Anotações do Show: Móveis Coloniais de Acaju, no Festival de Calouros da UFSCar 2008

Em mais uma louvável iniciativa da Rádio UFSCar, promovendo a segunda edição do seu Festival de Calouros no dia 15 de Maio de 2008, São Carlos é agraciada com o grupo do mundo independente de Brasília, que está quase por cair no mainstream, Móveis Coloniais de Acaju.

Como o Programa Bluga esteve lá para puramente curtir a noite na Praça do Mercado, trazemos mais uma vez a sessão Anotações do Show, comentando brevemente as “vagas opiniões” e o setlist.

Em se tratando do Festival, algumas bandas interessantes estavam lá mostrando seu trabalho. Outras, nem de longe trabalham. A primeira que se pode apreciar dado o horário das apresentações foi o grupo Cubanistas, para o qual só os mais desavisados precisam de explicações: Salsa, Merengue e Mambo. A formação na ocasião trazia um excelente trompetista e delicioso vocal feminino, acompanhados de baixo, guitarra, bateria, trajados a rigor. Muito embora exista espaço para clássicos do ritmo cubano na cidade, considerando-se o grande número de latinos na cidade, talvez não fosse o público ideal para o quinteto. Mas perto do que viria, os trinta minutos cedidos a eles foram bravíssimos!

Na seqüência, calouros do curso de Biologia formaram (às pressas?) o Mitoses Assassinas. Como proposta, apresentar o Mamonas Assassinas. Mas a máximo de homenagem que fizeram foi à Roberto Carlos com uma flor presa a orelha, já que o som era execrável. Felizmente não duraram mais que dez minutos.

E perto da sofreguidão dos Mitoses, frustrados tocando uma banda frustrante, a banda T.I.M.E, com repertório embasado em U2, Cold Play e Maroon 5. Apesar dos pesares, seus vinte minutos foram escassos, deixando uma tietagem pedindo bis. Apesar do nome pomposo de Transcendental Innovative Musical Experiment, este pessoal da Engenharia Civil trazia apenas um Pop/Rock internacional, tocando as mais tocadíssimas das rádios.

Pra quem sabe salvar o nome dos Calouros da UFSCar, surgiu o Javali Underground, com uma inspirada apresentação instrumental, incursionando pelo Fusion. Guitarra, teclados, baixo e bateria que precisam ser visto de novo e com mais delonga.

Pra fechar a participação da UFSCar, nada mais clássico do que trazer a bateria da Atlética. Nada a declarar, porque a rivalidade não permite a imparcialidade... Como se algum infame conseguisse escrever sem ser parcial!

E para o ponto alto da noite, vinham os Móveis num microônibus endereçando Brasília, chegados de pequena turnê pelo estado, ainda a tempo de ter visto a bateria tocar seu hino inclusive.

Com seus muitos músicos ao palco, ainda assim notava-se a falta de uma das figuras, Leonardo Bursztyn autor de várias das músicas. Mas estavam lá todos os demais integrantes da trupe: André Gonzales nos vocais, BC na guitarra, Beto Mejía na flauta transversal, Eduardo Borém-perna-quebrada-e-tudo, na gaita e teclados, Paulo Rogério no sax, Esdras Nogueira no sax barítono, Xande Bursztyn no Trombone, Fabio Pedroza no baixo e Renato Rojas na bateria.

Às oito e meia da noite, entram com uma brilhante Menina-moça colada com Swing Hum e Meio, pra lembrar Swing I e II do primeiro EP. Conhecidas a parte, trazem a nova Lista de casamento, ainda por ser gravada em estúdio, com uma passagem de refrão geniosa e carregada de ironia.

Na seqüência, uma releitura do clássico do Ultraje a Rigor, Eu me amo. Esquilo não sambaCheia de manha, que não se soou muito bacanuda de primeira ouvida, como mais do mesmo. maravilhosa como ela só, e mais uma nova,

Perca peso e Seria o Rolex?, arrebatadoras. O público cresceu ao longo das apresentações do Festival, se concentrando para o Móveis Coloniais, e ali estavam suas quatrocentas pessoas, com massiva maioria não só embalando-se, mas cantando letras e mais letras.

Viria ainda outra nova, já disponibilizada como single pelo Trama Virtual, Sem palavras. Sadô-masô logo depois, com um excerto de Hit The Road Jack, como imortalizada por Ray Charles, fazendo todos cantar AQUELE embromation.

Aluga-se-vende, pra trazer mais uma importada, Glory Box, em EXCELENTE versão desta do Portishead, pra tentar fechar com Copacabana. Irresistível, o público obedece ao roteiro e faz a manha, voltando então os sujeitos relembrando o cancioneiro popular com Se essa rua fosse minha. E pra atender os sempre presente pedidos de “Toca Raul”, uma nobre versão de Como vovó já dizia, pra fechar de verdade com Do mesmo ar.

