Cobertura: Violeta de Outono e Homem com Asas - Programa Ummaguma #100


Presenciamos um fato inédito na última quinta-feira, 14 de Maio, no Teatro Municipal de São Carlos: a primeira transmissão ao vivo de uma apresentação ali feita. Ainda por cima, radiofônica, através da Rádio UFSCar, a 95,3 MHz, e, online, no portal www.radio.ufscar.br.

Que acontecia ali? A comemoração do centésimo programa do Ummagumma, já há dois anos no ar, umas das iniciativas mais bacanas nas ondas FM da cidade, trazendo o Violeta de Outono, banda que já passou AQUI pelo blog, ao lado do Dialeto, em resenha de nossa caríssima Carol Scoponi. E agora, tocando aqui em casa praticamente, não podíamos deixar de prestigiá-los, afinal deixamos de vê-los no Theatro Municipal em Sampa na Virada Cultural. Assim como iriamos prestar honras ao preferido de toda quinta à noite nos rádios, o Ummagumma.

Vale destacar que hoje o Violeta de Outono tem em sua formação atual dois sujeitos que já vimos tocando mais de uma vez por terras sancarlenses: Fernando "Macabro" Cardoso e Gabriel "Zoppo" Costa, do Homem com Asas. Nada mais propício então, que a abertura da noite fosse feita por esta banda, que faz honras ao progressivo e psicodelia sempre que toca por aqui. Claro que isso exigiria mais de duas horas dos dois tocando, mas eles dariam conta facilmente.

Programados para subir às 19h, os homens alados só viriam a dar as caras às 19h45, com o teatro a três quartos de sua lotação. Incenso preso ao pé de um pedestal, imagens pouco inebriantes projetadas ao fundo, cores mais, criando já o clima de imersão.


Para a primeira da noite, Gus Stardust (lead singer), Danilo "Fruits" Zanite e Marcelo "Minduim" Montaño (guitars) e Luciano Matuck (drums), aliados ao violeta Gabriel Costa (bass), nos traziam Achilles Last Stand, do Zeppelin.

Na seqüência, o sempre merecido espaço para uma composição própria, com A Natureza. Para a terceira, primeiro chamaram o outro violeta, Fernando Cardoso, para comandar as necessárias teclas em uma excelente versão de Rio de Janeiro, do álbum ao vivo de 1976 d'Os Mutantes.

Agora, era a vez de trazer um material um tanto quanto raro sequer de se ouvir falar, mas que sempre rola nos shows do HcA. Sempre vem a frente Zoppo, apresentando a banda alemã Frumpy, conotando a vocalista Inga Rumpf por nosso Gus na boníssima faixa Good Winds.

Estava estabelecido o clima altamente psicodélico. Contudo, sempre é estranho assistir a estas apresentações dentro de um teatro, comportadamente sentados. Claro que o interessante é que isto possibilita total concentração na música em si, sem qualquer dispersão. E a qualidade do áudio sempre é mais interessante em um ambiente fechado, especialmente quando pequenas nuances precisam ser ouvida, quase sempre caso do progressivo, que se perde em palcos ao ar livre.

E para fechar, como não poderia deixar de ser numa noite em que se comemora o aniversário do Ummagumma, uma Pink Floyd: Dogs. Com certeza a melhor das interpretações do grupo.

Tocando apenas cinco faixas, encerravam uma apresentação memorável. E o apenas justifica-se na contagem tão somente, afinal todas eram faixas longas, completando quase uma hora de apresentação!

E não vamos esquecer que Homem com Asas é a nossa primeira postagem AQUI no blog, mais de um ano atrás, quando experimentávamos formatos e o texto ainda deixava muito a desejar. De qualquer maneira, temos uma grande admiração pela banda, que apesar de já termos visto tocando inúmeras vezes, nunca deixamos de prestigiá-los. E apesar desta noite merecer uma resenha mais aprofundada, faremos isto em outra ocasião, não quando eles são "apenas" a banda de abertura e o ambiente não é dos mais normais para tentar captar a essência de um show. Falemos hoje de Violetas.

E nem falaremos tudo, já que nossa pretensão não é tão grande. Mais uma vez vamos dispender apenas algumas impressões mais cruas, trazer algumas fotos e publicar o setlist da noite. Setlist este que sempre é fácil no Teatro, já que há sempre a programação da noite faixa-a-faixa, matando metade do nosso trabalho. Isto até chega a tirar um pouco do brilho do show a todo público, no momento em que se perde a surpresa que é ouvir os primeiros acordes de cada faixa.

Pausa para um pequeno intervalo entre as bandas, sai a tralha do HcA, sobe a do Violeta. Voltamos com uma bela iluminação por baixo da bateria, em muitos tons de Violeta: Fábio Golfetti nas guitarras e vocal junto de Claudio Souza na bateria, os dois da formação original do Violeta, que sempre teve em Golfetti a persistência da banda; e Gabriel Costa, mais uma vez no baixo, e Fernando Cardoso, nos teclados e backing-vocal, duas buenas "aquisições" a banda.


