Cobertura: Festival de Calouros da UFSCar - BNegão e Os Seletores da Frequência



Organizado pela Rádio UFSCar em parceria com a Pró-Reitoria de Graduação da universidade, o Festival de Calouros da UFSCar começava às 16h de quinta-feira, 4 de Junho, na Praça do Mercado em São Carlos, com atrações musicais, teatrais, vídeos, danças e pinturas, que traziam mandatoriamente ao menos um artista do primeiro ano da UFSCar envolvido no trabalho. E, ao final, BNegão e Os Seletores da Freqüência como atração principal este ano.

Quando no ano passado trouxemos AQUI algumas notas tiradas da 2ª edição do Festival, cobrindo a primeira apresentação do Móveis Coloniais de Acaju pela cidade, já imaginávamos que a ocasião iria fazer história no calendário musical da cidade.

Contudo, há uma diferença fundamental entre o de Calouros e os demais festivais da cidade. Um festival como o Rock na Estação, tem todas as suas bandas como atrações principais. No Escuta Essa ou no FeBICA, elas ainda por cima competem entre si. Mesmo no Contato, onde até há uma atração um degrau maior ao final dos shows, todos são expoentes falando nacionalmente.

Já no Festival de Calouros, ao escalar um grande nome sempre, primeiro Teatro Mágico (se é que se pode chamar de grande), depois Móveis e agora BNegão, cria-se uma disparidade monstruosa entre este e o material apresentado pelos então calouros, bixos. Isto, mais do que nunca, é refletido na ridícula presença de público durante as primeiras atrações da noite, justamente quem dá nome ao festival, os primeiranistas. Parece mesmo que extra-oficialmente o horário para começar a festa e às 20h30, com as pessoas fazendo contas, afinal se obrigatoriamente as atividades na Praça do Mercado devem se encerrar às 22h e o BNegão deve tocar no máximo uma hora e meia, este é o horário pra chegar. Chega a ser vergonhoso. Mais uma vez, falando do nome da noite, festival, DE CALOUROS, o público deveria também prestigiá-los. Claro que este ano não tínhamos nem um já finado Javali Underground pra nos surpreender, mas ainda assim prestigiar a todos é o mínimo que se espera de uma audiência. Não havia ali, até perto das 20h, cem pessoas, sendo metade, da organização, enquanto que no auge do BNegão provavelmente 500 pessoas lotavam a frente do palco. E a desculpa de que era uma noite fria só surtia efeito até pouco antes do BNegão, afinal.

Feitos estes comentários, vamos ao festival em si. Nossa equiparagem, também vergonhosamente, não chegou às 16h, mas apenas às 18h. Soubemos de segunda mão que já havia rolado a esta altura duas bandas, Ninguém vai tocar e Ben Affleck, ambas incursionado por covers. A esta altura se iniciava uma encenação teatral, instigadora, de um grupo nomeado Corpo de Rua, ali mesmo, no chão da Praça.

Já para a primeira apresentação que víamos subindo ao palco, um chorinho do grupo Vagalume. Com dois violões, pandeiro e clarinete, executaram nos seus vinte minutos cedidos uma boa seleção de Pixinguinha, com direito mesmo a um Abel Ferreira, com Chorando Baixinho. E reza a lenda que faltava ali um quinto integrante, uma flautista, que batizou a banda. Pela qualidade dos garotos, provavelmente iremos trombar com eles por aí.

E na seqüência, uma pequena surpresa: O único vídeo-clipe de uma banda queridíssima nossa, DonaZica, com a faixa Nua e Crua sendo transmitido no telão do palco principal. Dirigido, nada mais propositado, já que é justamente uma faixa com participação de BNegão na faixa, do álbum de 2005 da banda, Filme Brasileiro. Claro, aqui a desculpa era um calouro do curso de Pedagogia, supostamente Ricardo Vieira, responsável pela edição do clipe, que pode ser visto abaixo. Válido, válido e necessário.



E noutra incursão no chão da praça, enquanto preparava-se o equipamento da próxima banda no palco, era a vez da apresentação circense de um pessoal que está sempre se reunindo pela chamada Praça da XV fazendo malabares e outras estripulias, aparecendo em um e outro evento. Ali chamados Los Boludos, tiveram seus minutos, com direito até mesmo a monociclo.

