Cobertura/Agenda: Última chamada para o Festival Gaia


Realizar-se-á nesse fim de semana, dias 26 e 27 de março, sexta-feira e sábado, o Gaia - 1º Festival Sustentável de Cultura, promovido pelo Coletivo Colméia Cultural, numa realização conjunta com o Circuito Fora do Eixo, com parceria da Prefeitura de Araraquara. O evento terá o parque Pinheirinho como cenário para as diversas atividades: pirofagia, esquetes, cinema, teatro, dança, palestras, workshops, performances, malabarismo, exposições, intervenções e instalações artísticas, fotografia, artesanato, graffiti, literatura, gastronomia, oficinas, camping, shows, 10 bandas, e mais sabe-se lá o que e o dia todo, desde manhã, cedinho; ufa! Tudo em prol do pensamento sobre a sustentabilidade ambiental – importante destacar o peso que o evento trás sobre essa dimensão.


No último domingo, dia 21 de março, o Colméia realizou, juntamente com a Prefeitura e Fora do Eixo São Paulo, o primeiro Pocket Show do ano – edição especial, pois contou com bandas da turnê do circuito: Aeromoças e Tenistas Russas de São Carlos e, pela primeira vez na cidade, Porcas Borboletas de Uberlândia, Minas Gerais. A turnê passou nessa terça-feira por São Carlos, no DCE UFSCar, e continua circulando pelo interior paulista. Não me prenderei aqui numa resenha das bandas, já que na verdade esse texto tem o intuito de entrar para a seção Agenda, mas logo quitaremos a dívida com uma nova e merecida eminente resenha sobre nosso caro Aeromoças e Tenistas Russas, e, em outra oportunidade, podemos nos dedicar ao Porcas Borboletas – vou me conter, por hora, em comentar que, quanto a banda mineira, me chama a atenção a influência de Arrigo Barnabé na adoção da estética das histórias em quadrinhos transposta em música, um dos aspectos que marca o trabalho de Arrigo.

O Pocket Show, que ocorre no Teatro Wallace Leal Valentin Rodrigues, já é conhecido pelo público araraquarense. É um espaço que tem sido ocupado desde o início pelo GUTE – Grupo Urucum de Teatro Experimental. O grupo possui um repertório em constante transformação, como sugere seu nome, permeia por diversas formas de expressão e não se fixa numa fórmula, experienciam artes circenses, mímica, comédia escrachada, esquetes, performance, poesia, teatro de rua: é o integrante essencial para que se tenha a integração das artes buscada pelo Coletivo Colméia. Juntamente com a banda psicodélica araraquarense Os Rélpis, o Grupo Urucum é pilar fundamental da constituição do coletivo. Completam essa colméia o grupo Piromagia e a banda Ruido Fino, que já conectada ao coletivo se prepara para circular pelo Fora do Eixo após se apresentar no Grito Rock da cidade, em fevereiro.

A inserção de Araraquara, pela primeira vez, no festival integrado Grito Rock desse ano foi o primeiro produto do Colméia. Para Caiubi Mani, baixista do Os Rélpis, a formação do coletivo, que se deu no segundo semestre do ano passado, sempre teve como norte se tornar um dos 43 pontos que existem atualmente espalhados por 20 estados brasileiros pelo Circuito Fora do Eixo. É atribuído ao Massa Coletiva de São Carlos, ponto de referência regional do circuito, parte do esforço para o Colméia figurar na rede.

Dessa vez, por iniciativa do coletivo, surge o Festival Gaia, uma produção de caráter mais autônomo, onde esses artistas reforçam sua função técnica de produção do espaço artístico. Segundo Caiubi não há distinção no coletivo entre artista e produtor, todos respondem por essas tarefas: artista igual pedreiro – citando o lema que é título do álbum da banda Macaco Bong, de Cuiabá (MT).

O Pocket foi o terceiro evento realizado envolvendo o Colméia. Após o Grito Rock, durante os preparativos para o Gaia, lançaram um pré-festival no dia 12 de março, também no Teatro Wallace, sendo um importante meio de divulgação e movimentação artística, unindo o útil ao agradável. Já o pocket show não teve esse intuito formal, mas foi na prática a última chamada para o Gaia, criando o clima para o que está por vir. Durante a execução de Sax Sugestion (Motel Version), na apresentação de Aeromoças e Tenistas Russas, uma performance surpreende o público. Com um figurino composto somente por embolados de estopa, tendo folhas por entre os fios e o corpo inteiro coberto por pigmentação esbranquiçada tal qual lama seca, a artista, com batuque e poesia, revelava a Natureza por trás de sua feminilidade. Oscilando por outras vielas teatrais, o grupo Urucum trás Shirley, uma escrachada personagem satírica inspirada nos programas de prêmios na TV. Bem mais poético, Brincadeira com Bexiga e é um belo trabalho de mímica que incute peso e leveza, vida e personalidade ao mais ordinário objeto, tornando-o magnífico. Outros espetáculos se seguiram refletindo a constante vontade de criar e recriar do grupo. Dois Idiotas contou com a participação de Garboso, vocal que toma a frente do Os Rélpis.

Contudo, não fosse a dança, nada seria completo. Muitos assistiram ao espetáculo Contraste (peço desculpas por não ter prestigiado). Mas somente alguns foram presentados com a expressão pura da Cia. Caipira. Permeando pelo público, oferecia o privilégio de uma relação íntima e única com a artista. O convidado é equipado com fones de ouvido conectados a um mp3 player; a trilha sonora é pretexto para num átimo sentir-se envolto, a ponto de perder o fôlego diante da intensidade dos movimentos próprios de um momento singular, com a ciência de que a expressão da alma em passos verdadeiros nunca se dá duas vezes. Tal qual esboço do hábil desenhista que capta o movimento do corpo que passa, Estudos para dia sem sapatilha trata da essência, ao passo que flana sem intermédios pela multidão e supera a distância que a sapatilha delimita entre a dança e a vida.

Neila Andrade diz que a Cia. Caipira não almejou agora grandes espaços e nem procurou destaque no evento, está interessada na pesquisa, por isso deixa claro que vieram realizar estudos – se dispensam sapatilhas, ainda mais palco; mas têm ocupado os espaços. A performance foi levada para a Mostra Audiovisual de Cambuquira (MOSCA) em julho do ano passado, em outubro na Unesp Araraquara e este ano, em março, novamente na Unesp, em ocasião da programação dedicada aos calouros. Possuindo também outras propostas, A Cia. Caipira – Grupo de Dança Contemporânea de Araraquara é formada pelas bailarinas Dany Gianotti, Hiadine Correa e Neila, com Direção de Maria Moema. Focado no trabalho artístico, o grupo não discute inserir-se no Colméia Cultural, mas poderemos ter a felicidade de nos deparar com as meninas já nesse Festival Gaia. Não é de se pensar duas vezes e acabar deixando de prestigiar a respeitável produção artística araraquarense contida nesse inédito festival.

A cobertura do Programa Bluga sobre o Gaia começa aqui, em breve postaremos o que rolou. Confira a programação completa e outras informações na página do Colméia Cultural.

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