Cobertura: II Festival Rock na Estação

Acompanhamos no dia 13 de Setembro o II Festival Rock na Estação, que reuniu nove bandas dos mais diversos estilos em apresentação GRATUITA. Como bem diz o nome, tudo aconteceu na antiga Estação Ferroviária de São Carlos, conhecida hoje simplesmente como Estação Cultura, possivelmente o lugar mais bacana para shows em Sanca Rock City. Além da primeira edição do Rock na Estação, o espaço já foi casa do memorável Festival Contato, onde presenciamos com orgulho apresentações do ½ Dúzia de 3 ou 4, Tom Zé, The DT’s e, irrecuperável, Daevid Allen com o GONG Global Family.

Com organização por conta da Cultura Independente Produções, selecionou-se as bandas inscritas via internet, avaliando músicas, fotos, logo e press releases de cada uma. Tentando levar um público maior ao meio underground, acabaram trazendo aquelas fundamentadas no rock autoral, já com bom número de composições. Iniciativa louvável, que força-nos a escrever um pouco sobre. Assim, contribuímos em certo aspecto, mesmo que nessa cobertura não consigamos transparecer o ideal procurado em um review nosso. Enfim, considerando as muitas horas de brincadeira, vamos relatá-la de modo geral.

Um dos males de se programar as coisas é que ninguém nunca espera que se comece na hora. Mais uma vez não foi diferente. O início para às 14 horas foi pro espaço, entrando a primeira banda somente às 14h40. Contudo, mesmo com o atraso, o público não havia chegado à Estação ainda. Assim, Malditas Ovelhas! acabou desperdiçando sua puta apresentação na abertura do dia pra duas-três dezenas de pessoas. Tocando um som instrumental, com mínimas incursões ao microfone, em quatro componentes, três deles alternando-se em alta promiscuidade em bateria, baixo e teclados, deixando de fora da farra o guitarrista. Houve ainda a incursão de Fabiel Merck na percussão, ele o tecladista do mítico Javali Underground(?). Já acompanhamos de perto esse pessoal de Araraquara e estaremos circundando-os novamente, afinal seu som experimental não se pode deixar passar.

Na seqüência, outra banda de Araraquara teve sua vez. Com poquito mais de público a esta altura, subiu ao palco o Churrasco Elétrico, para sua meia-hora de Festival. De personagens caricatos, com vestuário e cabeleiras arquitetadas no psicodélico, deixavam clara a influência daquela banda de Liverpool. Ainda de ressaca do show na noite anterior em Araraquara, trouxeram as faixas Por aí, Churrasco Elétrico, Magias Modernas, Estalo do Trago e a excelente Jujuba-Doce, todas mostrando que o estilo não ficava só na roupagem, transparecendo sua influência também nas composições. Material saudosista, pra não dizer que caímos no clichê do revival, está disponível nas internets da vida.

Vindos de Campinas, era a vez da banda Eskambo, com Pablo nos vocais, Tom na guitarra, Gustavo no baixo, Foia nos teclados e Gabriel Fedel, conhecido das paragens do CAASO e organização do MACACO, na bateria. Apresentaram um som marcado por ritmos brasileiros, com espertas incursões de tambores e pífano. Grande destaque para as faixas Dona Tereza e Sobre o Peso e a Patada do Elefante. Com poucas de suas faixas gravadas, disponíveis para download, aguardamos mais material e visitas ansiosamente.

Apesar de mostrar-se um festival eclético, nos seus diferentes estilos dentro dum mesmo espaço (sem falar na tentativa de descentralização do cenário paulista com uma banda sulista), seu andamento foi muito bem conduzido, criando este primeiro excerto mais voltado ao Alternativo, vindo numa zona de transição para cair no Indie propriamente dito e mais além visitar o Metal.

