Cobertura: 2º Festival Contato - Mudhoney


Nota do Editor: E vai mais uma também do 2º Festival Contato, das duas matérias publicadas na RUA pelo pessoal aqui do blog. Para agraciar mais nosso leitores, também vão fotos, nunca publicadas antes!

No domingo de 12 de Outubro, o 2º Festival Contato culminava na apresentação do mítico Mudhoney. Mito – pela sua história, pontapé inicial de todo o gênero – mas não uma ficção. A banda vem mostrar que o estilo que colocou Seattle no mapa ainda vende roupas flaneladas para toda uma nova geração, fato percebido aqui pelos estadunidenses, que voltam para o Brasil depois de passagem ainda em 2007 por São Paulo e dentro do Porão do Rock.

Desta vez, na turnê de seus 20 anos, visitam Londrina, Rio, São Paulo, BH e Goiânia, além de São Carlos, em sua única apresentação gratuita no país, pela mais uma vez brilhante iniciativa da UFSCar. A convite da RUA, o Programa Bluga foi convidado para fazer uma cobertura do show, e cá vamos a ela.

Com Mark Arm no vocal e segunda guitarra, Steve Turner na primeira; Dan Peters na bateria, ainda da formação original, além de Guy Maddison no baixo, o Mudhoney subia ao palco às oito e meia numa noite de céu limpo, a despeito do chuvoso dia anterior. Abriam o show com The Money Will Roll Right In, em cover do Fang. Trata-se de música com história tão fantástica quanto a da banda, já que foi tocada por (e com) outros tantos de Seattle. Infelizmente, apesar deste show transcorrer no palco principal do Festival, a faixa foi cantada inteira sem a saída do vocalista para o público. E ele não percebeu o fato, já que tinha retorno em seu monitor, até que um tênis foi arremessado, quase atingindo o palco, em protesto e quem sabe um alerta aos músicos ali.

Contudo, a banda não se abalou e após esta frustrada tentativa de agradar aos velhos fãs, emendaram o excerto que apresentaria as composições do novo álbum. O problema só foi resolvido à altura da segunda faixa, após a mesa de som ter matado canal por canal a caça da falha.


Em sua segunda faixa apresentavam I’m Now, interessantíssima, embora sem os simplórios teclados que marcam a versão de estúdio e com os vocais ainda carecendo de cuidados pela mesa. Seguida da não menos bacanuda The Lucky Ones, com voz já acertada, deixando Mark começar a empolgar o público. As projeções que se iniciavam no telão se juntaram a faixa, dentro da proposta de recombinação do Festival, dando nova leitura ao termo “multi-mídia”. Dan Peters, com uma bela passagem na bateria, acompanhada das primeiras palmas compassadas que marcariam suas outras incursões solo na noite, encerrava a faixa para trazerem ainda Next Time.

Pertencentes ao The Lucky Ones, lançado este ano, estas três faixas refletem um Mudhoney moderno, embora o trabalho não tenha sido nem um pouco bem recebido pela crítica, ainda esperançosa por novos rumos do mesmo daquilo que foi criado e deixado na década de 90. Já com seus integrantes quarentões, trejeitando-se mais comportados, deixa-se de lado um pouco a atitude do Punk, mantendo os instrumentos intactos até o fim do show, e passa-se a enxergar o mercado atual.

Agora assumindo também sua guitarra, Mark Arm faria par com Steve Turner doravante, para começarem a passear por todo seu trabalho anterior. Trouxeram You Got it, que fez nascer a primeira rodinha à frente do palco, com mais uma das investidas da platéia para exaltar empolgação (ou esperamos que tenha sido isso e não um vandalismo), levando outro sapato, bem mais perigosamente que o primeiro, a quase atingir o vocalista. Na seqüência, em pronto atendimento ao camarada trepado em ombros que flamejava uma camiseta com o nome, Suck You Dry, necessária e mandatória, com o primeiro coro do público acompanhando o forte refrão, como também fariam na seqüência em Inside Job com “Oh! Let me in, Let me in Oh!”.

Belos riffs da guitarra de Turner marcariam o começo de Blinding Sun. A voz de Mark entra perfeita ao longo da faixa, não devendo nada aos anos passados, enquanto a platéia segue pulando seu pogo no ritmo do baixo de Guy Maddison, até os três das cordas explodirem no grito “What have I done?”.

