Eis que somente nessa quinta-feira, 12 de novembro, fomos alertados com os dizeres “¡Peligro!”. Espalhado pela cidade, o anúncio de última hora conseguiu ainda precaver alguns de não perderem, nesse mesmo dia e gratuita, mais uma atração internacional que o Massa Coletiva não pode deixar de trazer para São Carlos. Usando o famigerado adjetivo que remete a nossos vizinhos sul-americanos, falamos de nossos hermanos Falsos Conejos, que encerraram sua turnê pelo Brasil antes de retornar nesse fim de semana à província de Buenos Aires (Argentina), passando por La Plata e enfim chegando a cidade origem, Cidade Autônoma de Buenos Aires.
E para abrir a peligrosa noite de animais nada dóceis da música instrumental no salvador Palquinho do DCE, não haveria melhor anfitrião do que nosso caro Malditas Ovelhas! (com exclamação no nome, por favor), além, é claro, do Independência ou Marte na Discotecagem Radiofônica executada por Young Man e Felipe Silva que também comanda a Operação de Som da banda são-carlense, figurando como seu live mixer.
Chegamos pouco depois da meia-noite a tempo de conferir parte da primeira leva de música brasileira atual através da discotecagem radiofônica. Por volta da meia-noite e meia sobe ao palco o Malditas Ovelhas!: quatros integrantes comandam guitarra, baixo, bateria, percussão, escaleta e teclado. Teclado? É, o synth de sempre queimado a dois dias obrigou os caras a partirem para um plano B. Mas isso não foi motivo para estragar a apresentação de nossos anfitriões. Longe disso. O MO! mostra que sempre tem o maior prazer em mandar seu som na cidade mesmo após rodar pelo país.
Nesse contexto o público parece variado. As notícias de um palquinho na Federal correm por veredas obscuras, numa trama comunicativa indecifrável que dá num determinado público resultante. Então aqueles que, por inocência, esperavam do palquinho uma festa, ainda assim puderam se balançar um pouco com esse instrumental-experimental nos momentos de brasilidade regionalista que se serve o Malditas!. Bebendo do manguebeat, o regionalismo da percussão e bateria que se destaca dos temas principais, mas estrutura temas como os de Slide e Esqueleta, agradou o público na Federal e fez parte da platéia se movimentar no início da apresentação.
Na seqüência, Saldo/Extrato, trazendo uma pitada de funk na distorção da guitarra, deu uma guinada na apresentação trabalhando o tema do capital financeiro de maneira mais sutil que sua possível e distante referência progressiva (arrisco eu): Money, do Pink Floyd. Criando um clima menos regionalista a meados da apresentação, o Malditas Ovelhas! fez com que alguns se envolvessem com o minimalismo onírico de Vril e a melancolia de Perseguida, que encaminharam o final da apresentação. Nesse ínterim, deparamo-nos com uma faixa que nos pareceu nova: Fossilizado. Pelo nome (arriscando de novo), talvez fruto de algum encontro com a banda instrumental Fóssil, que se apresentou no Festival Contato desse ano assim como o próprio Malditas Ovelhas!.
A apresentação de cerca de uma hora revela uma ótima produção constante do grupo que pôde deixar de fora muita coisa boa como a faixa Ódio ao viajante, que costuma ser um dos pontos altos da apresentação, pois todos os integrantes se reúnem em torno da bateria e percussões e a as executam simultaneamente. Mesmo assim, estava muito bem aberto o palco para o convidado principal e ficamos, como sempre, satisfeitos com o Malditas Ovelhas!. Enquanto se davam os preparativos no palco, pôde-se desfrutar de mais um bloco da discotecagem de Jovem, recheada com o que já rolou de melhor por São Carlos e que já visitou os estúdios da Rádio UFSCar como Trilöbit, e ainda, o que queremos que ainda role por aqui como Maquinado. Felipe Silva também assume a discotecagem, deixando a operação de som mais com o técnico contratado pelo DCE.
Enfim sobe ao palco por volta das três da matina nossos caros señores - assim foi anunciado o principal da noite. No entanto, diferentemente da atração anterior, onde se via o uso de um caráter musical próprio do país de origem da banda, nada se pôde perceber de especificamente argentino nos Falsos Conejos. Ainda mais para nós brasileiros, que sempre esperamos algo relacionado ao tango ao nos depararmos com legítimos porteños. E, de fato, já anuncia essa postura o título de uma de suas demos, AntiTANGO!
É claro que isso não é motivo para ficar decepcionado. Dramática e tensa, reforçada por bruscas pausas, a primeira faixa Estrobos já mostra a força do instrumental argentino. Na seqüência, guitarra, baixo e bateria desenvolvem faixas um pouco menos digeríveis, mas que fazem juz quando nos referimos a banda como power trio. A faixa K-co traz uma poderosa guitarra cuja força, infelizmente, o equipamento da sonorização contratada não foi capaz de suportar.
Houve alguns problemas, um dos músicos até levou choque, mas depois de resolvidos os contratempos, parece que os caras voltaram mesmo é com carga elétrica. Após uma interessante versão de National Anthem do Radiohead, nosso hermanos desenfrearam a faixa Sobrevuelo, dançante e frenética, fez alguns dançarem como coelhos, falsos, com pilhas alcalinas. E para fechar sem desanimar, Delia, la psico, com seu tema marcante, repetitivo e envolvente, conduzido pelo baixo pouco tradicional nos momentos de livre sonoridade da guitarra.
Os Falsos Conejos devem ter assumido o palco durante cerca de uma hora. A produção agradeceu a apresentação e os señores também ficaram gratos ao Malditas por ter feito rolar o lance. Muchas gracias ao sr. Du Rodrigues! Que voltem os porteños ano que vem! A noite se encerrou com mais uma leva radiofônica para os derradeiros. Mas nós, já satisfeitos, decidimos ir embora após termos que rachar um álbum da atração internacional, pois em fim de turnê, estavam esgotados. Se bem que, se houvesse mais, dividiríamos os custos do mesmo jeito, pois o negócio é distribuir logo, grátis, para que mais gente ouça e assista, pois o legal é ver ao vivo com a galera e só gastar é com cerveja.
Segue o setlist da noite instrumental:
Maditas Ovelhas!
01. Slide; 02. Esqueleta; 03. Saldo/Extrato; 04. Nova Orgum; 05. Vril; 06. Fossilizado;
07. Perseguida; 08. Lá na lua;
Falsos Conejos
01. Estrobos; 02. Villazon; 03. K-co (Caco); 04. Panq; 05. National Anthem; 06. Sobrevuelo; 07. Delia, la psico;
Texto por Alexandre Vergara
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