Anotações do Show: Mariana Aydar, no SESC São Carlos

No último sábado o SESC de São Carlos foi brindado com Mariana Aydar. Trazendo o refino da turnê de seu primeiro trabalho solo, Kavita 1, a garota parecia radiante em apresentar-se também para os amigos e a família da cidade que deixou lembranças em sua adolescência, segundo a cantora.

A equipagem do Programa Bluga esteve lá conferindo tudo, a título de apreciação. Vamos dar aqui setlist e algumas das impressões tiradas do show, estreando nosso novo formato, Anotações do Show, mostrando o que conferimos sem maiores pretensões.

Acompanhavam a dama Lucas Wargas nos teclados, acordeão e providencial escaleta; Gustavo Ruiz na guitarra e incursões pelo violão e cavaquinho; Márcio Arantes, da “baixaria” e no violão de sete cordas da abertura; Fumaça na percussão; e Duani, na bateria, direção musical e cavaquinho modulado da última do show.

Tal e qual o próprio álbum, abre a noite a dobradinha Minha Missão e Na Gangorra, pra na seqüência entrar uma das muitas emprestadas para o show, Vai Vadiar, de Jessé Gomes da Silva Filho.

Na volta ao álbum, Vento no Canavial, faixa excelente, escolhida por unanimidade no Programa Bluga como mais bacanuda da noite; Prainha, composta especialmente para Mariana Aydar por Chico César, falando de Trancoso, recanto preferido da cantora; e Deixa o Verão, em excelente versão da música Rodrigo Amarante, famosa por Los Hermanos.

E noutro excerto ao Kavita 1, Mariana trás vários outros arranjos. Consolação, de Baden Powell e Vinícius de Moraes; Tunuka, de Orlando Pantera com letra atirada no dialeto cabo-verdiano, conhecida também na voz de Mayra Andrade, cantora cabo-verdiana recomendada em dica no mesmo show por Mariana Aydar, com quem ela já dividiu os vocais desta composição; Un, Deux, Trois, de Camille, a chamada “furacão francês” (em clara referência ao tão famoso quanto o Katrina); e Beleza Pura, de Caetano Veloso, já encarada no show antes mesmo de cair na novela homônima.

Recomeçando mais uma vez com o material do álbum, Candomblé, Zé do Caroço, Festança e Menino das Laranjas, anunciada como a última, levando a exclamações da platéia e promessa de que teríamos um bis. E justamente pra esse bis, em incrivelmente coincidente pedido da platéia, Onde está Você, com aquele baixo de Ska, pra fechar depois com um “ousado” novo arranjo de Zé do Caroço, com samples do funk carioca, dando nova fantasia a música.

Faltou apenas Maior é Deus, pra fechar todo o álbum e pingar um pouco do forró pelo qual já se conhecia a menina de outras épocas e doutro show no SESC de Ribeirão Preto em 2007.

Genialmente, o show, assim como o álbum, mostra uma fusão da quintessência do samba velho com novos aromas de guitarra, baixo elétrico e samples escolhidos a dedo. No cenário paulista, Mariana Aydar já é apontada como expoente desta e próxima geração, o que com satisfação nós e o já sensível número de fãs observaremos atentos.



http://marianaaydar.umw.com.br/
http://www.myspace.com/marianaaydar
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=162136
http://www.musicadebolso.com.br/videos/volume07/index.html

Resenha: Fenícia no Rock'n'Blues

Em mais uma das muitas investidas da molecada do Programa Bluga ao chão do CAASO, na sexta-feira, dia 28 de Março de 2008, acabamos conferindo logo DUAS das bandas que perdemos, por razões alheias a nossa vontade, na ocasião do evento Grito Rock que passou por São Carlos.

Embora a noite em questão se chamasse Rock’n’Blues, pode-se dizer que a primeira banda não caia exatamente sobre essa alcunha. Recheada de covers de bandas do cenário Alternative Metal, a banda Fenícia revelou-se uma excelente abertura para a noite, senão a peça principal, atraindo tanto público quanto o mel atrai moscas. Havia tempos que eu não via um roquinho colocar tanta gente, incluindo raparigas, dentro do CAASO (alguém se lembra de como um mítico cover do Pearl Jam encheu o lugar?).

Nesta nova passagem pelo território uspiano, o pessoal de Descalvado iniciou a noite por volta da 01h da manhã, tocando All my life, a preferida para abertura de shows do próprio Foo Fighters. Assim, a escolha não podia ser melhor e depois dessa, veríamos clássicos e mais clássicos (dos últimos dez anos, mas enfim, clássicos), que fariam a massa ficar num nervoso headbanging ao longo noite.

