Cobertura: Escuta Essa 4x4 - Parte II

Review tardio, mas ainda necessário!

A altura do início de nossa terceira hora do show 4x4 que rolou no domingo 10 de agosto de 2008 no Armazém Bar em São Carlos, estava lá um público misógino: Gente nova, amigas do som que já havia rolado; Motociclistas (não motoqueiros, perdão...) ouvindo o clássico Rock do Barbante Submarino; e o público amante de som, o público de sempre e agregados. Mas outro pessoal sempre envolvido com a música, os universitários, deu as caras por lá, atraído pela banda da deste quarto de noite, as Aeromoças e Tenistas Russas.

Esbanjam em seu trabalho boas origens e uma visão promissora dos rumos da música, consciência possivelmente provinda também de suas influências dentro do curso de Imagem e Som da UFSCar, que vem rendendo bons frutos aos ouvidos do Programa Bluga. Com formação definida desde quando calouros em 2007, trouxeram sua cara ao mundo somente neste ano, e já fizeram nome pelos cantos da cidade, tocando na Firefox 3 Party, promovendo o navegador da Mozilla, e mesmo dentro do CAASO na festa das secretarias SAPA e SAAU, no mesmo movimentado fim-de-semana em que tocaram no Armazém.

Obviamente não se tem as tais gostosas no palco, mas sim quatro cabras, em bateria com Nilo, baixo com Juliano Parreira, teclados com Luiz Gustavo e Thiago Hard alternando-se com voz, guitarra e sax. Resta saber quais dois são as aeromoças e quais dois as tenistas russas.

Mirando no que nos interessa, o show das Aeromoças e Tenistas Russas começa às 09h30 com a primeira das muitas faixas de autoria própria da noite, Bang Bang, que só não é uma instrumental porque traz o gibberish de Hard. A música leva o nome do filme de 1971 de Andrea Tonacci, referência junto ao chamado Cinema Marginal e dentro dos cursos de cinema, justamente de onde vêm os integrantes da banda. Aliás, valem os 90 minutos de fita, em um experimento fotográfico surpreendente para os padrões atuais.

Segunda faixa da banda no seu quarto de show, trouxeram Mirella, outra assinada pelas aeromoças e tenistas. Entra com um baixo arrebatador de Juliano, evoluindo com riffs bem marcados. Hard já mostra a que veio, com devaneios no palco, mostrando os primeiros sinais da psicodelia.

Para sua terceira música, mostram o refino de seus covers. Ilegal, Imoral ou Engorda, da voz de Roberto Carlos, em releitura na versão da banda Del Rey, que tocaram na Virada Cultural Paulista deste ano em Araraquara, com China, da desaparecida Sheik Tosado, e alguns dos caras da banda Mombojó, que revitalizaram nesse projeto os sucessos em covers rearranjados da Jovem Guarda. Na faixa, entretanto, dão seu toque pessoal, com Hard abandonando a guitarra por alguns instantes e dedicando-se totalmente ao vocal. Deixa-se espaço então para a excelente cozinha dar o tom para os teclados brincarem, enquanto o vocal é muito bem performado, revelando a presença de palco da figura inusitada, por vezes recorrente ao gênero, ali na noite.

Não esquecendo que este domingo de 4x4 era justamente o Dia dos Pais, a Aeromoças e Tenistas Russas foi a primeira banda a se lembrar do fato e homenagear o pai do baixista, seu Júlio, vindo de longe a visitar o filho em sua universidade e comemorar. E homenageando a figura, trouxeram mais um versão portentosa, dessa vez do Beto Lee, filho da Rita de nossos Mutantes: Fuscão Preto. Mais uma prova das singulares influências que cobrem o grupo. E nem vou falar que a faixa famosa revelada com Almir Rogério rendeu um filme homônimo protagonizado pelo próprio e de quebra com a estréia da Xuxa, porque esse eu nunca vi. Antes de Amor Estranho Amor, acredite se quiser. Lenda urbana.

Mix de influências também na cara da banda, com Thiago Hard portando sua camiseta da recente coletânea Mothership do Led, que marcou sua volta, enquanto entre as baquetas de Nilo vem a estampa os Flinstones e com Juliano uma ilustração esperta com o Chiqueirinho (Pig-Pen) de Charles Schulz.

Deixando de lado o ar de revival-cafona-reformulado-que-vira-cool, tocam não uma, mas DUAS faixas instrumentais. A primeira delas, entra de vez no clima psicodélico esperado, quase chegando num Post-Rock. Como toda boa instrumental, tem espaço para escapulidas para fora do palco, com Gustavo em busca de outro latão de Itaipava. Ele preparava-se para trazer, depois dos muitos picks espalhando névoa, a cerrada atmosfera para a derradeira viagem da guitarra. No seu auge, vem uma queda no ritmo, para a brisa do Korg de Gustavo, enquanto Hard troca de instrumentos para vermos pela primeira vez o belo sax esmaltado em preto entrar na dança. Bela faixa.