Assim, com o público já esquentando, embora sem intimidade com o palco, vieram os três da Instiga: Christian Camilo nos vocais e guitarra, Gabriel Duarte no baixo e Sérgio Lombardi na bateria. Também de Campinas, tendo rodado clipe na MTV, tocado na rádio americana Woxy e cotados até em concurso musical pela BBC, os rapazes já estão em seu quarto álbum. Clamando para que o público se aproximasse do palco, mostraram seu som com influências da MPB traduzidas em arranjos de guitarra e na voz rouca de Christian. Introduzindo seu novo álbum, Tenho uma Banda, disponível para download na integra no site da banda, mostraram as faixas Puma, Freira, Porto Inteiro, Wagner e Aquela da Cachorrinha. Trouxeram ainda a excelente Sabiá, de seu álbum de 2007, Menino Canta Menina, e também Ivan, O Terrível. Foi uma apresentação competente e cativante, embora a sutileza de seus arranjos no estúdio tenha se perdido um pouco en vivo.

Já com grande platéia, em suas duzentas, trezentas pessoas, inverteram a ordem das bandas, trazendo naquele fim da tarde os gaúchos da Sociedade Bico de Luz, SBL como queiram. Igor Almeida no vocal, trajando sua amarela-camiseta-nelle-and-sebatian, Rodrigo Medeiros no baixo, Thomas Nasário numa das guitarras, Orley Taege Jr. noutra e Maikel Silva na bateria. Primeira banda a verdadeiramente se entrosar com público, mostraram seu trabalho introduzindo o conteúdo do álbum Doe Rock ao Emocentro (assim mesmo, sem ahá), numa conversa amistosa. Fizeram a única incursão de covers da noite, com um Raul, a pedidos, em Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás. Com produção e som atendendo o comercial, pop, o show foi bem levado, citando as faixas Nosso Amor é Rock, Excursões pra Expointer, TPM(em homenagem a banda que viria posteriormente, Plano Próximo), Meu Bem e Suplementos Alimentares.

E às 18h30 vinha a Voluta, com Serginho na guitarra, a garota Mandi na bateria e o novo baixista da banda, Iran Ribas. Entraram deixando muito claro que estavam ali para fazer um som próprio e que não, não atenderiam aos pedidos da platéia. Pedidos completamente despropositados por sinal, que irritaram até o lado de cá. Fizeram seu som, com as faixas de seu EP(disponível para download no myspace da banda), mais aceleradas que no original, incluindo composições não-gravadas ainda. Com incursões nos vocais de todos da banda, poderia ter sido interessante não fosse o fato de se perder muito da voz de Mandi, especialmente na esperada Guardando pro Pior. Tocaram ainda as faixas Carrossel, Boçal, Vida de Cowboy, Vidinha Idiota, o grunge então intitulado Décimo Primeiro, e encerraram com a faixa Bala me Seduz, onde Serginho e Iran trocam instrumentos. Tendo visto-os já em apresentação no Caibar, podemos dizer que não foi a melhor apresentação dos três, mas sendo a primeira em São Carlos não se podia perder.

Finalmente subindo ao palco uma prata da casa, o Plano Próximo veio com o Powerpop de seu álbum de debute, Wasabi, já conhecido por nós de post passado. Escolados de vários palcos no país, Carol, Gustavo, Rachel, Ian e D2 entraram na primeira hora da noite com as faixas Nada de Mais, Ou Não, Nervosa, Você tem que se mexer, Pior que porrada, Eu só queria conhecer seu cachorro, Vou capotar, Doce vida, TPM Song (em homenagem à SBL). Com necessários gatos pingados já indo no coro junto com a banda, o Plano Próximo firmava seu público.

E até então, nada sobre as palestras do evento, muito embora ninguém tivesse sentido falta delas. Com temas sobre Homofobia e Vegetarianismo, a iniciativa era válida, entretanto interromper as apresentações para que os palestrantes entrassem com telão e data show não foi uma das idéias mais felizes, ainda por cima com o Festival já se encaminhando para seu final, passando muito das oito. Fica a sugestão para manter atividades como esta em paralelo com os shows, já que a Estação proporciona espaço físico para isso. Nada diferente do que seria com as oficinas de circo e afins, que infelizmente não puderam acontecer.

Nisso, aproveitamos para uma escapulida.

