Cobertura: Escuta Essa 4x4 - Parte I

Tentando abarcar mais do sempre-crescente cenário Rock da cidade de São Carlos, na noite de domingo dia 10 de Agosto, o Programa Bluga esteve cobrindo o Escuta Essa 4x4. A produção é promovida pelo Nilo, do portal Escuta Essa, lembrado o Festival de mesmo nome, cuja 2ª edição tivemos o prazer de conferir em 2007. Saídos deste festival, revisamos depois Fenícia e Plano Próximo.

A proposta do E.E. 4x4 é claro no título: Quatro bandas, quatro horas de rock. O Escuta Essa sempre demonstra certa ecleticidade em suas produções e mais uma vez isso se refletia nas apresentações da noite. Entretanto, a combinação do Grunge, do Rock’N’Roll, de um rock experimentalista (?!?) e do Hardcore acabou numa xenofilia entre o público, deixando todos satisfeitos.

O evento teve lugar no nosso conhecido Armazém Bar. Entretanto, a excelência da casa esteve comprometida: desfalque da cerveja de uso comum, pelo ávido público da banda Mandinga na noite anterior, que deve ter lotado a casa. Incongruências a parte, latão de Itaipava ao mundo, Bohemia para nós.

Nos idos das 07h30, vinha a Dharmanet, encarnando-se como banda de abertura. Pelo domingo, havia as muitas 30 pessoas, número que cresceu até o auge da noite a despeito das circunstâncias. Apresentando covers daquele tal estilo, incrivelmente bem sucedido e impressionantemente vivo hoje, pingaram também algum trabalho próprio.

Todos garotos, tarimbados das boas casas do ramo e festivais da região: Gaudêncio em guitarra base vocais, Douglas na solo e backing, Vinícius na bateria e Léu no baixo. Trouxeram bons covers da banda que os marca a ferro, Nirvana, fazendo do Dharmanet praticamente um tributo, tocando Love Buzz, Come As You Are, About a Girl, School, In Bloom e Serve The Saints. O vocal de Gaudêncio, mesmo dentro do estilo por vezes deixa a desejar, cantando fora do tom, como se as cordas do garoto ainda estivessem oscilando na sua puberdade. Ainda, estudaram um muito bem escolhido Alice in Chains, com Man In The Box e Them Bones, que ajudaram a quebrar o nirvanismo (Viva Jerry Cantrell!). Tocaram ainda I Wanna Be Your Dog, The Stooges e praticamente assassinaram Page, Plant e Jones, pra não falar no estrago que Vinícius roboticamente causou a um coveiro qualquer, com sua versão de Immigrant Song. Mas traziam em Douglas um lead guitar muito bom, enquanto Gaudêncio e Léu fizeram toda a lição de casa. Apresentaram algumas faixas de composição própria, sobressaindo-se Good Question. A faixa é curta, que parece fugir do estilo da banda, mas é um fio de maturidade em seu som, com algum experimentalismo.

Trocam-se os instrumentos, trocam-se os músicos, troca-se o estilo.

Entrando pro seu quarto de noite, as 08h25, vinha outra banda são-carlense, o Barbante Submarino. Descobriu-se que a velha história da influência do núcleo familiar, tão falada dos assistentes sociais, realmente leva a bons garotos e quem sabe boa música: banda formada pela família Seneme o Barbante é a prova viva disto. Pais, mostrem a década de 70 a seus filhos, por favor.

O nome declaradamente sugere uma banda com um pezinho no Rock Progressivo, entretanto o repertório da noite, conforme conversa com integrantes da banda, foi pensado para o público do evento. Assim, fomos agraciados com as mais clássicas músicas de clássicas bandas, subindo o nível do evento.

Quando o vocal Rafael Seneme (o irmão) veste um colete em couro cheio de bordados, fica a clara a veia que trouxe Born to Be Wild, primeira faixa executada. Também é a dita primeira faixa do estilo, cunhando inclusive o Heavy Metal ao falar das motocicletas que mais tarde seriam vistas em Easy Rider enquanto a faixa era ouvida na trilha sonora. Fácil entender o fixação dos motoclubes.