IMPRESSIONANTES ao vivo. André brisando, brisando no palco, sem parar um único segundo. Suas evoluções e revoluções compensam todo o vocal que não é lá essas coisas fora das gravações de estúdio. Impagável, empolgante, contagiante.

Geniais, com inúmeras brincadeiras daquele sem número de músicos no palco, essa big band parecia por vezes brincar de estátua, com todos correndo para lá e para cá, pra parar nas poses mais inusitadas, dignas de fotos. E claro que houve, além de um mosh incitado pela platéia do fronte, mas também uma bacanuda incursão dos membros da banda junto ao público para tocar no meio destes e levar TODOS a bailar. Divertidíssimo!

Ficou faltando apenas o pedido do público empossado no “GREGÓÓÓÓRIO” e quem sabe, de quebra, Cego. Em conversa com Renato Rojas, descobrimos que essa é requisitadíssima pelos cariocas. Por que será?

Subtraímos mais algumas coisinhas do pessoal da banda. Posto o número de faixas novas que eles vêm tocando ao longo de suas apresentações, como se pode conferir neste show, tinha-se de perguntar como anda o processo de gravação. Segundo Mejía, eles devem estar entrando em estúdio apenas no meio do ano, finalizando o novo álbum por dezembro, pra lançá-lo ao grande público possivelmente em março de 2009, o que é muito bem-vindo!

Ainda, mais uma do Rojas, para o Móveis Convida deste ano. O baterista nos confissionou que a banda procura trazer um grupo do cenário sul-americano, com quem sabe uma banda da Argentina ou Venezuela para o evento em Brasília.

Estendendo a conversa, ainda ficou no ar uma ação grande da banda, incursionando “por aí”. Conversou-se também sobre o próprio fato da banda estar comendo as bordas do mainstream, enquanto ainda está atrelada a um selo independente e continuará atuando assim enquanto isto se mostrar vantajoso, muito embora eles estejam procurando vincular parcerias com a mídia.

Pelo show excepcional, ficou a vontade de vê-los de novo, e pela conversa do pós, ELES também parecem querer voltar, com toda a certeza. Esperemos que seja logo!



http://www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br/
http://www.myspace.com/moveis
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=81265
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=6232
http://www.fotolog.com/moveis
http://www.youtube.com/user/moveiscoloniais


Resenha: Mentecapto no Caibar, em Araraquara

Mais uma sai da lista Perdidas-ao-longo-da-vida: a banda Mentecapto se apresentou no Bar Caibar em Araraquara, no sábado último, dia 10 de Maio, e o Programa Bluga TEVE de ir lá conferir.

Deixamos de ver estes mogianos tocando no 1º Festival Contato em razão da força maior, mas ainda havíamos de vê-los tocando. Descoberta a agenda da banda passando por Araraquara, lá fomos perscrutar o Caibar, casa com cara de São Carlos perdida nessa tal cidade vizinha. Nannda, simpaticíssima sócia do bar, e o marido(?) William tiveram a grande iniciativa de levar além do ‘de sempre’ a música da noite local, tornando-se os únicos a oferecer algo do gênero ali. Contudo, falando com ela sobre os pormenores do minguado cenário rock da cidade (apesar de Araraquara Rock e afins), só resta pedir que eles continuem com o pique e desejar sorte. Mas prometemos voltar lá!

Abrindo as portas praticamente junto com os donos e as duas bandas da noite, entravamos no ambiente TODO em preto do Caibar, pra esperar a noite começar. E com a banda de abertura Insônia, este começo não foi muito produtivo, em razão do péssimo ajuste de som em que a banda tocou. Contudo, o pouco que passava por essa barreira não parecia nada prazeroso. Era apenas uma banda da cidade, tocando para uns poucos amigos.

E como se suspeitava desde o princípio, foram amigos os que ficaram lá. Amigos da banda e amigos do bar, perfazendo escassa plebe. Felizmente, nenhuma das duas bandas se intimidou, especialmente o Mentecapto, como veríamos logo. Quem sabe eles estejam acostumados com QUALQUER tipo de audiência.

Subindo ao palco finalmente, o Mentecapto chegou a passar o som, mas ainda não o deixou a contento. No negrume do ar, paredes e piso, posicionavam-se frente ao único contrastante vermelho-berrante de uma cortina ao fundo do palco. Mesmo prontos para partir, todos ainda esperaram o vocalista dar um beijo na cabeça de todos da banda, como num rito cerimonial.