Voltamos a tempo da última apresentação tão somente, já às 21h30, perdendo a queda de energia que nos relataram posteriormente, além da apresentação da banda Julgamento, de Itirapina (muito embora o estilo não nos agradasse nada-nada). Notamos ao reentrar a Estação uma drástica mudança nas cores do público: Saia o colorido e predominavam as camisetas pretas, embaladas à la Zakk Wylde mode com a banda são-carlense MothercoW. Foi uma das últimas apresentações com a banda contando com cinco membros, Guizão nos vocais, Kenny e Danyel nas guitarras, Heitor no baixo e BD na bateria. Tabém foi uma das poucas apresentações aqui em sua cidade natal, já que estão com certa evidência com apresentações por todo o estado. Fizeram um show forte, conseguindo entusiástica participação do público, quebrando-se em muito moshing. Conseguiram tomar a platéia, levando a pedidos de bis, encerrando a noite com merecido tempo extendido.

Claro que a festa ainda não acabava por aí, continuando no Armazém com a banda Fast Food Brazil, de Sorocaba, e Alex Valenzi & The Hideway Cats, mas a tal força maior não nos deixou ir até lá.

Anotações do Show: Terreno Baldio, na Biblioteca Cassiano Ricardo

Seguindo com mais um Anotações do Show, venho aqui falar-vos da apresentação da inequiparável banda Terreno Baldio, previamente anunciada no nosso blog.

Esse foi possivelmente o show mais esperado pelo Programa Bluga desde seu recente começo e naturalmente nossas expectativas estavam bem altas, visto a colossalidade que foi o espetáculo da banda na Virada Cultural.

Pois bem, chegamos à Biblioteca Temática de Música Cassiano Ricardo por volta das 15 horas daquele sábado, 30 de Agosto. Tão logo entramos, arrebanhamo-nos com os integrantes da equipe responsável pela produção do DVD não-oficial do show que aconteceria. Já adianto que postaremos aqui algum link em html ou torrent para baixá-lo, assim que fique pronto. Eu não figurava entre a equipe oficial, porém pude acompanhar os entrementes da produção, já que estava junto de um conhecido nosso, o Vanderlei, de um tal Programa Bluga.

Já estavam lá, no palco, o violinista Cássio Poleto e Mozart Mello, conhecido de qualquer guitarrista que se preze, brincando com sua guitarra. Enquanto a equipe do DVD discutia quais seriam os locais apropriados para as câmeras, uma melodia soava na guitarra de Mello, que logo associei à música Saci, do álbum Além das Lendas Brasileiras. Uma faixa demasiadamente boa, que finalmente traria o gostinho desse álbum, ausente no set list da Virada.

Encontramos lá também Roberto Lazzarini, pianista, maestro, compositor, arranjador e produtor, além de muito simpático e aparentemente bem empolgado com a idéia do DVD. Depois de uma passagem de som rápida, tive a oportunidade de ver a entrevista que Lazzarini gentilmente concedeu para compor os extras do DVD. Aos fãs do Terreno digo que constarão também conversas com os outros integrantes, a exceção de Mozart, que infelizmente teve que sair mais cedo. Muita informação interessante saiu desse papo e é facilmente percebido ali que a banda, além de ter músicos incomparáveis, dotados de conhecimento musical e artístico invejável, é composta por ótimas pessoas.

Foi um privilégio poder assistir a passagem de som: a empolgação aumentando gradualmente a cada riff reconhecido, a cada melodia terrenisticamente associada e mal pude conter a expectativa, ao ouvir Este É o Lugar. Faixa esta que, junto com Despertar, são as minhas duas favoritas do Terreno.

A certa altura saí do auditório, junto com a equipe de reportagem e presenciei entrevistas cedidas pelos fãs, sendo o mote da maioria deles o Rock Progressivo. Dentre eles estavam não só fãs de longa data, mas também aqueles que conheceram a banda ainda esse ano, na ocasião da Virada Cultural (incluímo-nos nesses últimos) e também, como era de se esperar, fãs fervorosos de Gentle Giant.