E praticamente como que abrindo para o BNegão, já que traziam uma produção mais caprichada, tocando ali seus quarenta minutos, bem mais que as demais da noite, vinha a banda Krakatoa Reggae, de Araraquara. Acompanhavam o calouro e baterista Hugo Gorla, os gêmeos Vitor Gorla e Davi Gorla, na guitarra e contra-baixo, Rick nos vocais e Ras Tabeça na percussão. Com alguns anos tocando pela região e lançando um álbum até o fim de junho, fazem uma proposta praticamente vale-tudo, daquelas bandas típicas de balada. No setlist da noite apresentaram algumas faixas próprias, como a homônima Krakatoa Reggae, alguns arranjos por muito reggeados de Jorge Ben Jor, como Mas Que Nada e Umbabarauma, até mesmo um Chico Science, com Manguetown e, como não poderia deixar de ser, Bob Marley, com Exodus e Get Up Stand Up.

E, já tradicionalmente antes de subir ao palco o grande nome da noite, surgia à bateria da UFSCar para tocar, ou tentar, algumas coisa ali. Esperemos que aqueles ali sejam apenas o calouros, porque foi sofrível, de fato. Felizmente, curto! Agora, se houve outra reclamação na noite, foi o volume excessivo do som ali na praça, que pareceu incomodar muitos da platéia. Isto atrapalhou em muito as bandas de calouros, que obviamente não passaram som algum, simplesmente entravam tocando. Felizmente para o BNegão houve um acerto do PA, claro.

Como previsto, às 20h35 subia ao palco um sujeito corpulento, imponente, BNegão, acompanhado de seus Seletores de Freqüência, que colocaria força no palco e contaminaria a galera. Mesmo em vinhas de lançar um novo álbum, ainda apresentavam muito de seu já velho trabalho-debute, Enxugando o Gelo, lançado em 2003, que em certos aspectos é um marco dentro da música independente brasileira, quando naquela época já disponibilizava o álbum para download na íntegra.

Famoso junto ao Planet Hemp, se é um homem do Rap, BNegão compreende muito bem a música brasileira e do mundo, aplicando em seu trabalho sonoridades diversas, realmente: do Funk Carioca ao Blues do Mississipi; do Reggae ao Samba; do Dub ao Rock; do Jazz ao Hip-Hop, da Bossa ao Hardcore. Isto claro é fruto de uma produção e estudo que busca criar álbum que apesar de ter uma linha-guia, tem muitos ramos, com guitarras beirando até o manguebeat de Maquinado e trompetes e samples lembrando Guizado, servindo ao público já estabelecido que o ouvia no Planet Hemp e devidamente conquistando novo público, chegando a novas rádios, a alta mídia. É quase engraçado como o independente se torna mainstream e há popularização, senão comercialização dos ímpetos mais transgressores da sociedade, ouvidos por todas as classes, banalizado.

E justamente como seu álbum, era o público que o assistia. Embora centrado nos universitários, uma platéia heterogênea, que de fato conhecia seu trabalho, estava lá. Também pudera, cinco anos do álbum lançado e uns bons três anos excursionando com os Seletores. E os Seletores são cariocas, Pedro Seletor no trompete, voz e guitarra, Fabiano Moreno na guitarra, cavaquinho e Voz, Robson Vinttage na Bateria, e Kalunga no Baixo. BNegão, além da voz e linha de frente, vem a guitarra em um faixa ou outra também. O show de fato é forte, muito bem levado, criando vínculos fortes com a platéia, intimando ela a se mexer, espantando o frio que caia sobre São Carlos naquela semana.