Não perdendo o clima já criado para êxtase da platéia, trazem a segunda faixa, puramente intitulada Instrumental. Enérgica, começa com aquele velho sample dos placares eletrônicos dos jogos de hóquei, crescendo sensivelmente com Nilo na bateria. Juliano tem espaço para um bom solo de baixo enquanto bateria e guitarra, pouco antes dos teclados voltarem e chamarem todos os instrumentos a uma profusão sonora. Quando gravam esse material?

Entremeiam o clima angustiante criado, com um blues de composição própria. Revisitam mais uma vez algo na mesma linha das versões de Ilegal, Imoral ou Engorda e Fuscão Preto, no que chamaremos de Jovem Guarda Psicodélica, com Um Lugar do Caralho, composição de Júpiter Maçã, ícone da escola. Apesar dos pesares, é estranho observar a evolução do show da banda, oscilando bruscamente do Nu-Prog a esta Jovem Guarda que quer ser Bossa. Nem por isso é ruim já que tudo é alternativo, tudo é experimental e acima de tudo, embala o público, que tem como prova o coral do público, cantando junto. E, claro, proporciona o contato com o material próprio, senão também a estréia de ouvidos virgens a um estilo na virada dos tempos.

Mas não só do lado de cá viveram as Aeromoças. Elas viajam também além mar, e trazem Play That Funky Music White Boy, em uma versão própria, sem vocal, não na esperança de que o público cante, mas trazendo um arranjo para sax, como muitas bandas de jazz já o fizeram. Teclados, como manda o figurino, o delicioso baixo que leva moças a rebolar, mas ao invés das guitarras, solo de sax.

Não esquecendo seu próprio ganha-pão, mostram mais uma composição própria, Ensolaradas. Fazem a sempre boa e necessária divulgação, sem exageros, de seu material junto ao site Trama Virtual. Trata-se de um material excelente, escolhido para agradar a todo público da banda e mostrar tudo a que o grupo se propõe. E, ao vivo se mostra mais interessante ainda!

Provando a teoria de que eles são o liquidificador do barman que faz excelentes drinks, abraçam outro estilo, com a faixa própria Samba. Sem maiores segredos, o nome é auto-explicativo, agradando aos amantes de um Los Hermanos. Detalhe que ao seu final, vem a paradinha, ensaiada e tudo, que foi prolongada pelo baterista, deixando os camaradas na espera enquanto buscava uma garrafa d’água. Sem perder o bom humor, apresentam o garoto Nilo-bebe-água, que solta um “Bebam água, água faz bem”, e volta às baquetas para finalizar.

De novo lá fora, trazem Superstition, de Stevie Wonder, abandonando o vocal da faixa como na canção de Wild Cherry e trazendo os arranjos de voz transpostos ao saxofone, bem como o que viria a ser o trompete da original. Teclados, mais uma vez, como não poderia faltar e baixo marcantes, com Juliano encarando o nada, no olhar insano que sabe-se lá porque baixistas adoram fazer, enquanto Nilo traz uma fiel bateria.

Encaminhando-se para o fim de seu quarto de 4x4, as Aeromoças e Tenistas Russas trazem, a pedido do organizador da noite, xará do baterista, por sinal, um Tim Maia. Guiné Bissau, Moçambique e Angola, como quê de improviso. Quase-quase acabando, a pedidos do baixista, empolgado, Nilo não pára sua bateria, moendo, trazendo um último improviso pra abrilhantar mais a banda naquela noite.

As Aeromoças e Tenistas Russas se mostraram uma banda excelente, com um repertório bem pensado, com um material corajoso, regado a inusitados atrativos. Com certeza esses camaradas receberiam um selinho ‘Programa Bluga aprova!’, quando tivermos essa moral. Estaremos acompanhando de perto os shows dessa banda e sua evolução, sempre esperando que eles cresçam e nos tragam mais.

E já entrando em nosso último quarto da noite, para um dia que antecede a segunda-volta-ao-trabalho, o bar ainda permanecia cheio. Era o público na espera de um último respiro de música pra extravasar, o que veio com a primeira apresentação da banda Rise Up.

Rise Up é uma banda de Hardcore. Formada recentemente, se apresentaram com Carlos Alisson nas guitarras, Eric no baixo e Murilo Ramos na bateria, com todos fazendo voz. Performaram uma série de covers de bandas desta vertente, como Dead Fish e Nitrominds do lado de cá e como Pennywise e NOFX do lado de lá. Particularmente o estilo não cobre o mundinho restrito do Programa Bluga (de opinião única e própria de seus colaboradores, obviamente), mas a banda empolgou MUITO os sobreviventes da noite, levando inclusive as Aeromoças e Tenistas Russas à inversão de papéis, botando-os na cara do palco. Com boas horas de ensaio por trás desta primeira apresentação, mostraram-se competentes e ainda honraram o nacional, tocando muito mais as do lado de cá e fechando ouvidos aos pedidos do lado de lá!


http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=85199
http://vimeo.com/1263958
http://www.youtube.com/watch?v=AIBOF6DYfxQ
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=46916188


http://www.purevolume.com/bandariseup
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=49704046

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