Faço aqui um gancho pra comentar parte da entrevista do muito carismático vocalista João Kurk. Segundo ele, o estopim para a criação do Terreno foi justamente a primeira ouvida do álbum Three Friends, do Gentle Giant. Abismado com o que ouviu, Kurk – pronuncia-se kúrk, não kãrk – foi logo comentar com Lazzarini, que confessou ter ouvido o mesmo álbum e ter ficado igualmente surpreendido. Eis que surge a semente do Terreno Baldio. De duas mentes brilhantes, posteriormente acompanhadas de uma terceira: a de Mozart Mello. Parece-me ser essa a tríade que capinou e limpou o espaço que por fim viria a ser o Terreno Baldio. São ELES o Aquelôo, e essa é a verdade.

Enquanto fãs davam seus depoimentos, a banda passava o som. Algo que durou mais de duas horas. Infelizmente, apesar de todo esse tempo, o som não ficou a contento e pode-se vexar grandemente a empresa responsável pelo som – uma tal de Line Som – que fez um trabalho extremamente ruim: muitas falhas durante o show, com o teclado sumindo, falta de retorno, o vocal sendo por vezes inaudível, por vezes baixo demais e freqüentemente saindo somente de um lado do palco. Penso eu que essa foi realmente a única parte negativa do show, mas, mesmo assim, tal situação (normalmente catastrófica para outras bandas) não conseguiu tirar a magia da apresentação.

E vejam que ainda mais desgosto a empresa Line Som nos traria. Graças a essa empresa que fez um trabalho tão incompetente, soubemos via Lazzarini que possivelmente a captura direto da mesa-de-som comprometerá o áudio do DVD! De qualquer modo, peço àqueles que ficaram tão indignados como eu que mandem um e-mail a linesom@linesom.com.br, fazendo suas reclamações quanto ao ocorrido.

Enfim, passada essa reclamação tão necessária, continuo com o relato daquilo que era a causa da minha ansiedade. O alvo da coletiva expectativa, que então atingia a turba (estimada em 230 pessoas, 65 a mais que a lotação) dos mais fiéis habitantes do Terreno sobre o qual fala o primeiro álbum da banda.

Enquanto os então repórteres entrevistavam Renato Muniz, encarregado do contrabaixo, acomodei-me, esperando os músicos subirem ao palco, o lugar a que realmente pertencem. Kurk, Poleto e Edson Guilardi ainda dariam suas entrevistas, findo o espetáculo.

Alguns minutos depois, com a banda composta, a tão inspirada e esperada ode ao Terreno Baldio enfim começaria! Não comentarei a performance da banda, sendo ela incensurável por alguém como eu, mas os deixarei com o set list do show e algumas impressões, que, mesmo sendo pessoais, provavelmente estenderam-se semelhantemente a cada um dos atingidos pela sonoridade que emana do importante Terreno.

O show começou com a infalível abertura de Este é o Lugar, que também foi usada ao início do show da Virada, apresentando-nos seu protagonista: o Terreno, onde podemos despejar “Todo o lixo que se acumulou”. A canção mostra-nos o lugar que, embora cada um de nós desconfie existir, nunca realmente achamos. (Passamos sempre perto, mas mesmo assim não notamos!) Seguindo o enredo de nossa estória, temos a composição Água Que Corre, com um maravilhoso teclado que suavemente flutua, sugerindo que sejamos como a água, fluindo e sempre procurando o lugar certo. Uma faixa que parece um tanto curta durante o show, impressão possivelmente desejada pela banda, pois traduz a brevidade e sutileza com que a água passa.

Quando as coisas ganham vida, que veio nos contar daquilo que faz brotar o sol no Terreno. Seguida por Aquelôo, uma sábia criatura vinda de uma era muito antiga, que acorda de seu sonho diurno, toma sua função de purificador do Terreno. Enquanto executa seu trabalho, Aquelôo performa sua dança noturna. Esta é uma faixa que adoro e realmente não consigo entender como ela acabou ficando de fora do álbum!

O ápice de Cassio Poleto no espetáculo vem em seguida, numa faixa instrumental nominada O vôo sempre continua, onde sola de forma embasbacante, assim como Mozart Mello e sua impecável técnica.