Zoppo, lembrando também da passagem de Daevid Allen pelo 1º Festival Contato, vinha com uma camiseta com a ilustração de Camembert Electrique, álbum clássico do Gong. E claro, não podemos nos esquecer das experiências do Golfetti com a Invisible Opera, também idealizada por Allen, lembrada na estampa de sua camiseta também.

Tocando pela primeira vez em São Carlos, a idéia de seu repertório era apresentar inicialmente o material que provavelmente o publico conhecesse. Assim, após uma abertura com Em Toda Parte, trazem as três faixas de seu primeiro EP, Outono, Trópico e Reflexos da Noite, que estariam presentes também em outros de seus álbuns cheios. Claro que aqui, acrescenta-se a sonoridade dos teclados de Fernando Cardoso, que chegou mesmo a criar novas introduções às faixas, como em Trópico.

A esta altura, as cadeiras do teatro já serviam de porto seguro para que todos se segurassem em meio a viagem já iniciada, com Golfetti tirando solos belíssimos.

Após trazer sua identidade conhecida, era o momento de trazer seus novos trabalhos.: Além do Sol, Caravana, Eyes like Butterflies e Fronteira. Novos, já que o Violeta surge em meados da década de 1980 e o último álbum Volume 7 tenha sido lançado em 2007, com a atual formação da banda. E se é o sétimo álbum de fato, lembremos que é o quinto de estúdio. Com a tiragem esgotada, Volume 7 foi relançado recentemente, ao lado de toda a discografia da banda em CD, incluindo aí alguns EP, material mandatório em qualquer coleção. Muito embora uma coleção que se preze deva rastrear o bom vinil, não é?

Embora tenham um instrumental primoroso, sem exageros e ainda assim belo, muito se discute sobre os vocais do Violeta. Fábio Golfetti canta ternamente, como que declamando versos, trazendo suas impressões de mundo numa voz macia, monótona de fato. Contudo, Violeta de Outono é justamente isto, a transposição de imagens da natureza, ambientes, estações, sensações em sonoridades e poesia. Nisto, se não pela música propriamente, que isto seja feito pela lírica das letras. Há uma preferência pelo vocal, muitas vezes mais presente que o instrumental, mas aí está uma justificativa para tanto.

Do instrumental, nada nos resta comentar. Podemos apenas florear as sensações com adjetivos merecidos: Se os Teclados de Fernando não criam uma cena de fundo para a guitarra de Golfetti trazer o calor da luz do sol, enquanto baixo e bateria nos criam texturas quase perceptíveis ao toque, construindo as cenas das canções, não sei mais que poderia descrevê-los.

Enquanto do EP tiramos por destaque Reflexos da Noite, do excerto de faixas do Volume 7 tocadas, Caravana e Fronteira se sobressaiam ali.

Chegando a metade da noite, se voltaram mais uma vez para seus clássicos, trazendo de seu primeiro álbum cheio, o homônimo de 1987, Dia Eterno, Declínio de Maio, Luz, Sombras Flutuantes e sua versão de Tomorrow Never Knows, dos Beatles, onde Golfetti faz de sua Fender uma cítara, também presente no disco.

E mais uma vez, rende-se homenagens ao programa Ummagumma. Desta vez, mais propriamente, trazendo Set the Controls for the Heart of the Sun, uma das faixas do lado ao vivo do álbum que dá título ao programa de rádio, se é que você ainda não sabe disso. Neste excerto do show, todas as faixas são da primeira fase do Pink Floyd, ainda com Syd Barret. E Golfetti confessionou no palco que deve rolar um DVD do Tributo a Syd Barret ainda este ano!

Astronomy Dominé e Interstellar Overdrive, as melhores faixas floydianas a meu ver, que inclusive o Violeta já gravou, não rolaram, apesar de primeira também estar no Ummagumma. Mas deixou-se espaço para que víssemos algo inédito até então, alguém rolando Arnold Lane, ao lado de See Emily Play e Bike.

Saindo do palco, era muito natural esperar um bis. Só que até parecia que não ia rolar, com as pessoas deixando o teatro ali, logo ao fim, sem comentar as muitas que deixaram a apresentação no meio. Felizmente, os Violetas voltaram, com Creme Gelado, Desculpa, do álbum de 1999, Mulher na Montanha, arrebatadora.


Eis uma banda que manteve sua sonoridade preservada através das décadas, a cada álbum, mostrando que há espaço para este Progressivo, mesmo o brasileiro, e, muito possivelmente, dentro de várias gerações.

Neste show belíssimo, ficam os agradecimentos ao Violeta e especialmente a Marco Batalha e Maurício Martucci, apresentadores do programa Ummagumma. Ummagumma este, que além das incursões nas ondas radiofônicas, tem um dos mais respeitáveis fóruns sobre progressivo no país, que vale a pena conferir.

E também tem mais fotos no nosso Picasa!

Fotos: Vincent de Almeida


2 comentários:

Marco disse...

Valeu, ficou muito boa a resenha!!! Abraços, Marco.

Luciano Matuck disse...

Valew Vanderlei, mais uma vez apoiando os eventos do rock!
abss!

LM