Cobertura: Noite do MACACO - Hidrogênio, Cumieira e Nuda!





Como já havíamos dito antes, a Noite do MACACO era planejada para servir de divulgação à 5ª Semana do MACACO, acontecendo na primeira Sexta-Feira em que tanto as aulas da USP de São carlos quanto da UFSCar teriam voltando, logo, aproveitando o máximo de público possível. Contudo, por conta da Gripe Suína, adiou-se o início das aulas, mas não a Noite do MACACO, já que tudo estava armado. Divulgação toda feita, apesar dos pesares, foi uma noite onde nem de longe faltou público.

O MACACO - Movimento Artístico e Cultural do CAASO - já vinha tomando forma este ano, com a realização de duas noites culturais no primeiro semestre de 2009. A primeira delas se deu no 13 de Maio, suscitando a discussão sobre o Dia da Abolição da Escravatura no Brasil. Na ocasião, aconteceu a exibição do filme No Repique de Tambu: O Batuque de Umbigada, procurando valorizar a tradição dos escravos no interior do estado, e a apresentação de Hip-Hop do Subloco Coletividade. Outra noite, no dia 19 de Maio, houve o Palquinho Caipira no CAASO, com violeiros de São Carlos e Ribeirão e banda Pau-de-Arara, divulgando o Encontro Nacional de Violeiros que aconteceu em Maio em Ribeirão Preto, procurando trazer mais desta Cultura à São Carlos e nossa comunidade universitária. Ainda, houve um insight da Expo Stickers 2009 em São Carlos, em parceria com o Festival Contato.

As duas noites já referidas vinham trabalhando o que viria a ser a temática do MACACO deste ano: a Resistência e Independência Artístico-Culturais. Nesta mesma toada, vinha a noite de lançamento do MACACO, valorizando a produção independente em suas diferentes formas artísticas.

Abria a noite ali no CAASO, muito pontualmente de fato, o espetáculo de dança Hidrogênio, do Núcleo Trilhos da Cooperativa Paulista de Teatro. Como já dito em nossa postagem anunciando esta noite, a idéia do Núcleo Trilhos é criar um espetáculo em cima de uma composição sonora, usando, justamente, como trilha sonora. Aqui quem fazia o acompanhamento das meninas, nossas dançarinas, era Bocato, trombonista conhecido nosso de outras parcerias, como com Arrigo. Contudo, seu álbum de 2008 nos parece um tanto quanto raro e nos foi inédita a audição do mesmo, junto do espetáculo de dança. Mudava-se em muito o espaço habitual dos palquinhos do CAASO, deixando o amarelo-sujo de paredes e janelas e o cinzento do piso para a caixa preta onde aconteceria o espetáculo, dando um impacto visual tremendo aqueles que dali se aproximavam, curiosos pela apresentação sem saber exatamente que esperar.

Lara Dau Vieira, ex-aluna da USP de São Carlos, dirigia e atuava no espetáculo, acompanhada de Daniela Dini, Deborah Furquim e Xica Lisboa dançando, além da presença constante de Ricardo Fornara junto ao palco, que, tomando de um projetor junto ao corpo, evoluía junto das meninas lançando imagens contra telões e nas vestes das próprias meninas, criando um diferente espetáculo visual.

A temática do espetáculo, como era de se esperar, explorava o elemento Hidrogênio. De formas abstratas, a dança pouco revela diretamente e muito deixa a interpretação do espectador. Contudo, durante o debate sobre Arte, Ciência e Meio Ambiente junto do Prof. Dr. Antonio Aprigio Curvelo, do IQSC - Instituto de Química de São Carlos, Lara nos deixava algumas linhas a seguir nesta interpretação, destacando quatro grandes momentos ao longo do espetáculo: Num primeiro excerto, apresenta-se o Hidrogênio justamente enquanto elemento, gás, que disperso no meio, evoluindo em órbitas desconexas; Noutro, apresenta-se o Hidrogênio aprisionado aos corpos, às florestas, relevando a beleza daquelas formas e criando a consciência e senso de preservação ali necessários. Este momento do espetáculo culmina num grito desesperado junto a microfones dispostos num ponto tão alto, mas tão alto, que é impossível ouvir aquele grito, por mais forte que este fosse; Num terceiro momento, Vestes de papel junto ao corpo das dançarinas, que serviam de tela a projetar imagens de florestas e matas, são rasgadas, destroçadas, justamente como acontece àquele ambiente; E, por último, apresenta-se o cúmulo a que se chegou ao Hidrogênio, usado como arma, junto às bombas H, em imagens marcantes lançadas enquanto as dançarinas criam um clima frenético e desesperador.