Relógio de Sol, composição ainda não gravada, porém presente no YouTube, é o próximo componente terrenístico apresentado: é ao final de suas horas que Aquelôo emerge da terra e começa sua limpeza.

Contando-nos de um certo pássaro, vem Despertar, uma faixa simplesmente brilhante, com contagiante representação de Kurk (é impossível que João Kurk não tenha tido aulas de interpretação) que quase incorpora o pássaro em suas sensações. E, enfim desperto, apto ao seu vôo, Pássaro Azul aparece! O coro da platéia encorajando seu alto vôo. Foi um dos ápices do show e Lazzarini realmente se deixou levar pelo clima tão habilmente conjurado por ele e os demais.

Vinha inesperadamente um solo inspirado da bateria de Edson Guilardi, como a quebrar um pouco o clima do primeiro álbum e preparar a platéia para a participação especial do negrinho de uma perna só, o Saci, saído direto do álbum Além das Lendas Brasileiras. Uma das minhas faixas favoritas desse álbum e realmente gostei de vê-los tocando-a!

Depois de Saci, o conjunto apresentou Velho Espelho, outra canção ainda não gravada em português, mas também presente no YouTube. Acredito que ela deveria fazer parte do primeiro álbum, mas foi cortada, assim como Aquelôo e Relógio de Sol, pela falta de tempo do formato em LP.

Enfim, o Terreno Baldio canta sua canção definitiva: Grite. Manda-nos gritar, enquanto fala que, mesmo nos tempos de hoje, ainda existe paz. A paz que se refugia no Terreno. É aqui que você pode gritar e correr e viver, diz a música.

Nesse momento bate-me um sentimento de pré-concebido vazio, pois sei que, além de ser possivelmente a principal mensagem do Terreno, ela é também sua última. Porém, não tão facilmente a platéia deixa a talentosa trupe ir embora. Todos em pé, visivelmente fascinados pelo espetáculo, o pedido de bis, clamando ao Terreno que nos falasse uma vez mais.

A música escolhida para a reprise foi Pássaro Ázul e, dessa vez, ainda mais vozes cantaram seu vôo. Juntou-se a ela o final de Grite, como derradeiro lembrete. E foi aqui, nesse medley inesquecível, que o Terreno deu seu último adeus. Último adeus da noite, claro, já que espero que muitos shows do Terreno Baldio ainda venham
!

(Confira mais fotos, clicando AQUI, pra nossa conta no Picasa!)

http://www.terrenobaldio.com.br/
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=15387658
http://www.youtube.com/user/Kurkinho


Fotos: Erick Fernandes

Cobertura: Semana do MACACO, no CAASO

Em sua 4ª edição, o MACACO, Movimento Artístico e Cultural do CAASO mais uma vez traz atrativos ao mundo da música, e um mundo de outras artes, como bem diz o nome. Como não poderia deixar de ser, o Programa Bluga esteve lá conferindo, ainda mais dentro do nosso território.

Acompanhamos a edição desde sempre, lembrando a excepcional apresentação do grupo ½ Dúzia de 3 ou 4 se apresentando na edição de 2006. Pudemos ver eles novamente no 1º Festival Contato, e são geniais, geniais. Na edição de 2007 passaram lá os caras da excelente banda de Araraquara, Malditas Ovelhas, e nos vimos toda a apresentação deste espaço dedicado ao experimentalismo e psicodelia. Infelizmente perdemos outra banda que prometia muito, a Mamma Cadela, numa vertente semelhante. MAS, tivemos o imenso prazer de ver pela primeira vez ao vivo a Orquestra Brasileira de Tango de Puro Guapos, com o argentino Mirol em seu bandoneon com vários Piazzolla no repertório, acompanhado de violinos, violoncelo e contrabaixo baixo, só pra listar as cordas, além de piano e clarinete. Impagável e tudo isso no palquinho do CAASO, defronte ao Bar do Mário, como tem que ser.