Rolaram no setlist praticamente todas as faixas de álbum de 2003, com pontos altos em Prioridades, no seu refrão na boca de todos, "Priorize as Prioridades", e V.V, rap-samba onde Moreno ataca no cavaquinho e Pedro na guitarra. BNegão também mostrava algumas cartas para o próximo, que sai neste segundo semestre, como Juju, Reação e Proceder/Caminhar. Ainda traziam arranjos para Jorge Ben Jor, finalmente bem contemplado na noite depois do que o pessoal do Krakatoa havia feito, justamente no meio da faixa nova Juju, com trechos de África Brasil (Zumbi), do álbum África Brasil, de 1976. De Jorge, aparentemente muito admirado por BNegão, também tinham programado Hermes Trimegisto Escreveu, do mesmo álbum. Desta saiu um vídeo em Sorocaba, que segue abaixo! Outro arranjo que embalou o povo ali na Praça do Mercado era o Reggae, finalmente bem conduzido, com I Chase the Devil, do jamaicano Max Romeo.

01. A Palavra; 02. (Funk) Até o Caroço; 03. Nova Visão; 04. Prioridades; 05. Reação; 06. Proceder/Caminhar; 07. V.V; 08. Dorobo; 09. Seletores de Freqüência; 10. I Chase Tha Devil; 11. Hermes Trismegisto; 12. Juju; 13. O Processo; 14. Qual é o seu nome?; 15. A Verdadeira Dança do Patinho;

BIS 1
Enxugando o Gelo; Pass The Peas; Beatbox+Trumpets; (Funk) Até o Caroço (versão tocada em Brasília);

BIS 2
Beatbox+trumpets; Imunização Racional;

Vale comentar que ao chegar em Dança do Patinho, iam indo às 22h, "e em teoria o show se encerrava por aqui...". Mas atendendo a pedidos, no bis estes foram contemplados com a faixa homônima ao álbum, Enxugando o Gelo, mais Pass The Peas, de Maceo Parker, incursionando pelo Soul e Jazz do americano. Brincariam ainda com um beatbox de BNegão mais o trompete de Pedro Seletor, seguido por uma uma outra versão de (Funk) Até o Caroço, até então só tocada em Brasília. Eles voltariam instantes depois para um segundo bis, novamente com o lance do beatbox e trompete, pra emendar um Tim Maia, com Imunização Racional, do álbum Tim Maia Racional Volume 2.

BNegão é um monge-shaolin-negro, que saúda marcialmente a platéia como quem venera seus companheiros numa luta contra inimigos quase invisíveis. Sua crítica política é descarada em faixas como A Verdadeira Dança do Patinho, que como muito bem dito pela figura "É o reflexo terceiro-mundista do brasileiro, que nasce bebendo e dançando (...) E no momento em que o índio aceitou o primeiro espelhinho português o som que se ouviu no horizonte foi quén-quén-quén", como um patinho, de fato.



Um dos aspectos interessantes desta edição do Festival foi uma iniciativa dos calouros do curso de Imagem e Som, trabalhando na noite, por trás das atrações, fazendo uma cobertura dos eventos. Estavam lá todos trajando preto com uma camiseta com os dizeres PISCAR, sigla nos remete a Produção Independente de São Carlos, senão uma Pixar, não é? Contudo, vamos ver ainda se sai algum material em áudio, vídeo, fotos e afins dali. Já dissemos uma vez por aqui, nem o Contato finaliza tanto quando captura, o que é uma lástima.

E outro lance bacanudo da edição deste ano foi a realização do Festival não apenas em São Carlos, mas também em Sorocaba. Com um estranho Campus da Universidade Federal de SÃO CARLOS nesta cidade vizinha, também aconteceram por lá apresentações dos calouros, finalizando com o BNegão. De lá temos apenas o vídeo do BNegão, por hora. Alguém esteve por lá pra nos contar como foi?

Só nos resta a dúvida sobre o que aconteceu com a edição que se passaria em Araras, outro Campus da UFSCar. Será real o boato de que ela não foi levada a cabo pela escolha da curadoria do evento recair em um membro do Planet Hemp? Que pensamento...

Ademais, mais um ensaio de fotos da noite, AQUI, no nosso Picasa!


Fotos: Vincent de Almeida

2 comentários:

eduardo disse...

ótima cobertura!

vale lembrar que a versão tocada em brasília da música 'funk até o caroço' é a mistura desa música com o início de 'root down' dos beastie boys.

um abraço!

Vanderlei Reis disse...

Uh, sabia que sabia, só não sabia assobiar.

Está dada a referência. Valeu!