Ensaio: Sabe o que todo festival deveria fazer?


Hoje deixamos mais uma vez de lado as resenhas de show para comentar sobre alguns dos demais aspectos da música. Ainda vamos falar de shows, do que tanto gostamos, tanto destes quanto de álbuns ao vivo. E vamos falar mais especificamente de festivais. E vale não só para festivais, mas também para casas de shows, produtores. E não cabe só à Música, serve muito bem ao Teatro, à Dança e afins.

Acredito que um dos fatores fundamentais para o sucesso de um festival seja a divulgação, não só prévia, mas também posterior ao evento.

Hoje existe um sem número de canais fazendo a cobertura destes festivais, desde a mídia televisiva, especialmente em programas especializados dentro da TV Cultura, MTV, Multishow e afins, até o grande propagador hoje, a internet, com blogs infinitos, como este que vos fala. O reflexo deste trabalho é ter uma próxima edição com maior presença de público e envolvidos com o cenário, por exemplo.

Contudo, estas ferramentas têm pouca penetração dentro do público efetivo, especialmente em se falando de música. Um texto, por mais bem escrito, conciso e informativo que seja, não é o mesmo que estar lá e ouvir o show! Um texto acaba apenas trazendo uma visão unilateral com comentários sempre usando de figuras de linguagem às vezes ridículas, já que é impossível transpor em palavras uma sonoridade, uma música, uma banda. E hoje, esses textos normalmente atingem principalmente o pessoal envolvido na cena, produtores, organizadores, crítica e os próprios músicos, sem chegar ao ouvinte em vias de fato.

O fator que todos, inclusive os próprios artistas, parecem ter se esquecido ultimamente é quão fundamental para a repercussão de um evento é levar ao público o seu show. E isso, não falando em excursionar por trocentas cidades, mais de uma vez no ano, mas sim em levar o show diretamente a casa do ouvinte. Como? Ora, a resposta é mais que evidente: um ao vivo. E, voltando aos festivais, é necessário que um festival disponibilize sempre para seus artistas o áudio e/ou vídeo de suas apresentações tão logo acabada a apresentação, de modo que eles levem pra casa algo que possa ser aproveitado, com todos os direitos já cedidos a este, propiciando de imediato lançar um álbum em um formato qualquer, seja físico, seja virtual.

Nisso, surgiriam com certeza mais e mais ao vivos por aí, levando a frente o nome do Festival pelas mãos dos próprios músicos, quando produtores e organizadores não tomarem a frente e o fizerem. Até mesmo uma coletânea com o ao vivo das faixas das diversas bandas que rolam em um festival já seria algo!

Que isto significa? Além de o próprio artista sair contente com o registro de quem sabe uma épica apresentação, ao disponibilizar isto ao fã, a própria casa de eventos e principalmente o festival acabam tendo seu nome elevado.

Outro dia destes lia a biografia de André Midani, figura por trás da indústria fonográfica no Brasil, em muito responsável por grandes nomes de nossa Bossa e MPB. Lá ele nos comenta do absurdo número de gravações ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, afirmando que com certeza a fama deste festival se fez com base nos álbuns ao vivo ali lançados.

Isso vai imediatamente de encontro ao aqui dito. Se o bom ouvinte fizer um simples exercício mental, que grandes Festivais de duas, três décadas atrás vêm a mente? California Jam? Woodstock? Estes, especialmente pelos registros em vídeo. E o os mais famosos álbuns ao vivo, onde foram gravados? Carnegie Hall, Budokan, Wembley, Royal Albert Hall, entre tantos outros que vem a memória. Todos conhecem ao menos um nome.

Hoje, como sempre, há uma série de festivais todos os anos. Muitos deles levando o nome de grandes corporações, feito o Tim Festival, outros produzidos por coletivos independentes, feito Festival Goma, Goiânia Noise Festival, Bananada, nossos Festival Contato, Festival de Calouros da UFSCar, Festival Rock na Estação, FeBICA, outros de produtores, feito Porão do Rock, Abril Pro Rock, João Rock, algumas iniciativas de Secretarias de Cultura, seja estadual, municipal, feito a Virada Cultural, Araraquara Rock e até festivais que tomam vários grupos, acontecendo em várias cidades ao mesmo tempo, feito o Grito Rock ou a Virada Paulista. Destes, esperta é a Tim, que comprou o nome do Free Jazz Festival, antes ainda Coll Jazz Festival.

