De Frutas e Macacos: Graveola e o Lixo Polifônico em São Carlos



E finalmente os caras do Graveola e o Lixo Polifônico resolvem sair do aconchego do lar para vir se apresentar em São Paulo! Os fãs de cá (que não sei se são de quantidade, mas da qualidade não se discute) agradecem. Também, já estavam ficando sem desculpas. Se já atravessaram o Atlântico, o estado-ao-lado é logo ali. São Carlos não é Lisboa, mas também tem seus charmes.

Mas a questão é que vieram, e vieram para a 6ª Semana do MACACO, o Movimento Artístico e Cultural do CAASO. Se você ainda não sabe o que é o MACACO, aqui está a programação desta última edição, e aqui, aqui e aqui a cobertura de alguns dias da Semana do MACACO do ano passado. Agora, uma breve explicação para os que não sabem que raios é Graveola e o Lixo Polifônico: Trata-se de uma banda do cenário independente mineiro, mais especificamente de Belo Horizonte, composta por Luiz Gabriel Lopes, José Luís Braga, Marcelo de Podestá, Bruno de Oliveira, Flora Lopes, Yuri Vellasco, Flávia Mafra, Luiza Rabello e Juliana Perdigão. O que cada um faz, de músico, compositor, produtor, fotógrafo e artista plástico, vou ficar devendo, já que aparentemente todos eles tocam um pouco de tudo. Bom, não posso descrevê-los melhor do que eles próprios se descrevem, no site oficial:

“Graveola e o lixo polifônico é um bom exemplo da mistura refinada que constitui a música brasileira. Irreverentes e atrevidos, múltiplos e desajeitados, seu trabalho é uma oficina de experimentação, uma caixa de possibilidades poético-sonoras. São improvisadores capengas, falsários poliformes: tudo é referência na colagem musical onde descontrole e acaso vêm à tona e gritam por espaço. É a estética do plágio, o humor levado a sério. Reciclar o lixo, misturar o fino e o grosso a ponto de torná-los indistinguíveis.

Do sotaque refinado do samba e da MPB ao amaldiçoado kitsch do axé e do sertanejo, o lixo polifônico sequestra a legibilidade vomitada do pop e incorpora tudo ou qualquer coisa como ferramenta sonora. Do lirismo ao escracho, os sentidos multiplicados, ou a total falta de sentido. Pianolas e apitos de brinquedo, utensílios domésticos: a idéia é deglutir e incorporar a tudo e a todos sem distinções. Implosão de rótulos, aproximações insólitas, absorções irresponsáveis: é a fertilidade do lixo “em que se plantando, tudo dá.”

Mas mais importante do que tudo isso é o som dos sujeitos, que graças ao milagre da Internet é facilmente encontrado no http://www.graveola.com.br/, com os álbuns e meios álbuns, gravações, faixas bônus, além de mil outras coisas. Se ainda não ouviu, a culpa é completamente sua.

MACACO e Graveola devidamente apresentados, falemos da noite propriamente dita, Sexta-Feira último dia 24, no Campus 2 da USP São Carlos, que contou também com outras apresentações igualmente interessantes, com destaque para o jazz experimental psicodélico de Mama Gumbo, e a tão esperada união dos já bem conhecidos do blog Aeromoças e Tenistas Russas e Malditas Ovelhas, adicionando aí um “fator acochativo”. Tudo a seu tempo, comecemos do começo.


A programação da noite deveria ter início às 20h, desta vez não por problemas da organização, mas pelo tempo chuvoso e o inconsciente do público, acostumado a atrasar, aderindo bem mais além. Só então o Graveola subia ao palco, já passando das 22h, quando o povo timidamente começava a aparecer depois de um excerto da discotecagem radiofônica Independência ou Marte. Mesmo assim, ao início do show, o público tinha menos de 100 pessoas, que no amplo espaço do Campus 2 aparentavam ser bem menos. Talvez pelo clima, talvez por ser um lugar longe do centro da cidade, ou por falta de uma divulgação específica para aquela atividade que se perdia no meio da programação de um semana toda, mas fato é que o público foi aquém do esperado. É uma pena que justamente na primeira vinda dos mineiros do Graveola a São Carlos todos esses fatores tenham contribuído para um início de noite de pouco público. Vamos esperar que isso não os impeça ou intimide em vir mais vezes!


Apesar de estarem em território até então inexplorado e com um público escasso, um ou outro fã sempre aparece, e são esses que compõem a linha de frente, acompanhando fielmente as músicas. Não todas, claro, já que algumas delas ainda não foram nem gravadas como as faixas Desdenha e Lindo Toque, e outras tantas do álbum recentemente lançado Um e Meio, como as faixas Rua A e Desencontro. Os arranjos das músicas ao vivo estão bem diferentes das originais. A bateria e a percussão, de um modo geral, crescem no palco, à custa da ausência dos metais, que não estavam presentes no show. Foram substituídos por um curioso instrumento improvisado cortado de uma garrafa plástica. Em Samba de Outro Lugar, por exemplo, a falta de metais é gritante. Claro que a falta dos instrumentos é perfeitamente compreensível, já que deve ser muito difícil reunir todos os integrantes para uma turnê, sendo uma banda tão grande quanto o Graveola, como justificaram os próprios músicos ao final do show para o Programa Bluga. Mas foi um show memorável com um instrumental surpreendente, com passagens ressoando ora a jazz, ora a música latina, sambinhas e outras tantas influências que nem tentarei enumerá-las, e direito à pirações de percussão e bateria . Ah sim, falando de influências, rolou até uma bela interpretação de Fico Louco, do grande Itamar Assumpção.

Já faz um tempo que tinha vontade de vê-los ao vivo, e posso dizer que finalmente fui satisfeito. É uma pena que tenha sido tão curto, com pouco menos de uma hora de show. Pelo próprio caráter da noite, com cara de festival com mais 4 bandas ainda por vir infelizmente não houve brecha para um bis, apesar dos esforços da linha de frente. É uma pena, porque fontes confiáveis me disseram que iria rolar Insensatez!

Setlist

1. Blues Via Satélite; 2. Lindo Toque; 3. Rua A; 4. Supra-Sonho; 5. Desencontro; 6. Benzinho; 7. Desdenha; 8. Samba de Outro Lugar; 9. Fico Louco (Itamar Assumpção); 10. O Quarto 417 (As Aventuras de Dioni Lixus ); 11. Desmantelado;


Na segunda-feira passada eles também estiveram lá na Radio UFSCar, tocando ao vivo no Programa Independência ou Marte. Está lá no blog do programa no portal Fora do Eixo e dá pra ouvir o podcast abaixo.

Mais fotos desta e outras noite da Semana do MACACO podem ser vistas no Picasa do MACACO e também no Flickr do Massa Coletiva.





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