Brega S/A - Tecnobrega ou a Música Independente no seu último nível?

Falando de cinema pra falar de música, abordemos um documentário dos mais interessantes sobre a produção independente no Brasil, o Brega S/A. O filme nos apresenta não o Tecnobrega paraense, como a princípio poderia sugerir, mas sim escancarra os processos e partes constituintes que poderia haver na rede de produção da música independente.

trailer / brega sa from greenvision films on Vimeo.

Enquanto manifestação da música, o tecnobrega pode parecer isolado a princípio, no mais improvável confim do Pará. Contudo, em vários outros redutos pelo país temos exemplos semelhantes: Há, mesmo no Sudeste, conhecido a certa medida por todos, o Funk Carioca, emanando das favelas do Rio de Janeiro; Há também o Forró Eletrônico, com tantos subgêneros quanto o Eletrobrega, explodindo em um Nordeste onde a mídia faz parecer dominar apenas o Axé. E com certeza há outras implosões que a grande mídia esconde dos olhos do povo, com medo de perder o controle mais uma vez, quando na região própria destas manifestações su influência é nula.

As condições em que surgem estas verdadeiras insurreições são praticamente as mesmas, excetuando-se a localização geográfica. Com a população de baixa renda entrando em contato com novas tecnologias de produção, ao mesmo tempo em que vê pela mídia outros universos que não o seu, tem-se a construção de um produto influenciado pelas terras além mar, que tem por base as raízes culturais daquela comunidade. Daí, Eletromelody, Tecnobrega, da música eletrônica e o Brega, e da mesma maneira com o Forró Eletrônico e o Funk Carioca.

De maneira idêntica surge o Rock Independente, que permeia do Sul ao Nordeste, passando (e ficando) pelas regiões Sudeste e Centro-Oeste, chegando mesmo a atingir o Norte do país, pior do que qualquer frente fria. Em termos de cadeia produtiva, há toda uma pariedade com a indústria paraense, a exceção da parcela da população que produz e usufrui do gênero. Inegavelmente o Rock Independente surge da população da classe média, classe B, como queira, enquanto o Funk Carioca, o Tecnobrega, o Forró, vêm das classes C e D. E justamente por isto o Rock Independente não tem a mesma inserção que estes outros gêneros tem em seu nicho. A classe média, maior classe do país, é o grande alvo da grande e pequena mídia. É aquela de maior poder aquisitivo individulamente e potencialmente, uma vez que maior classe. Nisto, todo foco inclusive da indústria da música, seja aquela atrelada à grandes gravadoras e/ou amparada pela mídia, seja aquela independente, está na classe média. Bombardeada por todos os lados, ela acaba por ser a mais eclética de todas e sem uma identidade definida mesmo regionalmente. Há a inserção do pagode, do rock, do axé da mpb, do forró, do samba e do sertanejo, lado a lado, em maior ou menos escala. E a manifestação destes gêneros acontece da maneira mais quadrada, arraigada a origem do próprio gênero, por conta do grande apelo comercial (a certa medida imutável) que se espera ou se propõe.

Nisso, não há meios da indústria independente dominar o mercado. Em certo aspecto, esta perspectiva é interessante, preservando e propiciando uma diversidade cultural. Por outro, a indústria independente não cresce como poderia em outro contexto, apesar de usar das mesmas ferramentas.

E muito embora disponha das mesmas ferramentas, ela acaba tendo de se profissionalizar. Enquanto no Pará a dita pirataria nem mesmo o figura, porque a distribuição das músicas é incentivada, senão necessária, e a livre cópia e inclusive venda direta é a única ferramenta que existe, em São Paulo há produção de álbuns prensados em CD, SMD, veiculação online, material com encartes, artes gráficas caprichadas, por fim, caro. Quando lá o que importa é a venda de um show, ganha-pão de fato dos envolvidos nesta cadeia produtiva, enquanto seu material nada mais é que divulgação, no Rock Independente cresce a mentalidade de que o show é a divulgação e o material o produto de valor agregado que gera renda ao músico. Por fim, o modo de produção tem suas particularidades, justamente pelas diferentes classes a que atinge. Quando lá há a efemeridade de uma produção, única música de um grupo, aqui há a permanencia de um trabalho duradouro. São universos idêntido e diferentes e aí carece o estudo próprio e comparativo destes cenários.

Agora, por que escrevemos aqui sobre isto, quando já pretensiamos elucidar sobre a boa música? Não porque é boa música, longe desta opinião inclusive. Escrevemos aqui sobre o Brega S/A porque obviamente entender estas facetas do universo musical faz-se necessário para construir o cenário atual como um todo, em especial aquele que fala da produção e do mercado da música independente.

Por sinal, filme está disponível para download via torrent no PirateBay, como altamente recomendado na página da própria produtora do filme de Gustavo Godinho e Vladimir Cunha, a Greenvision, que também assinam os videoclipes de Shift, do Macaco Bong e Japan Pop Show, do Curumin.

Então não precisaria dizer que é leitura obrigatória para os apreciadores e envolvidos com Música Independente. Afinal, ele foi feito não para o paraense ver sua então Cultura numa telinha, mas para o sulista aprender com o que eles estão fazendo. E isso é mais que verdade quando, poderia eu dizer, ele estreou com uma exibição na MTV, e tem a trilha sonora que o acompanha não servida do tecnobrega, mas de Pata de Elefante, Guizado, Hurtmold e Júpiter Apple.

Um comentário:

Vanderlei Reis disse...

Pra dar continuidade ao documentário, a distribuição do tecnobrega enquanto tecnobrega!

http://vimeo.com/12031008

Vi lá no Meio Desligado, pra se ver como as coisas estão todas interligadas: http://www.meiodesligado.com/2010/08/como-tecnologia-fomenta-transformacoes.html