Bruno Nogueira comentava no Pop Up! uma conversa com o pessoal da Monstro Discos, um dos mais atuantes selos do independente nacional, sobre o patrocínio do setor privado para o lançamento de álbuns. Tomava como exemplo os lançamentos virtuais como os que a Trama tem feito, com patrocínios de gente grande atenta à música independente, como a Volkswagem, que patrocinou tempos atrás o lançamento do C_mpl_te do Móveis e também uns e outros festivais por aí.
A Monstro afirmava que não poderia depender destas iniciativas justamente porque este tipo de prática não é comum no país. Este cenário, contudo, parece mudar, vem se reconfigurando, tem tudo pra explodir. Justamente sobre isso falávamos ooutro dia no último texto Quanto tempo até a Nike ter o seu próprio festival de música?, ao apontar que o número de festivais que levam no nome uma marca só cresce e está atento ao independente nos últimos tempos.
Bruno acerta mais uma vez ao apontar que todos estes selos já usam destes patrocínios ao em muito se valerem dos festivais independentes que levam em seus estandartes uns e outros patrocinadores e apoiadores culturais.
Já houve e continuará havendo verbas públicas sendo investidas em festivais, porque a posição do brasileiro hoje majoritariamente enquanto classe média aponta para esta carência, senão lhe dá poder para outro nicho de consumo, buscando mais lazer, mais entretenimento. Da mesma maneira, verbas públicas são destinadas a produção de álbuns, por meio de editais e outras tantas formas abertas aos atentos e espertos. Obviamente o investimento privado também surge no setor, tanto pela estúpida e genial isenção de impostos garantida pelas leis de incentivo fiscal, quanto pelo patrocínio que propicia a visibilidade das marcas a um setor bastante específico, permitindo boa penetração destes nomes.
Entrevistava lá também Leo Bigode, que dizia que os álbuns lançados pela Monstro tem sempre algum retorno: "Alguns sim, outros não, um título acaba vendendo mais que o outro.” “Vender discos é como vender macarrão. O Spaghetti vende mais que que o penne e um acaba bancando o outro”. Isso lembra exatamente o que André Midani, chefão das maiores gravadores no século XX, diz em seu livro Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download sobre seus catálogos quando usava de modinhas e coletâneas genéricas do samba ao tango para começar a sustentar os nomes que viriam a ser a Bossa Nova e figurar toda a MPB como a conhecemos hoje. Fato é que música ali era dinheiro. E ainda é, talvez noutra abordagem.
Logo, há que se tornar uma prática recorrente tanto os festivais quanto os álbuns, - daqui a pouco até as bandas - terem patrocínio privado, afinal, as empresas não estão fazendo isso mesmo quando a crise está instalada lá fora? Claro, há quem diga que o reflexo dela aqui dentro não é sentido, mas isso é outra história... É possível que um abalo economico míngue os patrocínios, assim como isto pode se tornar um padrão. O mercado se infiltrou em todos os setores, porque não se inserir aqui, procurando se empoderar do poder tornar legal o download de música por aí? Bem dito foi, os selos AINDA não topam patrocínio.
Um comentário:
Gosto do trabalho da Monstro com o The DT's e provavelmente eles tiveram uma participação ativa na organização do 2o Contato, para viabilizar a vinda da banda.
Todavia, acho estranho o posicionamento do Leo Bigode. Acho pouco racional o pensamento que está tudo bem lançar discos e perder dinheiro. A menos que os donos do selo sejam super altruístas e abonados, não existe perenidade do selo (e, consequentemente, da proposta).
Concordo que o selo não deva depender de patrocínios. Mas as coisas tem que estar separadas. Uma coisa é o sustento do dia a dia do selo (salários, aluguéis, investimentos em equipamentos etc) outra coisa é o lançamento de discos que deveria ser tocados como projetos e, estes sim, receberem patrocínio.
Dessa maneira o selo elimina o risco de perder dinheiro lançando álbuns desconhecidos e deixa de 'vender o almoço pra comprar a janta'.
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