Contato: Um Festival da Cidade de São Carlos

Ter um festival feito pela cidade de São Carlos para a cidade de São Carlos tornou-se o grande ideal do Contato, mesmo sendo um festival institucional, promovido pela UFSCar. Neste intuito, propõe-se a  construção colaborativa do Contato, com os diversos agentes culturais da cidade sendo chamados a atuar conjuntamente, dos pontos de cultura a dita sociedade civil. E procura-se então uma construção atenta ao que o público de São Carlos enxerga e cultiva nos campos da música, das artes gráficas, das artes audiovisuais, seja no ambito universitário, seja nas ruas, ao mesmo tempo em que se explora maneiras de permitir o acesso e visibilidade a todos. 

Pensando nestes aspectos, levantamos alguns pontos sobre que significa colocar todos em São Carlos em contato, tendando resgatar um pouco da história do festival, ponderando sua evolução e escolhas, além de propôr algumas idéias.


O FESTIVAL DE SÃO CARLOS

Em se tratando de um festival de São Carlos para São Carlos, a inserção da população em todos os âmbitos acontece de maneira já bastante avançada. Há, obviamente, todo o público espectador, que comparece mais ano menos ano a sua proporção ao festival. Iniciativas como o Saia para Jantar e o Contatinho são exemplos que apontam também para outras faixas etárias da população serem beneficiadas com o festival. Apesar disto, o festival não atinge toda a população da cidade de maneira contagiante. 

A participação efetiva da população jovem, a quem o festival melhor se desenha, falando agora de suas diferentes classes, é preocupante. O espaço universitário invariavelmente faz-se valer, uma vez que em sua massiva maioria são universitários trabalhando para realizar o festival. As estratégias de divulgação do Contato desde sua segunda edição  firmam-se em cartazes espalhados pela cidade trazendo o nome do festival, divulgando maiores informações e sua programação completa apenas online. É de se imaginar que todos consultem lá os canais oficiais do festival, mas limita-se em muito o acesso democrático a esta informação. A divulgação mais efetiva da programação com todas as informações ao papel, em cartazes e mesmo folderes distribuídos com antecedência permitiriam que maior gama de público tivesse acesso ao nome do festival e por conseguinte, a suas atividades.

E mesmo falando do público já cativo do festival, há que se questionar se os motes e temas que as ações procuram promulgar são recebidos por este público. Há press releases espetaculares distribuídos pela assessoria de imprensa, há informações, mas estão também parecem não atingir ao público, fazendo com as apresentações todas, oficinas e discussões, que partem de um acúmulo e buscam uma construção de ideais, acabem sem a comunicação preterida.

Há participação, menor mas sempre presente, do público em debates e oficinas que permeiam os temas que levam a concepção temática do festival, discutidos ao longo do ano na sua construção. Como sempre, a procura parte do interesse maior e bastante específico aqui, seja de profissionais, seja de entusiastas, todos com vontade de apreender. E há abertura, embora não exatamente respondida, ao público para construir o festival de fato, ao longo de todas as reuniões organizativas, desde a apresentação do festival para a cidade, que começa a inserir-se de variadas maneiras e tende a ocupar o espaço se houver confluência de ideais.

Contudo, o problema maior é que ainda precisa-se de mecanismos para garantir a participação deste público não apenas enquanto espectadores, ou indiretamente trabalhando no festival, na Feira de Economia Solidária, ou participando das oficinas. É preciso participação também direta, trazendo as artes da cidade à baila, incentivando-as. Ela existe, mas ainda parece engatinhar. 

Nesta 4ª edição colocar grupos de Hip Hop da cidade, assim como levar alguns outros nomes para o Saia para Dançar, mantém o festival em consonância com o que vinha praticando nos anos anteriores, mas não é o suficiente. Esse tipo de iniciativa esteve presente em todas as edições do Festival, como quando em 2007 tinhamos o Pantomime Jazz e Homem com Asas, em 2008 Blues de Ville, The Dead Rocks e Malditas Ovelhas!, em 2009 Aeromoças e Tenistas Russas e Stranhos Azuis, esta iniciativa, apesar de sempre constante e mostrando-se como uma das direções do Festival, não corroborou a um fomento do cenário local da música. 

