Quando adentrei o salão onde seriam realizados duas apresentações que desejava muito ver, o Dialeto montava seu equipamento. Ao começo do show, além de deixarem luzes brancas de apoio acesas que tiravam o clima de show, uma das primeiras coisas que me surpreenderam foi o quão segura a banda parecia, mantendo uma sonoridade mais pesada e intensa por toda a apresentação.
Intensidade, talvez a palavra que melhor descreva o Dialeto ao vivo. Sem a preocupação de formar um público e madura o bastante pra inventar e reinventar seu próprio estilo, estava na expressão de cada um dos músicos que aquilo era feito por prazer. Mantiveram a performance em palco que evidencia uma intimidade e devoção à música convertida em simplicidade na apresentação e credibilidade com a platéia.
Abrindo o show com a fortíssima Existence, que busca inspiração no ritmo árabe característico, tinham o público em suas mãos. Não havia dentro daquele salão que não se dispusesse a acompanhá-los no ritmo contagiante que você espera ouvir numa caravana pelo oriente.
Apesar de fortes influências do oriente acompanharem todo o show, a filosofia da banda não se deixa satisfazer bebendo de uma única fonte. Unindo as tradições folclóricas às novas tecnologias eles obtém um som moderno, chegando inclusive a se aventurar no Jazz-Fusion, como na música Divided by Zero, que demonstra a competência e integração que os músicos alcançaram.
Destacava-se lá também a psicodelia lenta e contagiante de Madame Blavatsky, que com sonoridade constante e introdução com vocal em tom de declamação, cria uma tensão que te segura até desembocar em solo de guitarra que não fica devendo nada aos grandes mestres. Tudo isso acompanhado por performances impecáveis de baixo e bateria.
Com Nelson Coelho nos vocais e guitarra, Andrei Ivanovic no baixo, e Miguel Angel na bateria e backing vocals, forma-se o Power Trio que junta influências de todas as partes e períodos do mundo, resultando num grupo que foge de rótulos ou estilos. Eles fazem música, boa, por amor e prazer. O que mais vier é conseqüência.
Já o Violeta de Outono, é uma banda que me impressiona sempre, desde a primeira vez em que os vi, com a responsabilidade de abrirem um show do Focus. O sentimento repetiu-se na turnê com Daevid Allen, idealizada e acompanhada pela banda, tão comentada neste blog, ou ainda nos seus muitos tributos, e vale lembrar, dos MELHORES tributos que já vi. E junta-se a essa invejável agenda a apresentação de domingo, 12 de Outubro.
Todo o evento correu pelo Rock na Vitrine, projeto da Galeria Olido em parceria com a Galeria do Rock, idealizado por Luiz Calanca, da Baratos Afins. Esta edição contava também com a bandas Os Baratas Organolóides, que infelizmente cheguei atrasada demais para acompanhar, além do Dialeto e do mote desta resenha, o Violeta de Outono.
A formação atual do Violeta conta com Cláudio Souza na bateria, Gabriel Costa no baixo, Fernando Cardoso nos teclados e na guitarra, Fabio Golfeti. Guitarra essa que transcende os limites do instrumento, bebendo de fontes como o glissando guitar imortalizado pelo Gong. Golfeti abusa de distorções, psicodelia e improvisação, enfim, do conceito de Space Rock, que norteia todas as apresentações da banda.
Talvez o maior mérito do Violeta seja fugir um pouco da sonoridade orquestral do Progressivo Sinfônico, que tanto os aproxima das bandas do Canterbury Scene, sem lançarem-se no experimentalismo puro e sem referências. Nisso, acertam em cheio ao unir a complexidade musical com a fácil assimilação, sempre um dilema, conseguindo uma sonoridade confortável e inovadora. Quando menos se percebe você é levado por um clima etéreo de melodias espaciais e timbres brilhantes. Fechar os olhos junto com os músicos é se deixar conduzir rumo ao infinito.
E neste infinito, ressalta-se o novo álbum do Violeta, intitulado Volume 7. Com toda uma maturidade já adquirida, o trabalho parece ter atingido o ponto para o qual a banda sempre se voltou, roubando então toda a atenção para si. Num mundo em que estamos acostumados com verdadeiras odes aos primeiros discos da carreira de cada banda, é extremamente relevante alguém ter seu último material destacando-se.
Vale citar a belíssima faixa Além do Sol, com linha vocal forte – em provável referência a Criaturas da Noite da banda O Terço – que te arrebata desde o inicio, mesmo quando deixa de acompanhar o instrumental, que se desenvolve com guitarra e teclados. Durante a faixa toda, a voz continua lá, coisa que só os melhores arranjos vocais propiciam.
Não pode se deixar de comentar também a versão de Tomorrow Never Knows, dos Beatles. Uma improvisação em cima da música que representa todo o início da psicodelia e influenciou um mundo de pessoas não poderia ter sido melhor escolhida ou melhor executada.
Cabe também ressaltar Fronteira, uma das composições mais representativas da noite. O amálgama do Canterbury, a improvisação típica do Jazz, o impacto da Psicodelia, aliados a suavidade e delicadeza sonora característica acabam sintetizando numa faixa a essência do Violeta. Em uma performance que beira a eternidade, abre-se um lapso no tempo e espaço, e em plena São Paulo, transporta-se todos a seus próprios planetas atemporais.
Texto e Fotos: Carolina Scoponi
Vale citar a belíssima faixa Além do Sol, com linha vocal forte – em provável referência a Criaturas da Noite da banda O Terço – que te arrebata desde o inicio, mesmo quando deixa de acompanhar o instrumental, que se desenvolve com guitarra e teclados. Durante a faixa toda, a voz continua lá, coisa que só os melhores arranjos vocais propiciam.
Não pode se deixar de comentar também a versão de Tomorrow Never Knows, dos Beatles. Uma improvisação em cima da música que representa todo o início da psicodelia e influenciou um mundo de pessoas não poderia ter sido melhor escolhida ou melhor executada.
Cabe também ressaltar Fronteira, uma das composições mais representativas da noite. O amálgama do Canterbury, a improvisação típica do Jazz, o impacto da Psicodelia, aliados a suavidade e delicadeza sonora característica acabam sintetizando numa faixa a essência do Violeta. Em uma performance que beira a eternidade, abre-se um lapso no tempo e espaço, e em plena São Paulo, transporta-se todos a seus próprios planetas atemporais.
Texto e Fotos: Carolina Scoponi
Nota Editorial: Eis o primeiro texto de um colaborador para o Programa Bluga, das mãos da amiga Srta. Scoponi. Com esta iniciativa, abrimos espaço para que outros também nos ajudem a mostrar a um público bandas que merecem destaque. Entre em contato!