Anotações do Show: Terreno Baldio, na Biblioteca Cassiano Ricardo

Seguindo com mais um Anotações do Show, venho aqui falar-vos da apresentação da inequiparável banda Terreno Baldio, previamente anunciada no nosso blog.

Esse foi possivelmente o show mais esperado pelo Programa Bluga desde seu recente começo e naturalmente nossas expectativas estavam bem altas, visto a colossalidade que foi o espetáculo da banda na Virada Cultural.

Pois bem, chegamos à Biblioteca Temática de Música Cassiano Ricardo por volta das 15 horas daquele sábado, 30 de Agosto. Tão logo entramos, arrebanhamo-nos com os integrantes da equipe responsável pela produção do DVD não-oficial do show que aconteceria. Já adianto que postaremos aqui algum link em html ou torrent para baixá-lo, assim que fique pronto. Eu não figurava entre a equipe oficial, porém pude acompanhar os entrementes da produção, já que estava junto de um conhecido nosso, o Vanderlei, de um tal Programa Bluga.

Já estavam lá, no palco, o violinista Cássio Poleto e Mozart Mello, conhecido de qualquer guitarrista que se preze, brincando com sua guitarra. Enquanto a equipe do DVD discutia quais seriam os locais apropriados para as câmeras, uma melodia soava na guitarra de Mello, que logo associei à música Saci, do álbum Além das Lendas Brasileiras. Uma faixa demasiadamente boa, que finalmente traria o gostinho desse álbum, ausente no set list da Virada.

Encontramos lá também Roberto Lazzarini, pianista, maestro, compositor, arranjador e produtor, além de muito simpático e aparentemente bem empolgado com a idéia do DVD. Depois de uma passagem de som rápida, tive a oportunidade de ver a entrevista que Lazzarini gentilmente concedeu para compor os extras do DVD. Aos fãs do Terreno digo que constarão também conversas com os outros integrantes, a exceção de Mozart, que infelizmente teve que sair mais cedo. Muita informação interessante saiu desse papo e é facilmente percebido ali que a banda, além de ter músicos incomparáveis, dotados de conhecimento musical e artístico invejável, é composta por ótimas pessoas.

Foi um privilégio poder assistir a passagem de som: a empolgação aumentando gradualmente a cada riff reconhecido, a cada melodia terrenisticamente associada e mal pude conter a expectativa, ao ouvir Este É o Lugar. Faixa esta que, junto com Despertar, são as minhas duas favoritas do Terreno.

A certa altura saí do auditório, junto com a equipe de reportagem e presenciei entrevistas cedidas pelos fãs, sendo o mote da maioria deles o Rock Progressivo. Dentre eles estavam não só fãs de longa data, mas também aqueles que conheceram a banda ainda esse ano, na ocasião da Virada Cultural (incluímo-nos nesses últimos) e também, como era de se esperar, fãs fervorosos de Gentle Giant.

Faço aqui um gancho pra comentar parte da entrevista do muito carismático vocalista João Kurk. Segundo ele, o estopim para a criação do Terreno foi justamente a primeira ouvida do álbum Three Friends, do Gentle Giant. Abismado com o que ouviu, Kurk – pronuncia-se kúrk, não kãrk – foi logo comentar com Lazzarini, que confessou ter ouvido o mesmo álbum e ter ficado igualmente surpreendido. Eis que surge a semente do Terreno Baldio. De duas mentes brilhantes, posteriormente acompanhadas de uma terceira: a de Mozart Mello. Parece-me ser essa a tríade que capinou e limpou o espaço que por fim viria a ser o Terreno Baldio. São ELES o Aquelôo, e essa é a verdade.

Enquanto fãs davam seus depoimentos, a banda passava o som. Algo que durou mais de duas horas. Infelizmente, apesar de todo esse tempo, o som não ficou a contento e pode-se vexar grandemente a empresa responsável pelo som – uma tal de Line Som – que fez um trabalho extremamente ruim: muitas falhas durante o show, com o teclado sumindo, falta de retorno, o vocal sendo por vezes inaudível, por vezes baixo demais e freqüentemente saindo somente de um lado do palco. Penso eu que essa foi realmente a única parte negativa do show, mas, mesmo assim, tal situação (normalmente catastrófica para outras bandas) não conseguiu tirar a magia da apresentação.

E vejam que ainda mais desgosto a empresa Line Som nos traria. Graças a essa empresa que fez um trabalho tão incompetente, soubemos via Lazzarini que possivelmente a captura direto da mesa-de-som comprometerá o áudio do DVD! De qualquer modo, peço àqueles que ficaram tão indignados como eu que mandem um e-mail a linesom@linesom.com.br, fazendo suas reclamações quanto ao ocorrido.