Com Mark trocando para outra guitarra, trouxeram o duo mais clássico de todos, primeiro com Sweet Young Thing Ain’t Sweet No More, em sua ode às menininhas rebeldes. Vieram com um arranjo pesado, com muito bumbo e as características guitarras altamente distorcidas sentindo-se em casa, para lembrar que o Grunge nada mais é que um cruzamento do Hard Rock setentista, que viria a ser chamado posteriormente de Metal, e do Punk, em contraponto. Fechando a dupla inseparável, Touch Me I’m Sick, acompanhada entusiasticamente pelo público, certamente a mais conhecida de todas suas faixas.

Com Mark Arm em outra troca de guitarra, trouxeram Who You Drivin’ Now. This Gift seria a próxima, com a excelente marcação de Dan Peters deixando espaço para Turner brisar, enquanto o vocal lhe oferece a tentadora proposta de certo presente, um tanto quanto ameaçador por sinal, o que faz o tom da faixa. Nisso, conseguem o primeiro crowd surfing da noite, que caminha três ou quatro vitoriosos metros no mar em pessoas ali. Hard-On For War, com outro tema forte, e desta vez muito verdadeiro, transpondo o mote também nas guitarras da banda.

Naquele clima que encaminha para parcela final de todo show, a baladinha When Tomorrow Hits acalma os ânimos dos espectadores, num ar de marasmo, ao mesmo tempo que em estupefação, com o quê da época de ouro dos conterrâneos iluminados, lembrando composições como Lithium e Polly.

In ‘N’ Out Of Grace faria suas vezes agora trazendo certa psicodelia, na sua intro em extendida distorção, casando com as projeções do VJ, de um garoto brisando aos alucinógenos. Terminada a curta letra da faixa, vem mais um dos solos de Dan Peters (mostrando a técnica que o define), acompanhado do singelo baixo de Maddison (como na original) e novamente acompanhado das palmas de toda a platéia. Voltando para o final instrumental, as guitarras de Turner e Arms incendeiam a multidão.

E ali vinha o final do show, com Mark num ensaiado “Obrigado, São Carlos!” pegando todos de surpresa, passada uma hora de palco apenas. Mark, ironizando toda a situação, dizia “Thank you all for coming to the FREE SHOW in the park….” E continuava, depois de deixar a guitarra de lado e tomar fôlego, “In the future, I’ll ask you not to trow shoes in the Singer. Trow them to the Police!”, que anunciava a todos os conhecedores o cover da banda The Dicks, Hate The Police, relevando o gosto da banda pela pegada Punk..

“Obrigado, boa noite!”, com os quatro deixando o palco, levou a platéia toda a insistentemente bater palmas pedindo mais. Claro que era só olhar pro palco pra notar que ninguém desmontava instrumentos e pensar um pouco pra saber que eles voltariam.

E obviamente veio um encore, mais pesado e rápido, com seis faixas, a começar por Here Comes Sickness que levou a muito, mas muito mosh com a galera da frente, e vários dessa tentando deslizar por sobre as cabeças da multidão. Trouxeram ainda The Open Mind, do novo álbum, o inesperado cover da banda Pere Ubu, Street Waves, rendendo um inesperado e brilhante solo de Steve Turner, Tales of Terror, outra do novíssimo, além de Judgement, Rage, Retribution & Thyme. Para encerrar de vez, como na abertura do show, fizeram outro brinde ao público, encerrando este segundo excerto com Fix Me, cover do Black Flag, marcando na mente a figura do vocalista empunhando com força o microfone e fazendo felizes os fãs do Hardcore nestes minutos a mais.

Em se tratando de um show da turnê comemorativa, aliada ao lançamento de uma edição de luxo especial do Superfuzz Bigmuff, seu primeiro EP que lançou a Sub Pop ao mundo e dando seqüência a toda cena do Grunge, o Mudhoney varreu seu trabalho nesta noite, trazendo ao presente uma geração passada, afirmando-se como bem diz a já tocada naquela noite faixa de seu recente álbum: I’m now!

No blog do Programa Bluga também é possível ler a cobertura completa do primeiro e segundo dias do Festival. Confiram!

Vanderlei dos Reis Filho é graduando em Engenharia Aeronáutica pela USP de São Carlos e escreve para o blog Programa Bluga.

Fotos: Vincent de Almeida e Caroline Pazian

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