Seguindo com o show, a guitarra entra com uma Your Time has Come, que realmente vem a brilhar quando entram os pratos do baterista Antônio Carlos, vibrando tal e qual o Audioslave. Teuzinho Rocks tenta, consegue um bom som, mas não chega nessas do Tom Morello, embora se note a clara influência.

Continuando com o Morello, Teuzinho cai bem melhor no estilo com Sleep Now in the Fire, do Rage Against The Machine. O baixo me pareceu ficar devendo um pouco, mas o vocal fica interessante, revelando a força e presença da voz de Ninne, no limiar entre o cantar e o gritar (senão, o protestar), que marcaria várias outras faixas, inclusive o refrão da próxima tocada, Zombie, do The Cranberries, onde o vocal feminino se encaixa bem ao timbre da vocalista da Fenícia.

E dando continuidade ao que poderíamos chamar de “sessão protesto”, a banda traz uma composição própria. Deixando de lado a discussão sobre a própria incursão pela causa e nos concentrando na análise da musicalidade da faixa Eutanásia, ela se mostra um bom material, embora de riffs medianos, mas de baixo presente e vocal atirado, com muita influência das bandas deste cenário, quase num Rap-Metal.

E voltando para os covers, no mesmo seguimento eles trazem o que seria a vedete da noite: System of a Down. Como primeira faixa desta banda, vem Aerials, que só abrilhanta a voz da garota Ninne, muito a vontade, segurando bem a música. A banda faz uma interessante performance em palco, sobressaindo-se a figura de Ninne, que parece imerge na sensação da música, ao lado do guitarrista, que viria a entrar mais atirado no back vocal, fazendo aquele jogo de vozes típico do System, sem muito se preocupar com qualquer lirismo na coisa. Fica feio, mas talvez isso se justifique na desculpa esfarrapada de que não só sua voz, mas toda sua atitude no palco é atirada e imponente. Praticamente um showman.

Depois de uma Megalomaniac do Incubus, com um baixo arrebatador, a Fenícia trás outra de suas faixas, Não Enrola, que entra numa guita excelente, revezando-se com um baixo cavalgante, num estilo Rap Metal na melhor inspiração de Rage, incluindo a letra de música de protesto com vocal forte da vocalista, que ainda se ganha espírito no palco e encara firme a platéia.

E mais uma vez a banda visita o SOAD, deixando bem claro de quem são fãs e onde buscam inspiração, que se reflete em muito na postura do guitarrista Teuzinho Rocks, embora ele esteja esquecendo que o macaco louco do System é o baixista. Mas a troca de papeis é justa, assim como a troca da guitarra para tocar todas e exclusivamente as faixas desta banda, deixando de lado o espiral no melhor estilo Gibson Les Paul de Zakk Wylde. Traziam uma extremamente energética Innervision, naquela pegada pesadinha como na original, sentindo o baixo retumbante. E essa empolgação se reflete num uso demasiado de pratos na faixa, mas que não ficaram de modo algum exagerados, muito pelo contrário, caindo bem.

Mas o grande pulo da noite viria com a faixa nacional de Raimundos, com Eu quero ver o oco, com Lucas Eduardo desfiando aquele baixo catchy pra deixar a guitarra lançar aquele riffinho grudento. Aliás, trabalho muito bom de Lucas, com um baixo sonoro. (Ademais, havia tempos que eu não via um som tão bem setado num show do CAASO. Pra quem já tentou ver até um Paulinho Moska cair no veneno daquele palco, estava EXCELENTE. Foi trabalho do Leozinho isso é?) Enfim, pra lá de empolgante, a faixa, acabou levando mesmo quem não gosta do gênero. E levou TODO o público a entoar o mítico refrão junto com a vocalista Ninne, mais uma vez forte, conduzindo com maestria seu coral para a empolgação generalizada.

Continuando no que eu chamo agora de “sessão coral”, trouxeram um pouco do Post-Grunge da segunda metade da década de 90, com um Silverchair, Freak, onde mais a guitarra caiu como uma luva. Tocaram ainda Paparoach, Broken Home, pra não deixar faltar nenhuma das clássicas daquela época.

Pra não dizer que eu não falei dela, eles tocaram mais uma, que eu me recuso a comentar, porque é uma faixa deplorável.

MAS, pra felicidade geral (ou exclusivamente minha, considerando a predecessora), trouxeram mais um System of a Down, encarnado em Toxicity, que foi simplesmente ARREBATADOR. E a despeito de que a faixa por si só ser fulminante, tocada muito bem, a banda reafirma sua presença de palco, que veio num crescendo ao longo do show e culminou na espetacular investida de Teuzinho Rocks com a estrelinha colocada na cabeça da guitarra, iluminando o breu estabelecido no CAASO com a chuva de fogos de artifício. FIRE, man, FIRE!