Já a segunda faixa mostra mais do que se esperava ser a cara da banda, ao visitar o Prog Folk do Jethro Tull com Hymn 43, do álbum de 1971, Aqualung. Enquanto dificilmente alguém foge do cover da faixa título do álbum, eles mostraram corajosos e bons conhecedores do assunto. Contando os quatro integrantes da banda, em vocal, guitarra baixo e bateria, fica claro que não há a presença do teclados marcantes, mas o trabalho foi competente, com destaque para a bateria de Rafinha Simões (sobrinho?). Faltou sentir um pouco da presença de baixo de Bruno Seneme (o sobrinho). Detalhe, Bruno é um baixista canhoto, em meio a um mundo de guitarristas do avesso. Ficou a vontade de ouvir uma Cross Eyed-Mary!

Trazendo a primeira das muitas desta banda que povoaria esta segunda hora do 4x4, vinha Proud Mary, e percebemos a grande presença de público ao redor, já nas quase 100 cabeças, empolgando-se com a performance da banda. Faz falta a segunda guitarra, deixando órfã a música. No muito bem arquitetado setlist para agradar ao gosto da noite, traziam na sequência, nas palavras de Rafael “uma homenagem ao rei do rock”, com Blue Suede Show, na versão de Elvis dessa faixa saída da boca de Johnny Cash, e tocada por muitos outros, entre eles Hendrix e Tommy Iommy. Desta vez, a guitarra estava definitivamente em sua praia.

Apresentando uma das composições da banda, com composição de Edson Seneme (o tio) e letras de Rafael, a próxima era Minha Liberdade, com título refletindo o sentimento da faixa, regada a solinhos clássicos na guitarra de Edson, que ainda acompanhando no vocal.

E dizendo “Eu vou ser o 1º à gritar”, Rafael Seneme fez desnecessários os míticos pedidos de TOCA RAUL, trazendo Babilina à empolgar a noite com Tio Edson revelando a alma da guitarra com a música.

Vem a pausa para o (im)pertinente comentário de Rafael, consagrando sua presença de palco amistosa e contagiante, falando do xará Rafinha, “baterista à álcool, modelo 85, único dono”, procurando um certo refresco.

Volta marcada pela paixão do guitarrista, segundo sua esposa: Doors, Roadhouse Blues. Rafael não é nenhum Jim Morrison, mas segura os vocais. Mais uma vez indo de Creedence Clearwater Revival, Bad Moon Rising, que a banda diz ter saído no improviso, muito embora a guitarra estivesse muito bem nos solos, acompanhada da marcação ligeiramente mais sofisticada que a original de bateria com Rafinha.

E na pergunta a platéia (que não respondeu, aliás) E ai, tudo bem?, composição do Barbante Submarino, entrando com bateria e guitarra quase num Reggae, que é desmistificado para o Rock pelo baixo. Bons arranjos de vocal na faixa, entremeando o tal ritmo jamaicano com uma guitarra ousada.

Depois de falar do REI do Rock, Rafael falava agora dos REIS do Rock. Twist and Shout, no que seria “mais um grande improviso”. Pois se foi improviso, valeu a pena, pois desde o primeiro acorde, rendeu gritinhos histéricos da platéia, mostrando a força dos Beatles, na faixa imortalizada também no cinema pelo clássico da Sessão da Tarde, Ferris Bueller’s Day Off, mas conhecido nosso como Curtindo a Vida Adoidado!

“Mais um barbante pra gente não dispensar a chance”, Vou Ficar, com excelentes riffs de Edson abrindo a faixa, que evolui pra uma baladinha com o vocal de Rafael. Em seu solo, traz a mente a guitarra poderosa um Santana. Na sequência, o que seria o encerramento do show, a terceira do CCR, daquelas mais clássicas, Have You Ever Seen The Rain, balada certeira. Com a audiência grande, já conhecedores da banda, pedem mais. Ficaram devendo a tão chamada pelo público, “Vidas Secas”, composição própria dita progressiva. Finalizaram a noite com outra ali pedida ao extremo, tirada do chapéu: dos míticos Sá e Guarabyra, com outro Rodrix, Jesus numa Moto, mais uma vez justificando os vários casacos de couro ostentando brasões de motoclubes na platéia, entoando a plenos pulmões a canção.

Encerrava-se o show. Muito aplaudidos, foram agradáveis, mas queremos ver ainda um show deles com repertório mais Hard Rock, mais inglês, mais progressivo. Queremos também conferir a tal Vidas Secas! Veremo-nos novamente.

Chegando a metade do 4x4, faltavam ainda as outras duas bandas da noite, que deixaremos para a segunda parte da cobertura. Aguardem!



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