Quanto tempo até a Nike ter seu próprio festival de música?

Uns tempos atrás, começaram a pipocar festivais levando o nome de grandes marcas. Free Jazz Festival (patrocinado pela Souza Cruz e seus cigarros Free), depois Tim Festival, só pra citar os mais recentes, porque isso é coisa que sempre aconteceu. Hoje, notando algumas das coisas que circulam nesta época maior de propaganda, digo, de Copa, há que se indagar algumas coisas mais, e dizer pelo menos duas.

Primeiro, todo mundo sabe que o universo da propaganda é maligno, aproveitando todos os espaços para inserir uma marca. Em se tratando de espaços de grande visibilidade, era regra estar lá quando milhares iriam ver seu nome. Seja o desfile cívico, seja o jogo de futebol, lá estavam os grandes nomes em cores berrantes, desde muitas décadas atrás. E estes números foram potencializados com o advento dos canais de comunicação. E já que estamos mesmo em época de Copa do Mundo, não basta dizer que aí nasceram os muros dos estádios com letreiros, as placas ao redor dos gramados, a poluição às camisetas dos times, a grama cortada com logomarcas e o dirigível da Goodyear. Temos de dizer que eles são muito, MUITO espertos.

Mais recentemente, forçada pelas próprias dinâmicas sociais, a propaganda se expropriou dos canais de comunicação a ponto de subvertê-los. Não mais se tem o jogo de futebol pra propaganda ser enfiada no meio a cada dois comentários ou um passe. Chegou-se ao cúmulo de ter primeiro a marca e por conta disso surgir o jogo. Mas isso também é velho, vide aquela tal Copa Toyota. Só que agora com YouTube e redes sociais e a lógica dos virais, a coisa ganha novo fôlego, com os mesmos milhões gastos.

Tudo gritante, sempre. Mas nunca gritaram tanto quanto no tão falado vídeo da Nike para a copa, Write the Future. Ou seria Nike Write the Future?


Eles gritaram desta vez dizendo pra todo mundo que eles ditam os rumos do mundo. E ninguém se importa. Nunca foi tão evidente a indústria declarar a que veio e tudo o que faz para se projetar, se aproveitando de tudo e de todos, e o consumidor, o mundo, aceitar sem questionar, justamente porque é o que ele espera depois de todos os processos. Aqui fica dita a primeira coisa. E com trocentas estrelas do mundo da bola, sujeitos de outros esportes, conseguindo até o espaço dos Simpsons, é genial. É dirigido por um gênio, aliás, Alejandro Iñarritu, que arrasta consigo Gael Garcia Bernal. Usa uma mescla espetacular de linguagens cinematográficas, impecável. Milhões, mesmo. E com retorno certo, aliás.

Mas, claro, eles não param por aí? Aproveitando-se novamente da copa, com amparo de todos os meios online, criam uma propaganda viral naturalmente, como tem que ser, via YouTube e twitter.


É outra sacada genial. Aproveitam-se do momento, resgatam um clássico da música brasileira envolvendo o tema que ficará na boca do mundo pelos próximos dois meses pelo menos, agregam ali um artista que todos conhecem lado a lado com outros tantos nomes de uma nova geração, catalizando outro hype.

Então, qual é o próximo passo? Aqui, dizemos a segunda coisa. Bom, bom de uns tempos pra cá, pipocaram os tais festivais de música. Trocentos deles levando do nomes marcas de renome, passando pelos refrigerante e cervejas, às mais variadas épocas e mais variados estilos. Fato é que poucos destes festivais sobrevivem. Skol Beats, Tim Festival. Teremos este ano mesmo? 

Mas hoje mesmo há iniciativas mais espertas, feito o Levi´s Music, atento desde a música independente e o instrumental ao fenômeno emo desvirtuado que acomete o país; Há as várias noites que o Conexão Vivo promoverá, explorando uma votação online que põe no ar seu portal que tenta se inserir em espaços de um moribundo MySpace; E o veja lá a Natura atacando em diferentes frentes, com o edital Natura Musical 2009 rodando o pais em várias cidades, Natura Festival Nós About Us, portentoso, no fim do ano. 

Que acontecerá, veremos. Fato é que nenhum dos festivais velhos sobreviveu. Por que? Porque eles não souberam usar das ferramentas, porque há trocentos festivais mais inteligentes crescendo no país, saídos das ligações que a música independente vem fazendo, da própria iniciativa de terceiros que sabem como fomentar melhor sua marca do que os marqueteiros grandes. Talvez nem estes durem muito.

Mas e aí, a Nike vai fazer? Talvez não precise. O próprio vídeo por si só deve ser mais proveitoso, menos oneroso com certeza. Mas se fizer, vai ser pouco foda. E se esta for a proposta, vai ser feito pra persistir.

E se você não entendeu nada, já que era pra ser um blog sobre música, bom, a trilha sonora do Write the Future é feita com Hocus Pocus, do Focus. E se você não sabe que raios vem a ser Umbabarauma, é bom anotar todos os nomes que rolam naquele vídeo que muita coisa há que se ouvir ainda.

Um comentário:

Anônimo disse...

http://fr.biz.yahoo.com/04062010/395/le-ballon-rond-influence-les-marches-actions.html
Ainda que sob o viés mais passional dos "investidores" e menos ganancioso da firmas, as ocnclusões são iguais...