Esta semana uma das bandas mais bacanudas de São Carlos lançou seu primeiro clipe, pronto pra ser visto (e ouvido, muito bem dito, esperemos que você tenha áudio*) ali em cima. Os camaradas, cursando o curso de Imagem e Som da UFSCar, investiram know-how fazendo um trabalho de estética inusitada.
Aeromoças e Tenistas Russas foi uma bela surpresa resenhada por aqui tempos atrás. Composta por Nilo Arruda na bateria, Juliano Parreira no baixo, Luiz Gustavo Palma nos teclados e Thiago "Hard" Gonçalves na guitarra, sax e vocais, trazem suas últimas composições lambendo a pedra do Rock Progressivo. Nisso, não só o compasso 7/8 vem ao paladar, mas também inesperadamente uma preocupação conceitual. A música levada ao clipe, Solarística, parece ter sido criada com um foco em mente, no mínimo um método subjetivo.
Solarística era até pouco tempo atrás apenas conhecida como "X", indefinição mantida por certo tempo justamente pelo apreço e significância que um nome deve ter. Apesar de não tão óbvia, já que poucos conhecem a referência, o nome nos remete a Solaris, ficção científica escrita pelo genioso polonês Stanislaw Lem. Na obra, a Solarística é a ciência que estuda o planeta Solaris, uma entidade viva, um oceano, uma consciência única, tentando ironicamente classificá-la etimo e taxonomicamente, esquecendo-se de entendê-la de fato. Quando nossos cientistas tentam compreendê-la, acabam defrontando-se com o seu próprio eu. Bárbaras alucinações refletidas pelo oceano-ser Solaris.
Contudo, o foco da composição não se dá sobre a abordagem do polonês sobre a entidade Solaris em si, mas sobre o filme homônimo do russo Andrei Tarkovski. Aliás, embora seja uma adaptação que perde muito do enfoque no Sci-Fi envolto na Solarística, é um daqueles filmes que se você não viu, perdeu metade da sua vida. Lembrando sempre de não confundir o filme russo com a adaptação mais desgraçada ainda feita pelo Steven Soderbergh com o George Clooney. Pavoroso.
Nem me espanta mais as referências cinematográficas do Aeromoças, depois de Bang Bang e Regen.
Agora, voltando ao clipe, os sujeitos fazem jus ao audiovisual e prestam uma devida homenagem a linguagem utilizada por Tarkovski no filme. Em conversa rápida com Juliano Parreira, descobrimos que a idéia era abordar o infinito na construção do clipe. Logo, a música Solarística cai como uma luva, justamente por trabalhar esta idéia de espaço infinito, a beleza etérea do ser e sua dúvida existencial, na evolução cíclica da composição.
Claro que o clipe em si tem licenças poéticas à parte, dando margem a muitas outras interpretações. Nos é apresentado uma personagem que evolui junto à música, um personagem não-humano, a bailarina cuja sombra vemos dançar ao começo do clipe, que se revela a dada altura e novamente se embrenha em um manto de luz. A noção de tempo passada ali, não mais apenas pela música, mas pela coreografia da dança de nossa bailarina.
Os garotos da Aeromoças surgem, como que do nada, em uma das cenas do clipe, assistindo a um televisor. Quem sabe, estariam eles assistindo a esta bailarina, e depois novamente, na estrada em meio à mata. E quem sabe, esta personagem, poderia ser a encarnação viva de Solaris, nosso planeta inebriante, como sua dança. Então, eles seriam nada mais do que os cientistas, os estudiosos da Solarística. Justamente como os personagens de nosso livro/filme, estariam hipnotizados pelo poder de Solaris, embevecidos então na busca de uma auto-compreensão.
Ademais, esta especulação reflete muito da própria banda. Quando começavam com seu material próprio, apresentavam algumas letras em suas composições de maior apelo, ao mesmo tempo em que tinham instrumentais mais elaboradas. Suas últimas composições, em contrapartida, investem pesado neste segundo aspecto.
Não é um clipe convencional, longe disso. Mas também a sonoridade da banda não é caso-comum, afastando-se pouco a pouco do comercial.
Esta busca por uma identidade, não-definitiva, mas própria e que reflita o âmago da banda, com certeza é uma preocupação da AeTR. Solarística parece um bom começo para esta introspecção.
Solarística - Aeromoças e Tenistas Russas
Direção:
Juliano Parreira
Roteiro:
Luiz Gustavo Palma
Nilo Arruda
Direção de Fotografia:
Suzana Altero Bispo
Assistente de Fotografia:
Matheus Cury
Montagem e Pós-Produção:
Felipe Passarini
Direção de Arte:
Ana Caroline Bittencourt
Maquiagem:
Thaísa Makino
Coreografia:
Jaqueline Parreira
Produção:
Felipe Carrelli
Making Of (?):
http://www.fotolog.com.br/jaquep/37423006
http://www.fotolog.com.br/jaquep/36867239
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*Nota do Editor: Vamos tentar upar uma versão em maior qualidade tão logo seja possível!
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