Devidamente abençoados, vinha a primeira, ainda não gravada, que entrou num breve suave pra quebrar MUITO pelo resto da faixa. A composição então chamada Sustentada,já dava a cara do que teríamos pelo resto da noite: piração no palco. A bateria tocando mais do que o lugar parece agüentar. O guitarrista solo, em próprio êxtase, chegando a virar as costas ao público, tocando para a caixa de retorno. O vocalista, descendo do tablado, já que sua altura deixava sua testa quase batendo na viga que o encimava, pra entrar em frenesi no vasto espaço entre o público e a banda.

Ficou devendo apenas o set do som, confirmando a dúvida, de que este não estava a contento. As guitarras saturadas já características do estilo ficaram exageradas, o baixo perdeu-se na acústica do ambiente e o vocal estava ininteligível.

Mal terminada Sustentada, fizeram uma dobradinha com a já conhecida Oito, segunda faixa do EP homônimo lançado em 2007. Com os riffs das guitarras na toada do surdo e muitos pratos, mostrava-se uma entrada do melhor do Indie Rock, nivelando-os à fina flor do cenário. Seguia-se no vocal de Alexandre Lima uma letra de refrão forte, entremeada por um genial atiro de palavras. Antes ainda, um bom solinho na guitarra de André Marques, prometendo mais.

Não se vendo a banda tocar, fica difícil imaginar o performismo da trupe. Resta dizer que a altas tantas Alexandre fazia-se equilibrista, jogando-se de um lado para o outro, enquanto se apoiava na viga que ameaçava sua fronte.

Tirando o pé do acelerador e indo pra primeira dos excertos mais “calmos” do show, a banda trazia mais uma nova, ensaiando um pagodinho na bateria, abrindo espaço para um cavaquinho em corpo de guitarra. Era Lambreta, faixa das muitas que embalariam uma multidão maior, que definitivamente não era o caso da noite. O vocal ficou devendo mais uma vez pelo set, mas a faixa mostra espertos back vocals dos dois guitarristas acompanhando Alexandre.

Voltando pro naipe mais “nervoso”, apresentavam mais uma do EP: Vulgo Mentecapto. Tocada espetacularmente, a faixa se mostra a razão pela qual vale a pena conferir certas coisas ao vivo. Com mais uma das falsas entradas suaves a toque de caixa, a faixa entrou pesado com o arranjo da bateria de Leandro Garcia, que ditava o toque. lembrando algo mais, regada a um doce bumbo marcado. As guitarras corriam juntas, com Henrique Rosek na guitarra base acompanhando André, alternando-se em riffs. No meio da canção, o vocal buscava ajuda trocando-se seu microfone com o de Henrique, já que de longe o problema com o som era muito mais sentido nos vocais. Minutos da música, depois de um quase final falso, davam abertura para uma jam session da guitarra de André que deveria ser aproveitada, em meio a psicodelias da guitarra base de Henrique e a bateria de Leandro. Em seguida, baixavam-se os demais instrumentos pra deixar apenas o coro de vozes e bateria acompanhando do refrão final, fechando com a volta das guitarras.

Agradecendo a primeira ovação da meia-dúzia que se empolgou em vias de fato, Alexandre Lima soltou um irônico “Vocês são muito gentis!” de volta ao público.

E naquela retomada do samba velho da noite paulistana, veio o arranjo desta outra faixa, Você Não tem Ninguém. Este é um aspecto interessantíssimo do Indie nacional, com a mescla dos estilos da música brasileira, mesmo de sambão e pagode. Finalmente vinha aos ouvidos sonoramente o baixo da garota da banda, Priscila Ynoue, num mistério de timidez, entocada a parede, enquanto toda a banda exalta-se sempre. A troca de mike foi muito bem vinda, para trazer os monossilábicos um pouco melhores ao público, muito embora Alexandre tenha mais uma vez saído do palco, desta vez pra ouvir a própria voz de nosso ponto de vista e adequá-la. Ou quem sabe só assistir a própria banda tocar.

Seguindo, tocaram Pobre Coitado, que embora não esteja no EP, está disponível por aí. A musica carregava lindas firulinhas na guitarra, enquanto sentia-se mais uma vez o baixo de Priscila cavalgando em alto e bom som. Nesta faixa viamos um entrosamento muito bom de André e Henrique: enquanto o último dava o ritmo, o primeiro floreava com seus dedos dançando pelo braço da guitarra. Solo de André e por fim as duas guitarras brincaram juntas de novo.