Não tivemos mais bandas, grupos ou solistas surgindo na cidade nos últimos anos, apesar da consolidação inclusive de um curso de Educação Musical na UFSCar. Iniciativas mais efetivas talvez fossem trazer novamente as bandas aos palcos principais do Contato, com grande destaque. E fazer isto criando um cenário real de incentivo, como através de editais que privilegiem também os grupos locais e da região, chegando mesmo a criar atividades pré-festival (um dos motes que o Contato vem promovendo ao longo dos últimos anos) com seletivas abertas prévias.

Aqui, faz-se valer um sentimento que parece latente ao festival mas que não transborda ainda. Fala-se em diversidade, solidariedade, sustentabilidade, mas não se trabalha a permanência do festival ao longo de todo o ano, senão pela sua construção sempre presente. Quer-se esta expansão, mas pouco ela é trabalhada. Iniciativas neste sentido figurariam de fato ações pré-festival e, mais, movimentariam a cidade e seus agentes em diversas esferas o ano todo para culminar no festival.

Mesmo a representatividade de todo o material que é produzido durante as edições do festival, de fotos e vídeos capturados das apresentações musicais, em especial o áudio destas, até às filmagens das discussões dos debates poderiam ser melhor aproveitados e lançados ao público. Há transmissão via webrádio, ainda não se tem o streaming de vídeo, mas os registros em várias pistas de áudio de várias apresentações foram feitos e estes poderiam gerar bons bootlegs, prestigiando ao nome do festival, fornecendo material às bandas e levando ao público do Contato e das bandas um bom presente, que invariavelmente fomentaria ao CONTATO e São Carlos.  


O CONTATO CHEGA A PRAÇA CORONEL SALLES

O uso da Praça Coronel Salles, a chamada "Praça dos Pombos", no centro da cidade ao lado da principal avenida de São Carlos é um dos aspectos que exploram e reforçam essa ideia. O festival passou pela Estação Cultura, uma estação ferroviária transformada em grande museu vivo e sede da Coordenadoria de Artes e Cultura do município, que proporcionou emocionantes shows em concomitância a ensurdecedoras passagens de trens apitando freneticamente na primeira edição do festival, em 2007. Em 2008, foi vez da Praça do Mercado Municipal, levando junto a estrutura de dois palcos como na primeira edição, no mesmo formato dos grandes festivais lá fora. Agora, deixando esta itinerância que chegou a almejar até mesmo o Parque do Bicão, espaço diferente mas um tanto isolado, em 2010 o Contato repetia-se na Praça dos Pombos, que abrigou a 3ª edição em 2009.  Garante-se assim um magnífico suporte à estrutura do Festival, com acesso a espaços para oficinas para criar diferenciados espaços e planos como a Feira de Economia Solidária e o Contato Eletrônico.

Contudo, perdeu-se uma das características apresentadas nas primeira e segunda edições, os dois grandes palcos alternando as bandas. Esta estrutura, obviamente mais cara, tanto pela própria existência de dois palcos e por conseguinte duas coberturas, dois geradores e dois equipamentos e equipe de sonorização e iluminação, é uma ação que dinamizava os dias do festival, propiciando ininterruptamente boas horas de som. Deixava-se não só a impressão faraônica como adjetivo, mas a fazia de fato, com um line-up absurdo de bandas (que também encarecia em muito os custos do festival). 


O FESTIVAL PARA SÃO CARLOS

A escolha das datas para realização do Festival, apesar de ter se tornado costumeiro situar-se ao redor da data do 12 de Outubro, feriado nacional, tornou-se preocupante ao observarmos uma nítida queda do público geral, não só porque o feriado foi prolongado demais. 