Nesta edição de 2008, a Semana do Macaco como sempre nos trouxe algumas alegrias. Como o foco do blog é música, se é que não deu pra perceber, vamos comentar apenas as apresentações do gênero. Contudo mesmo assim vamos levar a público apenas alguns dos acontecimentos, porque não conseguimos nos desdobrar em dez ou doze, como gostaríamos e o MACACO exige presença diária! Afora o fator de sempre, com os horários da agenda do dia nunca respeitados, atrasando-se até o costumeiro horário das 23h57.


SEGUNDO DIA

Começamos errado, já depois do início. Mais uma vez com espaço dedicado à um rock cheio de experimentalismos, a organização nos trouxe as Aeromoças e Tenistas Russas, banda que revisamos em nosso último post. A proposta deles, não somente pelo próprio som, exigia presença mandatória: apresentaram ao vivo trilha sonora composta para o curta-metragem holandês Regen, de 1929, dirigido por Joris Ivens. O curta por si só já é uma bela viagem, mostrando um dia de chuva em Amsterdã e a cidade mudando sua aparência ao acompanhamento da trilha original, orquestrada.

O mesmo papel faz a nova trilha feita pela banda, muito embora seja uma revitalização usando de sonoridade próxima ao Rock Progressivo, executando-a em baixo elétrico(Juliano), teclados(Gustavo), bateria(Nilo), pífano e saxofone(Thiago Hard). Em menor escala, um trabalho a la Soundtrack from the film More. Perde-se a conta em quatro ou cinco passagens nos pouco mais de 10 minutos de fita, embasbacantes. Essa linha de material é justamente o que poderia rechear shows apenas com composições próprias. Tocaram ainda durante a passagem de som um pedacinho da sua versão de Superstition e enceraram seu palco com outra versão conhecida nossa, com Play That Funky Music White Boy.

Esta apresentação fez parte da parceria da organização do MACACO com a RUA, Revista Universitária do Audiovisual, iniciativa mais uma vez do curso de Imagem e Som, com seus alunos da turma de 2007, da UFSCar.

Trocam-se instrumentos e músicos, mudando o conjunto da bateria inteiro e ainda montando um set de percussão, para que vislumbrássemos o Eletrogroove. Todos alunos do curso de música da Unicamp, vinham com a incrível marcação de baixo de Mazon, a guitarra minimalista e obviamente fundamental de Spiga, os teclados regados a timbres espaciais de Montorfano e a dupla coordenadíssima na bateria e percussão, Gigante e Chico Santana. Trazendo apenas composições próprias, visitaram várias vertentes com pé no experimental, mesclando-as todas, seja com Drum’n’Bass e Fusion Jazz, seja com Funk e Progressivo, seja com Post-Rock e Samba. Simplesmente imperdível.

Compactuando com a banda, havia a presença de um pessoal da Unicamp, que, enquanto aguardavam sua vez de fazer a música, não só assistiram o Eletrogroove, mas participaram do espetáculo com incursões usando bolas de contato e a pirotecnia de uma inusitada figura girando um bastão de fogo. Claro que podem ter vindo a tirar o foco do show em si, mas não foi nada imperdoável, já que com certeza acrescentaram total psicodelia à apresentação.

Tocaram uma hora inteira, para depois o percussionista Chico Santana deixar seu posto junto a banda e fazer a ponte, regendo então dois mundos, entre o que viria pela frente: a Bateria Alcalina. Composta principalmente por estudantes da Unicamp, oferecida como atividade de extensão universitária pelo Instituto de Artes, IA, a bateria apresenta elementos incomuns a grande maioria das baterias universitárias, aproximando-a muito mais da excelência de uma escola de samba. Funcionando DE VERDADE com surdos de primeira, segunda e terceira, faziam toda uma diferença com agogôs de quatro bocas, criando uma sonora dissonância e fazendo sua música muito mais rica, acompanhando caixa e repique nos instrumentos de marcação e chocalhos e tamborins na percussão. Tocando por mais de meia-hora em conjunto com o Eletrogroove, ora fazendo a entrada deste grande jam, ora em concomitância, ora finalizando a brincadeira, a Bateria Alcalina nos trouxe uma experiência única.

