autorais no ministério de Ana de Holanda. Não é à toa que se dá aos governos brasileiros a administração imediatista, atendendo às pressões e não à verdadeiras melhorias. Em todas as propagandas, o Escute apela para um legalismo deste formato de venda ao vender a sensação de uma consciência tranquila do consumidor. Aqui, toda notícia sobre o Ministério da Cultura é propaganda para a indústria.
Uns poderiam dizer que ainda é uma aposta falha, atrelada a velhos formatos, último suspiro de uma indústria falida. Entretanto, mesmo se último suspiro, é um sopro forte que usa dos valores incutidos na população através da construção de uma ideologia contrária a esta mesma grande indústria. A prática de entrar na guerra com as mesmas armas de seus inimigos fica cada vez mais comum. Primeiro, foi o independente criando seu nicho de mercado, justamente como os grandes. Agora, são os grandes que se apoiam no novo, transformando-os em moda consumista.
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