Nos anos de 2007, 2008 e 2009 a UFSCar, através de sua Coordenadoria de Comunicação Social, junto em particular da Rádio UFSCar, trouxe ao público de São Carlos uma iniciativa interessantíssima: O Festival de Calouros da UFSCar. Realizados ali ao primeiro semestre, traziam música, dança e apresentações audiovisuais de indivíduos ou grupos que trouxessem ao menos um ingressante naquele ano às cadeiras da universidade. Este ano, contudo, quando a academia completa seus 40 anos, passam a realizar o Festival de Talentos da UFSCar.
Esta mudança, que promete continuidade segundo a organização do evento - mais uma vez CCS e Rádio UFSCar, amparados pela BCo UFSCar - passa a abranger não só os calouros, mas todos os alunos e também os funcionários, de professores a técnicos administrativos.
A oportunidade propiciada pelo Festival de Talentos às bandas em particular, mas também às outras atividades, é sem igual. Serve a alavancar novos grupos, que ora se formam justamente para apresentar-se no Festival e acabam consolidando-se posteriormente, bem como a fomentar a outras esferas grupos com curta carreira. Trata-se de um festival incubador, como também foram edições do festival Escuta Essa, do FeBICA (Festival de Bandas Independentes do CAASO), do festival Rock na Estação e várias outras iniciativas na cidade, que acabam explorando diferentes espaços e possibilitando que São Carlos venha a ser um vertedouro de bandas.
Contudo, ainda é estranha a reação e participação do público a estes festivais, em especial prestigiando os talentos, os calouros, os independentes, os "menores". A praxe aqui é ter o grande público vindo apenas aos momentos finais de um festival, a ver o que seria a atração principal, ignorando todo o restante das atividades, que na verdade são o motivo daquele festival existir de fato, do contrário, seria só um show desta dita atração principal. E aqui nasce um dos grandes receios dos curadores destes festivais, que passam a verter toda atenção ao dito headliner, esquecendo-se e assim desmerecendo os demais. Nas edições do Festival de Calouros, tínhamos lá Teatro Mágico a sua primeira edição em 2007 e Móveis Coloniais de Acaju em 2008, quando poucos conheciam estes dois trabalhdos, hoje muito mais populares, e em 2009, BNegão e os Seletores de Frequência, invariavelmente conhecido de um grande público. Neste Festival de Talentos da UFSCar, não era diferente, vinha lá o Quinteto Violado, ícone da música de regionalidades, com dezenas de discos lançados.
A esta mesma concepção de festival, apostar em um headliner de inegável apelo popular, incorrem em São Carlos festival Contato, tendo por exemplo a sua última edição Cachorro Grande, FeBICA, com Pata de Elefante em 2009 e Rock na Estação ainda a 2010 com Garotos Podres. Mas, justificativas para esta abordagem são várias. Pensa-se em atrair público, quer-se garantir a exposição do evento à grande mídia e mesmo poder usar nomes e números posteriormente como imagem marcante.
E isto, em especial à Festival de Talentos, FeBICA e Rock na Estação faz perder em muito sua razão de ser. Acaba-se, invariavelmente, colocando em segundo plano todos os outros grupos que participam. Os talentos, os independentes, os novos.
O mesmo também acontece com o festival Contato, muito embora eles já muito pouco atentem-se a produção local, inserindo-os a um décimo de suas programações, trabalhando com os novos talentos independentes já despontando na mídia. Mas mesmo estes tem menos tempo a tocar que os demais, sujeitando-se a inserção nestes espaços para galgar alguns degraus, pela publicidade, pela idéia não-exatamente certa de atingir um novo público. O mesmo acontece em dezenas de outros festivais do circuito ABRAFIN - Associação Brasileira de Festivais Independentes.
E falando em festivais Brasil afora, assim como trocentas outras cidades são-carlos também abriga, praticamente desde o princípio do boom, um festival Grito Rock, a época do carnaval. E então, tem-se esta proposta de festivais independentes baseados na produção autoral, com grande circulação de bandas, mas que acaba caindo em um midiatismo invariavelmente, cercando-se de algumas propostas apenas, chegando mesmo a sufocar algumas das cenas locais onde passam.
Agora, entramos numa das coisas mais interessantes vistas neste meio, embora controversa, tenha sido o Rock na Estação deste ano fazer uma seleção extremamente bairrista, privilegiando o trabalho de bandas de São Carlos e sobretudo o material autoral. Isto vai exatamente contra a corrente proposta a maioria dos festivais pelo país. Talvez perca-se certa qualidade, mas ganha-se infinito numa política de incentivo, papel maior das iniciativas públicas hoje. Na UFSCar, o Festival de Talentos acaba por fomentar esta também iniciativa juntos dos seus, embora não foque na produção independente, já que sempre foi mais fácil reproduzir o visto no grande mercado, o que aponta para a grande aceitação popular, acerto para as massas, mas erro por vários outros lados.
E então, um dos grandes problemas do Festival de Talentos descerrava-se justamente pelo enfoque pesado à seu headliner, em particular no apelo técnico. Os grupos, talentos então, apresentando-se como em todo festival com um tempo restrito, foram em muito desmerecidos. Aqui, desta vez enquanto intruso ao meio diretamente atuante, participando da intervenção do coletivo Aos Maníacos Símeis, sentia-se na pele a falta do trabalho da sonorização, que não provinha retorno em adequação alguma às diversas bandas da noite, caso particular que se extrema quando a proposta é de improviso livre. Não cabe aqui generalizar, mas é temerário que não tenham sido poucas as reclamações (caladas) de outros grupos, mesmo desconsiderando-se o fato de que passagem ou mesmo checagem de som alguma era feita. E, assistindo mais atentamente à apresentação de Fernando e seus Duendes, grupo de professores e graduandos do Campus da UFSCar em Sorocaba, fazendo um rock rural com diversas composições autorais, a equalização só não matava o grupo porque era bacana, a se ouvir com acuidade, divertida a apresentação. Ali, sequer se ouvia baixo, faltavam microfones às várias percussões do grupo, mal se ouvia o único violão e pouco aparecia um sax e o contrabaixo elétrico fez-se presente apenas ao solo do último minuto do grupo.
E mesmo um headliner como o Quinteto Violado não consegue atrair público, preso a menos de quatrocentas pessoas. Um investimento sem tamanho, que diluído a todos os que participaram ativamente poderia ser muito mais recompensador a todos. E aqui, quebrariamos a estigma e criariamos a cultura de observar o novo, o curioso, de perto e atentamente, a ponto de olharmos o espelho mais e ao mesmo tempo menos vezes.
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