Chegar à Praça do Mercado no 11 de Outubro aqui em São Carlos trazia à tona toda a expectativa cultivada nas semanas anteriores. Finalmente era hora dos shows do Festival Contato, então em sua segunda edição. Vinha a memória o espetacular festival do ano passado, que gerou os primeiros estalos que levariam a iniciativa deste blog tempos depois.
Nos primeiros passos debaixo de um calor infernal que acometia a cidade, pelas 15h30, avistava-se de cara Curumin, passando o som no que viríamos a chamar de Palco 2. Mais tarde descobriríamos a necessidade deste cuidado, quando ninguém mais o fazia, já que ele seria um dos poucos “grandes” a tocar ali, enquanto os outros estariam no Palco 1, principal, notadamente de equipamento que soava melhor.
Abertura do Festival: MALDITAS OVELHAS!
E ficamos na ansiedade aumentando, já que apenas muito mais tarde começaria a primeira apresentação em si, às 16h45 com o Malditas Ovelhas!, a banda araraquarense sempre-presente nos últimos eventos, prova de sua qualidade. Sendo os primeiros a pisarem no palco, vieram também os primeiros problemas. Na faixa de abertura, Dancing in the night, saía o áudio apenas nas caixas da esquerda, exigindo que a mesa matasse o som como um todo para o público por dois ou três segundos para normalizar a situação. Mas nada que comprometesse o show, e os moleques tiraram de letra. Seguindo seu som instrumental, Esqueleta, marcada pela incursão do soprofone na faixa conhecida apenas ao vivo, sem gravações em estúdio. Tocaram ainda Perseguida, Faca de Matar Cisne e finalizaram com Odi(o) ao viajante, com todos os integrantes da banda atacando o set de bateria juntos.
Ao término dos trinta-minutos-de-cada da primeira banda, a multidão migra para o Palco 1, sentindo o impacto real de um grande festival, com múltiplos palcos. Ali, dois palcos confrontando-se, como havia acontecido na edição passada na estação. Embora sem a mística do trem correndo ao lado, ao menos não havia limites teóricos de lotação e acabava-se atingindo público maior, atraídos pela movimentação, invadindo a cidade.
Segundos Caras: CÉREBRO ELETRÔNICO
Já no palco, enfeitado a serpentinas por todos os lados, Cérebro Eletrônico. A banda paulistana mostraria muito bom humor no meio da batida eletrônica do ausente Dudu Tsuda, com a bateria de Gustavo Souza, guitarra de Fernando Maranho e baixo com Izidoro Cobra, os dois últimos acompanhando a voz de Tatá Aeroplano nos corais que tanto marcam o som da banca. Estes mesmos sujeitos já haviam participado do 1º Festival Contato, encarnados na banda-mãe Jumbo Elektro.
Abriram com Dominó Tecnológico, com os versos rápidos de Tatá, que ainda solta um "Boa Tarde São Carlos! Pode chegar mais para frente, tem um buraco aqui". Via de regra as pessoas ainda não entendem o conceito do Festival e horas depois do horário programado, o público ainda não havia atingido seu pico.
Antes eu tivesse escolhido viver só com minha guitarra seria a próxima e divertidíssima faixa que animaria o fim de tarde com direito a pôr do Sol. “Uoh, uoh, uoh, uoh!” e canudos lança-confete disparados pelos músicos dão o toque final. Nesse mesmo clima de festa, tocam Pareço Moderno, Dê, com Tatá posando (e tocando?) os instrumentos de brinquedo e Bem mais Bin que o Bush. Mudando um pouco a toada, trouxeram Sérgio Sampaio, entrando com um quê de Caetano, na baladinha leve.
Próxima faixa de destaque, Os Astronautas com os comentários da voz macabra do fim da faixa de estúdio servindo de abertura, seguindo em psicodelias a parte. Fecham o show com a faixa Desquite, que estará em seu próximo disco já sendo produzido, Deus e o Diabo no liquidificador. Para quem quiser conferir os que são esses caras de fenômeno originalíssimo em vivo, eles tocam no SESC de Araraquara dia 21 de Novembro.
Terceira Galera: PLANO PRÓXIMO
E novamente a Nação Bluga esteve presente em uma apresentação dos conterrâneos Plano Próximo. Com Carol Tokuyo no vocal, Gustavo Koshikumo na guitarra e sintetizador, Ian Mazzeu na guitarra, Rachel Benze no baixo e Daniel Roviriero na bateria.
Já haviam participado da primeira edição do Contato, onde conhecemos a banda em si, e ali no palco 2 fizeram uma apresentação com novos elementos, alguns rearranjos das faixas, quiçá especialmente para a ocasião. Abriram com Nada demais, de introdução mais longa e sensivelmente mais pesada que a conhecida de outros shows. Prosseguiram com a empolgante Doce Vida, seguindo-se Ou Não, Pior que porrada, Só queria conhecer, Você tem que se mexer e TPM song. Destaque para esta última, onde os trejeitos da lead singer sempre completam o som de uma maneira interessante. Finalizando a apresentação (ou)vimos Vou capotar, Nervosa, finalizando com Até quebrar a certa. O vocal esgarçado da Carol nestas últimas são definitivamente como “a cereja do bolo” do Plano Próximo.Junto deste finzinho de show, vinham os primeiros pingos mais ameaçadores da chuva que estávamos antevendo.
Quartos Caras: GUIZADO
Correndo mais uma vez para o Palco 1, era a vez do Guizado subir aos palcos. Com o frontman Guilherme Mendonça no trompete e samples, muito bem acompanhado de quem também daria as caras no seu próprio trabalho dali a pouco, Curumin, na bateria, Rian Batista no baixo e Regis Damasceno na guitarra.
