E estivemos na Virada Cultural!


Mas qual delas? Agora há tanto o grande nome da Virada em Sampa, a dita Paulistana, quanto da Virada Cultura Paulista, por outras trinta outras cidades no interior e litoral. Bom, foi pra essa última que voltamos nossa atenção desta vez. E isto por que? Há que se tecer alguns comentários sobre as duas Viradas, além do fato de que elas trazem atividades culturais ininterruptamente durante 24 horas. Depois de dois anos dançando nessa época tanto por São Paulo quanto pelos confins do estado, há algo mais a dizer.

Da Virada Paulistana, surgida lá em 2005, sabemos que só veio ganhar grande atenção da mídia em 2007, explodindo em 2008 e 2009 em termos de público. Estivemos lá, nos dois anos. Já da Virada Paulista sabemos que agora em 2010 se tem seu auge, quarta edição, atingindo muito mais cidades com boas propostas e atrações por seus espaços. E enquanto a primeira atinge milhões de pessoas desde sempre, devendo ter atingido seus cinco, seis milhões, talvez mais nas últimas edições, a segunda deve ter batido este número apenas ano passado e possivelmente o dobrado este ano. A primeira, obviamente é promovida dentro pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo. A segunda, pelo Governo do Estado de São Paulo, com apoio de secretarias e coordenadorias municipais envolvidas com Cultura e lazer em cada cidade em que acontece.

E dizer isto tudo também significa dizer que a última tende a crescer mais e mais e a primeira definhar, enquanto ferramenta, como dá seus primeiros sinais já. A primeira atrai e provavelmente continuará atraindo não só o paulistano, mas o paulista e talvez uma parcela de outros estados, em especial os do Sudeste e Sul do país. Mas a segunda, a segunda leva estes mesmos aspectos, claro, em menor escala, diretamente a casa destes sujeitos, o que faz toda a diferença em se tratanto de Cultura. Não seria de se admirar que logo mais a Virada atinja mais cidades e estados, como já se deu com o Rio de Janeiro.

Com isso também queremos dizer que a Virada Paulista perdeu força. Há tanto o desgaste do formato, caótico, que paralisa a cidade por 24 horas, quanto a necessidade de renovação da proposta. Isto acontece de certa maneira em outros campos das artes nos últimos anos, quando a Virada vem oferencendo cada vez mais instalações e performances, e mesmo RPG e "Cultura Nerd", mas no campo que nos toca mais aqui no Programa Bluga, a música, isto se mostra mais difícil. Ao mesmo tempo em que uns querem ver exatamente os mesmos palcos com o mesmo nicho de artistas se apresentando - e a isto a Virada vem atendendo, repetindo-se ano a ano, outros procuram o novo. E é realmente difícil ir contra esta corrente, frente as possibilidades que se apresentam não só ao num único dia megalomaníaco que é a Virada, mas ao longo de todo o ano, seja presencialmente com os artistas fazendo muitos, mas muitos mais shows quanto pela relação indireta de vê-los em diferentes veículos, do rádio à televisão, online ou offline.

Contudo, ainda figura-se um grande veículo de difusão cultural. O hype da Virada surge e atrai milhares invariavelmente, muitas delas que doutra maneira não veriam (talvez  sequer saberiam da existência) de atividades como as propostas ali. Por um lado isto é positivo, carrega cultura a outros horizontes, propiciando diferentes perspectivas aqueles que entraram em contato com estas atividades. Por outro, é mais uma prova da sociedade do espetáculo, reflexo dos processo da indústria cultural: só consegue se atrai este público por meio do grande evento, da grande exposição, da esmagadora publicidade, chegando ao fetiche não-acredito-que-você-não-vai-a-virada. Certamente fossem dias comuns, de teatros e SESC, nem Yann Tiersen nem Cat Power teriam o milhar de pessoas que foram atraídas na ocasião. Que dirá o transtorno todo em São Paulo.

Mas isso não é suficiente. Isto é pobre, isto é mais do mesmo, em especial quando se replica mais uma vez o visto sempre à grande mídia. Não se nega o mérito da Virada em determinadas instâncias, mas ainda transparece que apesar de tudo a política apresentada ali é dúbia. Serve como propaganda aos governos, isenta eles e todos os produtores culturais de culpa ao fazer este papel quando a dificuldade de acesso à Cultura é enorme. Botar os artistas do Credicard Hall pra tocar de graça na praça não é o que importa.

Claro, estivemos na Virada Cultural. E provavelmente estaremos, sempre que houver algo bacana a ser visto. Mas mesmo estes dias estão terminados. Quando antes tinha-se que ponderar e muito sobre que ver a ser apresentando ao mesmo tempo nos diversos palcos da Virada Paulistana, agora seria simples. Esta é uma das razões pelas quais não fomos em massa para a Virada Paulistana, só uns e outros se decidiram por tanto ou já estavam lá. Entretanto, a principal razão é ali não se apresentar nada de novo. E desta vez, não falamos de nada inovador. Falamos de algo que não tenhamos já visto ou que possamos ver. Hoje, se pode ver tudo. Seja o nome mais absurdo da música do Pará, ele passa por você em turnê. Seja o projeto multimidiático mais estrambólico, dá pra você ter acesso a ele nem que seja online. Vem a calhar estar tudo reunido num raio de sete léguas na mesma hora, mas vale a pena?

Agora, estivemos mesmo foi na Virada Paulista. Porque ela veio aqui pra casa. Ela veio pra São Carlos. Não que a cidade não se sirva de uma vintena de fins de semana ao longo do ano que param a cidade. Trocentas festas, trocentas noites, trocentos festivais. Era só mais um. Mas não custa ver mais um, tão fácil, não é?


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