Mesmo com suas camisetas amarelo-e-preto-caaso, era impossível este pessoal se confundir ao CAASO, quando, já autores dos malabarismos da noite, ainda dançaram desvairadamente ao som do Eletrogroove. Esta é a grande diferença em ter um curso de Música, um curso de Dança, um curso de Artes Plásticas, enfim, todo um Instituto diferenciado. Este pessoal trouxe um brilho único noite do CAASO, findando sua parceria com o Eletrogroove para tocar direto mais de uma hora sem parar nunca, honrando seu nome, lembrando a mítica propaganda dos coelhinhos da bateria que “dura, dura, dura, dura...” Nas várias levadas únicas da Alcalina, findaram a apresentação debaixo de coro EXIGINDO um cortejo, mesmo depois de a Polícia Militar ter adentrado o domínio da Universidade. Será que os vizinhos reclamaram?


QUINTO DIA

Pela tal força maior, pulando terça e quarta-feira, onde inclusive tocou o pessoal do Cubanistas, que já tínhamos visto numa curta apresentação no Festival do Calouro da UFSCar de 2008, chegamos na quinta, no finzinho do pessoal rolando os pífanos. Como sempre, a ecleticidade comprova-se uma grande falácia e mudam as caras e cores para receber o Jardim Cefálico. Programados para tocar no domingo, não puderam comparecer, deixando o espaço daquela noite para as pick-ups do pessoal do programa Independência ou Marte, logo depois do Ganja Groove, também da Rádio UFSCar, fazer uma bela apresentação mesclando seu som entremeando Reggae e Dub com as imagens do VJ COSMO.

Nessa re-escalação estavam incumbidos do Rock Luiz Manoel a frente dos vocais, Renato de Sá no baixo, Rodrigo Volpe na bateria e o guitarrista onipresente-das-bandas-são-carlenses, Danilo Zenite. Mesmo apresentando formação incompleta, faltando a segunda guitarra de Cristiano Godoy, que viria a fazer certa diferença, não deixaram nada a dever. Trouxeram um repertório bem balanceado entre suas composições e covers, mais centrados ao Hard Rock, transparecendo o gosto da banda pelo Grand Funk e a excelência na execução de duas do Sabbath, além de pitadas do sempre bom Led Zeppelin e Deep Purple, fechando a base do Hard Rock lá fora, e trazendo aqui de dentro Casa do Rock, Casa das Máquinas! Pingadas do Progressivo também se fizeram presentes, num Jethro Tull, com A New Day Yesterday, e Pink Floyd com Dogs em uma variação que não agradou muito a camaradagem aqui, mas balançou o público sedento, e Breathe.

Ponto alto da noite realmente era o material próprio do Jardim Cefálico, que honra o nome e as influências, que certamente remetem ao Rock Progressivo. Neste setlist estavam faixas do álbum recém-lançado Contempotrópole, com uma boa produção contemplando o Heavy Prog. Este material pode ser conferido na integra junto ao Bandas de Garagem do UOL. Destaque neste show para a faixa que finalizou a apresentação, Beijos Nucleares, do último álbum, e Desígnio, material mais antigo, de grande qualidade dentro das duas horas em que os garotos se apresentaram.


CONCLUINDO...

Faltou ainda a sexta, mas... Ficam as congratulações por esta excelente seleção de bandas ao Fedel, a meu ver grande responsável pela semana. Claro, rolaram muito mais atividades neste MACACO, mas agora só ano que vem. E nós estaremos lá, com certeza. Só não divaguem muito sobre essa sigla, porque o importante é a figuração.


http://www.caaso.org.br/macaco/programacao.php

http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=85199

http://vimeo.com/1263958
http://www.youtube.com/watch?v=AIBOF6DYfxQ
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=46916188

http://www.myspace.com/eletrogroove
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=25362
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=4403003

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=553774

http://www.myspace.com/jardimcefalico
http://bandasdegaragem.uol.com.br/hotsite/index.php?id_banda=12307
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=42559
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=4200793