Apesar de o vocal não ter estado nem um pouco claro por conta do som no Caibar, já se conhecia o trabalho do Mentecapto pela divulgação na internet(maravilha que não cabe aqui discutir). Disso pode-se dizer que as letras da banda são de um mínimo de inteligência, bem elaboradas e com arranjos de voz bem trabalhados, caindo como uma luva para Alexandre Lima.

Chegando ao meio do show, Alexandre dava uma jogada de água na cabeça ao soltar um “Eu sinto muito calor!”, o que era de se esperar ao ver o entusiasmo frenético do garoto ao cantar. E meio a isso, uma movimentação estranha acontecia na banda: André tomava emprestadas baquetas para tirar o que a molecada do Programa Bluga se recusava a acreditar: a platéia era brindada com o chimbau de Cicatriz ESP, obra-prima da melhor banda surgida nos últimos tempos, The Mars Volta, consenso dentro do Bluga (e segundo próprio André também!). Sabido era que a banda conhecia os caras, tendo inclusive sendo inquiridos quanto a covers, mas aparentemente eles não saem muito da onda rock autoral. Este que vos relata anotava o último fato, crente numa brincadeira, mas eis que o impossível acontece: alguém tocava o excerto final de Asilos Magdalena, com sua guitarra geniosa. Olhei a minha frente, Henrique Rosek, que me aponta para André Marques, embevecido! Nisso, os blugers vão ao delírio. Infelizmente, como soubemos depois, André “esqueceu-se” do resto e tocou só um trechinho. Já valeu a tentativa, trazendo ao conhecimento de um novo público esse expoente da música atual.

Claro que até então tudo cheirava a alguma outra coisa, inclusive levando a comparações da performance do vocalista Alexandre Lima em palco à Cedric Bixler-Zavala e até mesmo algumas viradinhas de bateria de Leandro Garcia a Jon Theodore. Mas até então, pura especulação. Entretanto, depois desta devida homenagem, fica clara a influência, haja visto que a banda viu o TMV tocando na edição do Tim Festival de 2004. Assim, pode-se traçar paralelos desde Priscila tocando no seu canto como de La Peña, até o fato de André tocar para o monitor, com as pernas arqueadas em esquizofrenia, por vezes ignorando o público, como Omar Rodriguez-Lopez. Será que foi arquitetado?

Recuperando o fôlego e voltando para o trabalho autoral, traziam Velório, faixa de abertura do EP, com bela letra e vocal que poderia ser apreciado mesmo naquelas circunstâncias. Entra em cena mais uma vez a empolgação da banda, que,aproveitando o espaço deixado pelo escasso público a frente do palco, usa dele para brincar, descendo desta vez não só o vocal Alexandre, mas Henrique, num lance como que se-a-platéia-não-vem-até-a-grade-a-banda-vai-até-o-público. Extravazando ainda mais, Henrique chegou a tocar a escala da guita usando o pedestal, enquanto os pratos de Leandro e a guitarra André voavam alto numa profusão de sons, pirando muito e com MUITO barulho!

Ademais, vinha outra composição inédita, que não se revelou muito promissora, mas deixou um final desejoso, que poderia ser explorado.

O Réquiem, com sua entrada arrebatadora, exaltada no ao vivo, estendendo-se na melodia da guitarra de André, enquanto sentia-se um pouco do lirismo da letra, que se perdeu no ajuste de som. Faixa perfeita pra fazer toda a casa bailar, como convidava a própria letra. Mas já que não foi o caso, Alexandre dançou só no salão com o pedestal de seu microfone. Ao final, espetacularmente Alexandre e os dois guitarristas cantavam uma ironia ao próprio coro dos três.

Na seqüência, mais uma inédita, intitulada Não faz Mal. Ou seria Brasil? Mais uma da banda, desta vez com o nome da faixa, transparecendo uma piada interna. Trazendo um excelente baixo e guitarras rapidíssimas, indo e vindo com escalas brincalhonas. Ali pareciam todos felizes como nunca dantes, empolgados, mesmo com a diminuta platéia de parcas trinta pessoas.

Terminando o show, Mayou, com um baixo ululante de Priscila e buenos riffs. Mais uma faixa linda pra dançar, que virava num forte e surpreendente final, com todos os homens da banda ao chão, como num montinho levando guitarras e tudo.

O Mentecapto, só por seu EP, já mostrava-se digno de nota, inclusive incitando a assistir um ao vivo. E que AO VIVO. Esperamos que eles sejam selecionados para o Araraquara Rock deste ano, porque precisamos vê-los com um som decente! E quem sabe também estejam presentes novamente no Festival Contato, promovido pela Radio UFSCar, Cine UFSCar, LAbI e CCS.



http://www.myspace.com/mentecapto
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=67524
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=24152696
http://www.youtube.com/user/5mentecaptos