Vale destacar que a vinda deste espetáculo para o CAASO, em especial para o MACACO, só foi possível pela iniciativa da própria Lara, que fez questão de se apresentar ali, naquele espaço por onde já havia circulado anos antes. E, claro, contando com um edital do ProAC, Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo. Mas, isso não vem ao caso.

Com este espetáculo que buscava o resgate das questões humanas, apresentando o Hidrogênio desde sua congeminação, dando forma a vida, até seu uso como arma de destruição em massa, fazia-se o lançamento temático do MACACO deste ano. Nada melhor para o meio que permeia o Campus da USP de São Carlos, na sua excelência enquanto Campus de Ciências Exatas, fazendo uma interessante ponte entre os dois mundos.

No intervalo, intervenções do Teatro Acaso, grupo de teatro do próprio Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira, CAASO, que ganha força e expressão na cidade, que viria a ser ponto forte e fundamental durante todo o MACACO.

Na sequência, teriamos a música instrumental do Cumieira, de Campinas. Todos músicos do curso do Instituto de Artes da UNICAMP, não era de se esperar muito menos de quem se propunha a executar Hermeto Pascoal. Com Maria Beraldo no clarinete, Fernando Seiji Sagawa no sax alto, e Lívia Nestrovski na voz, fazendo um trabalho de impressionante de naipe junto das palhetas, na linha de frente, acompanhados de Gustavo Santos na guitarra, Henrique Eisenmann no piano, Julio Melo no contrabaixo e Dhieego Andrade na bateria, o Cumieira fazia sua primeira apresentação após saírem de uma maratona dentro de estúdios.


Gravando o que virá a ser seu primeiro álbum cheio, com tiragem de 1.000 cópias conseguida junto ao Fundo de Investimento Cultural de Campinas (FICC), estavam ensaiadíssimos. Naquele mesmo dia, durante a tarde, botaram os pés dentro da Rádio UFSCar, fazendo uma transmissão independente e deixando embasbacados os que ali os assistiam ao vivo e com certeza a todos os ouvintes.

O título que aponta para este álbum vindouro, Festa da Cumieira, que trás também o nome do grupo, faz referência à própria tradição da festa da cumieira, prática feita em comunidades para comemorar o teto, cume, levantado, no mutirão de construção de um casa nova, antes mesmo de se pensar nas paredes da mesma. A Festa da Cumieira, citada em Águas de Março, de Tom Jobim, também entra nas referências ao nome do grupo, lembrando que a música está no repertório do grupo e virá, com arranjos desmistificadores, também no álbum que sai até Novembro.

Renderam também uma entrevista para o Programa Ecos de Tupak Amaro, com Lucas Ferreira, que foi veiculada no dia 22 de Agosto. Logo mais traremos tanto o áudio do Programa Ecos quanto as gravações ao vivo nos estúdios da Rádio, disponibilizando este material aos deuses e aos muitos mundos. Já é possível conferir um pouco de seu trabalho junto do MySpace da banda, mas com certeza a água na boca está pelo lançamento do álbum físico.

Naquela Noite do MACACO faziam a primeira apresentação pós-gravações, no que seria um pré-lançamento em São Carlos. Tocando com grande atraso, pela própria questão da organização do evento, atabalhoada em desmontar toda a estrutura da dança e receber a banda, entrariam após uma breve e insuficiente passagem de som às 00h40. Com uma ambiente lotado, passando as mil pessoas no palco aberto do CAASO, Cumieira bem sabe como conduzir a noite, deixando-se contagiar e tocando pela pura empolgação e prazer de fazê-lo.

