Cobertura: Terreno Baldio no SESC Vila Mariana


Passado aproximadamente um ano do último show do Terreno Baldio, período durante o qual sempre haviam pedidos de novos shows nos mais variados lugares e festivais, eis que eles finalmente voltam para uma apresentação. Dessa vez no auditório do SESC Vila Mariana em São Paulo, com 130 lugares que se esgotaram dias antes da apresentação. Bom sinal, afinal sucesso de público sempre é indício de futuros shows. Ansiosos pela apresentação nos posicionamos em nossos lugares para aguardar a entrada da banda, o que não tardou em ocorrer. Os remanescentes da formação original: João Kurk, o carisma em pessoa e mais belas vozes nacionais, nos vocais, Roberto Lazzarini, maestro, compositor e gênio musical brasileiro, e nos teclados Mozart Mello, ícone brasileiro pra qualquer guitarrista que se preze. Completando a formação temos o novo baixista Geraldo Vieira, que conquistou a todos desde a primeira música, e os já conhecidos do público Edson Ghilardi na bateria e Cássio Poleto no violino.

Sempre muito simpáticos saúdam o público e abrem com a impecável Este é o Lugar, música ideal para introduzir o Terreno e toda sua filosofia para os que ainda não a conhecem, pois ao contrário do que se podia esperar, nem só dos esperados fãs de progressivo, aficionados por Gentle Giant e adjacentes era feito o público, dentre famílias e demais frequentadores do SESC foi bonito ver pessoas que não conheciam a banda se deixar encantar por ela.

Também não é por menos, pois existe em torno da banda todo um universo, quase uma mitologia, o Terreno em si é um daqueles lugares mágicos que em algum momento você sabe que existe escondido no mundo e que particularmente durante esse show foi transportado para aquele auditório, tornando cada um dos espectadores cúmplices de um acontecimento mítico em que todos puderam ceder ao impulso de dançar, de festejar e comemorar, mesmo que sentados. Afinal, eles são uma bandas que consegue transpor musicalmente todo o misto de sensações e desejos que uma boa narrativa consegue trazer. Quando ouvimos qualquer de suas músicas, mais que nos transportarmos para a situação de que ela conta, sentimos essa situação, nos sentimos não apenas parte dela, mas ELA como um todo, assim quando escutamos Água que Corre, segunda música do show, mais que visualizar um caminho que flui, nos sentimos fluindo por ele, como se nós fossemos essa água ou demais elementos naturais sempre tão bem personificados pelo Terreno.

É sempre difícil escolher momentos de destaque de um show desse, mas se vamos faze-lo é justo dar o mérito à sequência que se inicia com a instrumental O Vôo Sempre Continua, que Lazzarini, sempre muito carismático e brincando com o público, diria funcionar devido ao seu "teor de auto ajuda", afinal contem várias crescentes que se encadeiam, mas cujo mérito recai muito na maneira como as linhas de teclado conversam com todos os outros instrumentos, em especial a guitarra, tornando a todos ali presentes impossível segurar as palmas. Depois dessa vem Despertar, onde Lazzarini novamente dá um show à parte para então culminar na clássica Pássaro Azul, introduzida com um duo de guitarra e violino: o momento de Mozart Mello mostrar porque é uma figura tão emblemática para todos os guitarristas do país.


Sendo a única do CD Além das Lendas Brasileiras, a irreverente Saci Pererê sempre que aparece dá aquele gostinho desse álbum, que, infelizmente não foi muito abordado no show. Uma lástima, uma vez que muitos esperavam algumas músicas dele desde a última apresentação. E aqui chegamos ao talvez único ponto negativo do show, a Set-List foi exatamente a mesma da apresentação anterior. Ainda que essa seja uma boa seleção, e que o Terreno Baldio seja o disco de estréia e bastante característico da sonoridade da banda, as pessoas sentem falta de mais músicas do "Além das Lendas" durante o show. Mesmo no bis, aclamado pela platéia ao fim da apresentação, foi feita uma repetição de Grite - longe de reclamar, e não que eu ache que exista alguma outra música tão eficiente para um "Gran Finale" à altura da experiência que é um show deles.

Como de fato o foi, com a platéia cantando junto o refrão de Grite, naquele ar de libertação que essa música reflete tão bem. Afinal, o Terreno Fala sobre liberdade, sobre voar, sobre um lugar onde tudo é possível, e é assim que parece a todos num show como o deles.


O Set List oficial foi:
Este é o Lugar / Água que Corre / Quando as Coisas ganham vida / AqueIôo / O Vôo Sempre Continua / Despertar / Pássaro Azul / Saci Pererê / Velho Espelho / Relógio do Sol / Grite BIS - Grite


Fotos por Erick Fernandes



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