E não obstante o que seria o desfecho perfeito, eles vem com a (sessão) saideira! Anunciaram a outra composição própria, que me deixou temeroso pela vinda de uma das faixas de trabalho da banda, Anjo Negro, que não cairia nem um pouco bem ao mote do show que eles se propuseram a mostrar. Isso sem considerar que em minha opinião, a faixa é pobre, com letra abaixo do medíocre e ferindo mortalmente a liturgia, sem muito a acrescentar. Felizmente trouxeram a luz 14 Palavras, que, embora eu não conheça na integra o material do grupo, não me deixa outra escolha senão afirmar que é a faixa mais promissora apresentada até então, podendo realmente vir a lançá-los na mídia, dado o apelo comercial da faixa, assemelhando a alguns trabalhos da cantora Pitty. Quem quiser conferir o material, que procure nos diversos links lá embaixo (até o fechamento deste artigo o site oficial da banda estava fora do ar*).

E pra fechar o sol, mais uma empolgante seção de Rage, com Killing in the Name of, cantada aos brados por Ninne com todo o estilo necessário, com toda a empolgação do encerramento do show da banda. Baixo ensurdecedor, promovendo mais uma vez o balançar de cabeças na massa ouvinte e outro replicar do refrão.

A meu ver, se tivessem promovido melhor a festa, teria sido um estrondo, porque a Fenícia trouxe muitas caras novas ao lugar. Tudo bem que era uma sexta depois da semana santa, mas enfim... Resta dizer que se esse não era o metier comum da “caasa”, acho bom os organizadores de festa do CAASO olharem com muita atenção para este seguimento, porque se, mesmo perdida no nome da festa, sem dizer a que veio exatamente, a Fenícia arrebatou aquele público diferente do visto normalmente, que fariam covers de SOADs, RATMs e Pearl Jams da vida?

Ultimamente não tenho visto bandas tão boas fazendo covers dessa leva de famosos, tocando com tanta vontade e com essa presença de palco fenomenal, cativante ao extremo. Posso dizer que os garotos e a menina fizeram o que não se via há muito tempo no CAASO: contagiar o público (novo).


*Em tempo: Segundo informações da banda, o site oficial fica fora do ar até maio. Ademais, adicionamos abaixo o link da banda no MySpace.


http://www.bandafenicia.com.br/
http://
www.myspace.com/feniciarock
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=18759906
http://bandasdegaragem.uol.com.br/hotsite/index.php?id_banda=4896


Resenha: Tributo ao Pink Floyd pela banda Senhor X: Parte 2, a missão!

Onde? Armazém Bar, São Carlos.

Quando? Dia 29 de Março de 2008.

Depois de uma tarde embalada ao som de sertanejo e pagode e outras coisas do demo, regada a muito saquê e vodka nos drinks da bela moça cujo nome não recordo, carne ad infinitum e um belo tutu de feijão, partimos para o Armazém Bar, a fim de prestigiar a banda Senhor X e seu tributo ao Pink Floyd.

23h18: Devidamente estacionados e parapetados, dirigimo-nos ao Armazém.Era a primeira visita ao local, que apesar de conhecido há muito, sempre imaginei ser um grande galpão. Nada. Escada, balcão, lobby, salão, bar à direita, sala com mesas à esquerda, banheiros ao fundo.

23h30: O local começou a encher, com todos na espera por ouvir um bom som.

Pouco me incomodou saber que lá não havia aquela bebida amarela, cujo nome vem dos nórdicos, em latas, afinal, muito me interessou a prática promovida lá: “Não tenho mesa...”, disse eu; “Sem problema!” replicou o bartender com alargadores na orelha e camisa xadrez (gente fina, por sinal). Garrafas na mão direita, copo americano na esquerda, mandando ver, em pé, no centro do salão, na convergência das caixas de som.

Com a presença de mulheres bonitas no local, fiquei feliz em conhecer um lugar onde se toca rock e que abriga o sexo feminino em São Carlos. Mas também fiquei angustiado por saber que há anos ele existe e nunca fora freqüentado por mim.

12h09: Os integrantes da banda começam a popular o palco. Pára o som ambiente. Tensão no ar.

Péééeum!!!

In the Flesh inicia promovendo o que seria uma apresentação fenomenal. O primeiro detalhe observado, ainda do centro da sala e bloqueado pelos transeuntes, é o olhar fixo, quase preocupado, da vocalista Carla Viana. “If you wanna find out whats behind these cold eyes / Youll just have to blow your way through this disguise.” HELL YEAH !

Sem pausa, a conhecida introdução dos tijolos na parede, executada pelos hábeis Betos, empolga a platéia convidando-nos a bradar para a professora deixar as crianças em paz. Kudos para os backvocals (ou seria playback?) no refrão, lembrando realmente as crianças do álbum, pois afinal, somos apenas os tijolos para a parede e para a guitarra muitíssimo limpa de Beto Leoneti.