Tomemos um destes festivais, com sua dúzia de atrações, liberando as gravações para estes doze artistas, cedendo todos os direitos. Se um ou dois desses, a cada edição, acabam lançando um álbum, CD, ou, melhor ainda, um DVD, quem ganha, além do artista com mais material para seu público, é o próprio festival. Tomando por exemplo o sancarlense Contato, se ele pegasse um sujeito feito Curumin e dispusesse seu material para lançar um álbum, nem que fosse virtual, independente, era o nome do festival em todo o Brasil, para um sem número de fãs. Teria sido uma manobra de gênio. E nem vou comentar se o mesmo fosse feito com um Mudhoney, praticamente a nível global. A repercussão seria estrondosa, em trocentos canais, direta ao público, o qual de público do artista vira público do festival automaticamente e sem grande esforço.

Nem que seja para criar um bootleg, uma gravação ao vivo, não oficial, às vezes não autorizada. Que ela fique no ar por pouco tempo, tanto melhor, se for de boa qualidade, torna-se um bootleg raro, famoso entre os colecionadores então. Aliás, um texto que deveria estar aqui falando de bootlegs é ESTE. Ou quem sabe este texto é que não deveria estar aqui, mas se você já o leu, azar.

Claro que já existe uma divulgação destas gravações, seja em canais do YouTube dos próprios organizadores, produtores e artistas, seja pela platéia e mesmo transmissões radiofônicas, online. É um primeiro passo, mas garanto que haveria uma necessidade da geração Ipod em possuir uma gravação na íntegra de seus artistas preferidos, feito os colecionadores de bootlegs e suas fitas cassete séculos atrás.

Mesmo aqui no blog já publicamos bootlegs, como as gravações ao vivo do show do Móveis Coloniais de Acaju no CAASO, ou os Stranhos Azuis em sessão nos estúdios da Rádio UFSCar. Claro, se eu fosse os caras, disponibilizaria isso massivamente, afinal é um puta registro. E temos ainda, o programa #100 do Ummagumma, com a transmissão do Violeta de Outono, que não deixa de ser um bootleg, só outro formato, o bootleg tirado de rádios. Enfim, aproveitar desse material depende de várias partes. Aqui, estamos aproveitando tanto enquanto fãs como enquanto promulgadores amantes da música. E eu não diria que lançar infinitos discos ao vivo seja ruim. Vide Purple, Hendrix, com discografias, mesmo as oficiais, falando apenas dos aos vivos, quase impossíveis de possuir.

No final, isto não é um conselho, é praticamente um pedido, para incentivar todas as bandas que gostamos. E afinal sempre é legal guardar e degustar dos shows em que você esteve. Lembrando de quantas vezes pedi gravações do Contato, que existem e nunca foram disponibilizadas.

Quem sabe nos reste comprar um MD, um Iriver parrudo, e microfones binaurais pra sair fazendo bootlegs nossos por aí. Então ajudamos indiretamente a divulgar mais e mais a música, com música.

Ah, mas antes, dê uma olhadela neste link AQUI, vai.

4 comentários:

Rodrigo Andreiuk disse...

muito bom o link do final!

Vanderlei Reis disse...

É, não é?

Eis onde achar algumas coisas interessantíssimas também:
http://www.somaovivo.mus.br/

Nilo Mortara disse...

Ptz,
lembrei daquela iniciativa do grateful dead (hoje so dead) que uns tempos atraz vendia o CD dos shows no final dos mesmos. (deu pra entender??)

Vanderlei Reis disse...

É, essa seria uma iniciativa do caralho! Já pensou se todo mundo fizesse dessas?!

E, de quebra, centenas de bootlegs: http://vivalesbootlegs.blogspot.com/