No segundo semestre, época de realização do Contato, foram realizados um sem-número de festivais, seja dos festivais independentes com o circuito de bandas regionais, seja dos grandes festivais com público pagante que trazem atrações internacionais e mesmo os grandes shows desses maiores nomes. Em particular, a realização do SWU Festival (Starts with You - Começa com Você) no mesmo final de semana do Contato, em uma cidade tão próxima quanto Itu, e com estrondoso alarde da mídia, ofuscava-se uma iniciativa que trabalhava com as mesmas armas: sustentabilidade, espaços multimidiáticos, conscientização e fomento da arte. Claro, o Contato tem uma abordagem muito mais interessante e muito menos mercantilista, mas que passa desapercebida do grande público.

Não se preocupar mesmo com o InterUNESP, encontro de jogos e festas universtiários, no mesmo fim de semana, na cidade de Araraquara, a 50 Km de São Carlos, também compromete este aspecto de grande festival da cidade de São Carlos e região. E isto torna-se mais preocupante ainda quando o Interunesp acaba por incorporar um festival de bandas, o FEBAN, por onde transitaram metade dos grupos que passaram pelo Contato. Em São Carlos, isto sempre aconteceu de maneira semelhante com o FUSCA (Festival Universitário São Carlos Alternativo) em concomitância ao TUSCA (Torneio Universitário de São Carlos), promovido pelas Associações Atléticas dos alunos da USP e da UFSCar). Contudo, o FUSCA está lá para confrontar-se ao TUSCA de fato como alternativa. Já o FEBAN parece mais um exemplo da naturalização da comercialização da arte, que se aproveita da ocasião para promover-se usando da bandeira da cultura.

Enquanto grande festival da cidade de São Carlos, o Contato esquece-se que São Carlos é referência na região, mesmo estando ao lado de cidades como Rio Claro, Araraquara e Ribeirão Preto, em termos de música. O maior festival multimídia da região central do Estado, talvez de todo este, atraía toda a região e interessados mesmo de Estados vizinhos. O Contato ainda tem essa visibilidade, claro, muito embora pareça que a participação mais ativa é daqueles envolvidos ou ligados à ABRAFIN (Associação Brasileira de Festivais Independentes) e ao Fora do Eixo. Enquanto festival que ostenta lugar no calendário da cidade de São Carlos precisa preocupar-se com esta referência e com todo o público que poderia atrair, além de continuar enfatizando a comunidade sancarlense.



Leia nossa cobertura do SábadoDomingo e Segunda do Festival Contato e veja fotos no Picasa do Programa Bluga! Saiba mais sobre o Contato acessando a Cobertura Colaborativa do festival! 

4 comentários:

rouge disse...

Vixi esse nao tava no festival... tava no SWU amigao? Ficasse por la... Mais uma vez o CONTATO traz Sem Medo do Medo, Subloco Coletividade, Maria Butcher, Os Relpis... bandas da regiao, querem tocar no palco? Lancem novos cds, criem novos festivais, o espaco esta ai para todos, iniciativas incriveis de produtores da cidade estao ai tbm. O CONTATO faz o que pode, e mesmo o nivel de entendimento da palavra COLABORATIVO nao ser o mesmo para todos parceiros o CONTATO da a outra face e estende a mão... Foi no SAIA PARA DANCAR caro Bluga? La tinha varias bandas da cidade, inclusive todas festas foram propostas por produtores da regiao, não propos a sua? Volte com mais criticas, todas sao incorporadas, mas nao gaste seu dialogo, sua palavra com observacoes cheias de magoa, que nao agregam ao criticado, nao agregam a sua coluna, nao agregam ao desenvolvimento humano que cada um de nos aprendizes da vida buscamos humildemente.

Jaguadarte disse...

Virgem Santa, Rouge! Você tem certeza que você estava no festival?

Jaguadarte disse...

(Aliás, você tem certeza de que leu o mesmo post que eu?)

Léo BR disse...

Vanderlei, se forma e volta pra mamis.
ou sai da usp e tente lutar por algo realmente efetivo na cidade. já ouviu falar do conselho de cultura? você tem total legitimidade pra criticar o qe quiser, mas se não tiver vinculado à ação (efetiva e nao o macaco) fica paia demais né?