No repertório da noite, composições de Hermeto Pascoal, centradas em seu último álbum, Mundo Verde Esperança, com arranjos tirados com muito suor. Renan, Taynara, Celso e Camila, são algumas das faixas deste trabalho, que serviu de base para a linha que o grupo seguiria, tomando emprestado o termo Música Universal, cunhado pelo multiinstrumentista. Vale lembrar que antes de se chamar Cumieira, o grupo tomava do nome banda Hermética, em referência ao mestre.

Além disso, regavam composições próprias, já deixando sua marca, além de Águas de Março e Outra Coisa, de Mário Campos, outro dos muitos professores que cruzaram o caminho do grupo. Tocariam ali algumas inéditas aos shows, compostas especificamente para as gravações. Segue o setlist do show abaixo.

Setlist Cumieira:
01. Renan (aka Poré Poré) (Hermeto Pascoal); 02. Quando todos se encontram (Fernando Seiji Sagawa); 03. Taynara (Hermeto Pascoal) 04. Chorinho em Gotham City (Henrique Eisenmann); 05. Nada é o que parece ser (Gustavo Santos); 06. Outra Coisa (Mário Campos); 07. Caubói (Henrique Eisenmann); 08. Celso (Hermeto Pascoal); 09. Camila (Hermeto Pascoal); 10. Águas de Março (Tom Jobim);
BIS
01. Viva o Rio de Janeiro (Hermeto Pascoal);

Esperemos, contudo, que estes camaradas aportem por terras sancarlenses novamente, muito quem sabe dentro de um Música na Cidade, num Florestan Fernandes, espaço que bem merece para a completa apreciação da apresentação.

Já no adiantado da noite, passado o auge da turba, com um público reduzido, mas ainda carregado de energia, subia ao palco já muito depois das duas o pessoal da Nuda.

Vindos de Recife, Pernambuco, a banda atravessava uma pequena turnê pelo estado, acompanhados do pessoal do Massa Coletiva e Independência ou Marte, que fizeram mais uma vez um pequeno lobby para trazê-los acá ao MACACO, no CAASO. Aliás, Independência ou Marte que garantiu a discotecagem radiofônica nos intervalos de banda e ao final da noite, instigando alguns ali a se questionarem a respeito de que raios era aquilo, pouco usual, que tocavam.


Nuda, composta por Arthur Dossa, Henrique Caçapa, Raphiro, Roberto Scalia e Judá, em duas guitarras, baixo, bateria e percussão, apresentavam um Rock Experimental único, que em nada se parece com outro trabalho, com alguma forte influência de nossa MPB e em especial de uma Tropicália, com um pé nos ritmos regionais.

Fizeram um show forte, centrado no seu trabalho autoral, com faixas que estão em seu EP, Menos Cor, Mais Quem, e singles, além de uma série de inéditas, ainda por registrar em estúdio. Confira o setlist abaixo.

Setlist Nuda:
01. A Pedra; 02. Maruimstad; 03. Toque pra calhetas; 04. É de manhã; 05. Pisa; 06. Acorde Universal; 07. Eu e/ou Você, Doutor; 08. Samba de Paleta; 09. Ode aos Ratos; 10. Fato: Mamado Vado; 11. A Maré Nenhuma;
BIS
01. Deus, às Estéticas; 02. Mother Nature's Son (Beatles); 03. Colibrilho;

Também fizeram uma gravação na Rádio UFSCar, transmitida ao vivo, junto do programa Independência ou Marte #108. A quem quiser é possível baixar o programa e ouvir a entrevista do pessoal. Mais além, também iremos disponibilizar por aqui este material, claro!

Esta noite provava dois, senão mais, aspectos. Primeiro, é possível sim trazer atividades do dito "cunho cultural", que propiciam uma bela festa, agraciando tanto o público quanto os organizadores, do ponto de vista do retorno financeiro. O Segundo, é que se privilegiou ali a produção autoral, fugindo do universo quase sempre presente de covers que pesa sobre os palcos do CAASO, e, ainda assim, houve público massivo. Houve mesmo espaço para intervenções completamente inesperadas, que ficaram registradas a tinta no coração do CAASO. Façamos mais?


Mais fotos no no Picasa do Programa Bluga!


Fotos por Vincent de Almeida e Caroline Pazian

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