O cair da noite ali, já naquele lusco-fusco, propiciava o início de projeções visando a tal Recombinação, nas paredes do mercado, numa idéia que teria sido genial, não fosse a chuva que cairia.
Guizado veio com as faixas Colorido e Miragem, dando o tom excepcional que transcorreria sua apresentação. Os pingos que caiam ali faziam a equipe de som contratada aperceber-se que ia chover MESMO, e correndo para cobrir as caixas com grandes lonas pretas preparadas de antemão, não comprometendo o show.
Continuava com Areias, mais uma não identificada pelo pessoal aqui, de nível altamente fodástico também, obviamente. A chuva chega em definitivo, mas o som era tão foda que leva-se um bom tempo pra se percebê-la. Pulam os primeiros guarda-chuvas, enquanto a massa se espreme debaixo das tendas do Contato e do próprio toldo do Mercadão. Alguns poucos extasiados ao som, ficam de baixo da chuva, na fritação, o que inclui a equiparagem aqui inclusive! Guizado, não pára, empolgadíssimo, na mesma freqüência que sua platéia, firme e forte. Fecharia seu excerto no festival com Vermelho, Maya e Rinkisha, propriciando uma das melhores apresentações do Contato e definitivamente a que mais empolgou-nos no dia, em seu estilo único mesclando o jazz do trompete aliado a batida eletrônica.
Quinta Multidão: ZERO16 & GANJA GROOVE
Ainda em meio a muita água – poças, pingos e pisante também encharcado –retornamos ao palco “menor” para conferir a performance do Ganja Groove e Zero 16, também grupos da cidade. Ao contrário do que se parecia sugerir a apresentação teve dois blocos aparentemente. Como falta para lado de cá conhecimento sobre o Hip-hop e Rap, e mesmo do Reggae, vamos nos ater apenas as impressões deixadas.
Começou a brincadeira com o pessoal do Ganja Groove repenteando de improviso sobre o momento, de chuva, claro. Com o pique do Groove e no embalo da Ganja a galera mantinha o ânimo e se embalava ao som do grupo, alguns e algumas já nem ligando para a chuva e o vento que fazia os menos preparados tremerem.
Na seqüência entraram os (três?) caras do Zero 16, com um Rap de atitude e também qualidade, com faixas interessantes tanto pela musicalidade, em sua puxada do Funk “do bom” com rap, quanto pelas letras. Vale um destaque para as roupas dos rapazes, do mesmo naipe dos Rappers americanos.
Com a chuva apertando, inviabilizou-se o show do pessoal do Porcas Borboletas. Entretanto, eles não ficariam de fora da festa e tocariam mais além no Armazém Bar na segunda noitada programada pelo pessoal do Independência ou Marte, tocando ao lado da banda Aeromoças e Tenistas Russas.
Sextos Caras: CURUMIN
Subindo aos palcos do dia pela segunda vez, depois de brilhar junto com o Guizado, agora mostrando seu trabalho solo vinha Luciano Nakata Albuquerque, o Curumin. Já que era o último a subir àquele palco, o pequeno garoto tomou a liberdade de prostrar seu set de bateria na linha de frente, junto ao baixo de Lucas Martins e o MPC de Marcelo Effori, colocando-se em foco imediato. Nada mais justo, já que seu enquanto puta baterista ainda se faz de vocalista ao mesmo tempo.
Abria seu show com Everybody loves the sunshine, de Roy Ayers, fazendo toda a ironia, já que, se é que o leitor ainda não notou, chovia. Ou ao menos garoava, vá lá. Curumin soltou “Todo mundo ama o sol aqui, não é não, São Carlos?”. Claro que ama, Curumin, claro. Na seqüência, Mal Star Card e JapaSamba emendada a Negro Drama, num dos vários pequenos medleys que nos fizeram esquecer exatamente em que momento faixas como Caixa Preta e Magrela foram tocadas.
Estranhamente, na sua meia hora deixaram rolar um intervalo com som mecânico: Nina Simone, do gosto pessoal de Curumin, cantando Ballad Of Hollis Brown de Bob Dylan. Voltaram com Mistério Stereo, Salto no vácuo com Joelhada servindo de introdução para Kyoto, como bem diz o garoto “Tô ligado que sempre rola aqui na Rádio”, enquanto o pessoal ainda encharcado extravasava mais uma vez ali. Trazendo “Agora, a música do Contato”, veio Compacto, pra depois Curumin mostrar os porquês do multi-instrumentista, indo para um cavaquinho elétrico com cara de guitarra do Guitar Hero e Marcelo tomar seu lugar na bateria para encerrar seu show, na diferente mescla de estilos, dando nova visão ao pop.
Encerramento: Jards Macalé
Finalizando a noite, ainda sobre fino chuvisco, viria o maldito (antes de mais nada, daqueles da MPB, feito Tom Zé) Jards Macalé. Escolha acertada ou não, foi um grande show saindo-se bem em meio à platéia Rock. Escrevemos com exclusividade resenha faixa a faixa para a RUA, Revista Universitária de Audiovisual. Saindo a publicação, colocaremos links aqui.
Ainda, mais fotos de nosso fotógrafo de renome internacional, podem ser vistas em nossa conta do Picasa AQUI. E já está pra sair a cobertura sobre o domingo de shows, aguardem!
Texto: Marcelo Toyama e Vanderlei Filho
Fotos: Vincent de Almeida
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