Enfim, passada essa reclamação tão necessária, continuo com o relato daquilo que era a causa da minha ansiedade. O alvo da coletiva expectativa, que então atingia a turba (estimada em 230 pessoas, 65 a mais que a lotação) dos mais fiéis habitantes do Terreno sobre o qual fala o primeiro álbum da banda.

Enquanto os então repórteres entrevistavam Renato Muniz, encarregado do contrabaixo, acomodei-me, esperando os músicos subirem ao palco, o lugar a que realmente pertencem. Kurk, Poleto e Edson Guilardi ainda dariam suas entrevistas, findo o espetáculo.

Alguns minutos depois, com a banda composta, a tão inspirada e esperada ode ao Terreno Baldio enfim começaria! Não comentarei a performance da banda, sendo ela incensurável por alguém como eu, mas os deixarei com o set list do show e algumas impressões, que, mesmo sendo pessoais, provavelmente estenderam-se semelhantemente a cada um dos atingidos pela sonoridade que emana do importante Terreno.

O show começou com a infalível abertura de Este é o Lugar, que também foi usada ao início do show da Virada, apresentando-nos seu protagonista: o Terreno, onde podemos despejar “Todo o lixo que se acumulou”. A canção mostra-nos o lugar que, embora cada um de nós desconfie existir, nunca realmente achamos. (Passamos sempre perto, mas mesmo assim não notamos!) Seguindo o enredo de nossa estória, temos a composição Água Que Corre, com um maravilhoso teclado que suavemente flutua, sugerindo que sejamos como a água, fluindo e sempre procurando o lugar certo. Uma faixa que parece um tanto curta durante o show, impressão possivelmente desejada pela banda, pois traduz a brevidade e sutileza com que a água passa.

Quando as coisas ganham vida, que veio nos contar daquilo que faz brotar o sol no Terreno. Seguida por Aquelôo, uma sábia criatura vinda de uma era muito antiga, que acorda de seu sonho diurno, toma sua função de purificador do Terreno. Enquanto executa seu trabalho, Aquelôo performa sua dança noturna. Esta é uma faixa que adoro e realmente não consigo entender como ela acabou ficando de fora do álbum!

O ápice de Cassio Poleto no espetáculo vem em seguida, numa faixa instrumental nominada O vôo sempre continua, onde sola de forma embasbacante, assim como Mozart Mello e sua impecável técnica.

Relógio de Sol, composição ainda não gravada, porém presente no YouTube, é o próximo componente terrenístico apresentado: é ao final de suas horas que Aquelôo emerge da terra e começa sua limpeza.

Contando-nos de um certo pássaro, vem Despertar, uma faixa simplesmente brilhante, com contagiante representação de Kurk (é impossível que João Kurk não tenha tido aulas de interpretação) que quase incorpora o pássaro em suas sensações. E, enfim desperto, apto ao seu vôo, Pássaro Azul aparece! O coro da platéia encorajando seu alto vôo. Foi um dos ápices do show e Lazzarini realmente se deixou levar pelo clima tão habilmente conjurado por ele e os demais.

Vinha inesperadamente um solo inspirado da bateria de Edson Guilardi, como a quebrar um pouco o clima do primeiro álbum e preparar a platéia para a participação especial do negrinho de uma perna só, o Saci, saído direto do álbum Além das Lendas Brasileiras. Uma das minhas faixas favoritas desse álbum e realmente gostei de vê-los tocando-a!

Depois de Saci, o conjunto apresentou Velho Espelho, outra canção ainda não gravada em português, mas também presente no YouTube. Acredito que ela deveria fazer parte do primeiro álbum, mas foi cortada, assim como Aquelôo e Relógio de Sol, pela falta de tempo do formato em LP.

Enfim, o Terreno Baldio canta sua canção definitiva: Grite. Manda-nos gritar, enquanto fala que, mesmo nos tempos de hoje, ainda existe paz. A paz que se refugia no Terreno. É aqui que você pode gritar e correr e viver, diz a música.

Nesse momento bate-me um sentimento de pré-concebido vazio, pois sei que, além de ser possivelmente a principal mensagem do Terreno, ela é também sua última. Porém, não tão facilmente a platéia deixa a talentosa trupe ir embora. Todos em pé, visivelmente fascinados pelo espetáculo, o pedido de bis, clamando ao Terreno que nos falasse uma vez mais.

A música escolhida para a reprise foi Pássaro Ázul e, dessa vez, ainda mais vozes cantaram seu vôo. Juntou-se a ela o final de Grite, como derradeiro lembrete. E foi aqui, nesse medley inesquecível, que o Terreno deu seu último adeus. Último adeus da noite, claro, já que espero que muitos shows do Terreno Baldio ainda venham
!

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http://www.terrenobaldio.com.br/
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=15387658
http://www.youtube.com/user/Kurkinho


Fotos: Erick Fernandes

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