Neste ponto deu para sentir a falta de um jogo estereofônico, que seria o azeite dessa pizza deliciosa que estava indo para o forno.

Terminadas as partes de Another Brick on the Wall, para o nosso delírio, a banda soltou os cachorros* em Dogs.You’ve got to be crazy” para tocá-la inteira, e eles tocaram. Mal sabia eu o que nos aguardava pelo restante da noite.

Momentos de tensão, com a introdução suave da trilha ainda não identificada por nós. Luzes. Os braços da Carla vão ao alto bradando “Shine on you crazy diamond”. Impossível não notar aqui os braços ligeiramente torneados da vocalista.

Um ligeiro barulho de caixa registradora denuncia uma das músicas mais aguardadas da noite, Money, o que foi erroneamente denotado por nós, enquanto Speak to me e Breathe iniciavam. Embalados na tranquilidade e no ritmo que quase remetia às ondas do mar, curtimos as faixas, numa brecha pro baterista começar a desossar o seu chimbal*, em On the Run, e então fomos abruptamente interrompidos por tique-taques, e a introdução de Time, com a bateria precisa de Wellington Ruvieri na introdução. Leoneti assumindo os vocais impressionou com a entonação e a verossimilhança – e novamente um solo limpíssimo, o que viria a ser repetido várias vezes ao longo do show.

The Great Gig”, na verdade estava acontecendo na minha frente e não nos céus. Carla impressiona – ainda mais - com sua habilidade ao cantar (e qual seria a palavra correta para aquele som?) essa grande canção. Muito emocionante. O que foi viva e enfaticamente comentado pela mulher ao meu lado “Foi lindo pra caralho!”.

Nessa altura, estávamos quase cara a cara com a banda.

Mais caixa registradora. Era Money finalmente! Uma das coisas que mais me agrada no Floyd é a maneira como as músicas nos embalam. É só fechar os olhos e você está em outro canto qualquer, pirando nas notas bem colocadas.

Antes de irmos ao show, fizemos, claro, nossa lição de casa. Praticamente virgens em questão de Senhor X, procuramos no YouTube coisas da banda. As notas que se seguiram eram conhecidas já. Us us us us us us us, And them them them them them them them. And after all we’re just ordinary men… God only knows, it’s not what we would choose to do ! Forward he cried... E aqui é onde eu gozo. Essa passagem é demais, e fora muito bem replicada no bar da avenida Sete de Setembro.

Sem percebermos, a banda continou nonstop até o fim de Dark Side of the Moon, tocando Any Colour You Like, Brain Damage e Eclipse. Sem grandes comentários aqui, impressionante como todo o show.

Retomando Shine on You Crazy Diamond, a banda emendou uma sequência de músicas com um grau altíssimo de comoção e envolvimento do público. Foram “Oooh, how I Wish you were here, we’re just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year”, “Hey You, standing in the road, always doing what you’re told, would you help me ?”, e novamente In the Flesh para abrir espaço para o quase-hino, Confortably Numb.

E o grand finale, mostrando todo o entrosamento da banda, e as habilidades vocais de todos os Betos, Run Like Hell foi performado com a mesma empolgação do jogo de vozes original.

E pausa prum café, uma corrida ao toilette, uma respirada e duas águas. Desejando ouvir mais um pouco de Floyd e SE DEUS QUISESSE, Interstellar Overdrive, nos posicionamos de fronte ao palco preparados pra mais um quêzinho dos Senhores.

Burn, do Purple rolava ao fundo enquanto a banda retomava suas posições, e wham, pára o playback e eles seguem tocando a mesma faixa. Provável manobra maquiavélicamente arquitetada pela banda para conquistar esse público e muito bem utilizada... IS BURN!

Passando obviamente para a segunda parte do show, ou segundo show, a banda prossegue com mais rock clássico, tocando You shook me All night long, do AC/DC, se o palco tivesse mais espaço tenho certeza que o guitarrista sairia pulando pelo palco do mesmo modo de Angus Young.

Indo alguns anos antes, beijamos o céu com Hendrix e Purple Haze. A essa altura, podemos notar a vocalista muito mais solta, talvez por não estar mais no clima de Floyd, ou talvez por estar mesmo mais tranquila. Mostrando o lado performático da banda, com caretas, olhares peculiares e gestos.

I won’t get to get what i’m after”, The Seeker de The Who, altamente empolgante, levou-nos a mais uma sessão de headbangin’ nervoso e mais sede por rock do bom.

Intermission, para elogiar o rapaz da mesa do som, grande Henrique, parabéns pelo trabalho, e uma grande oportunidade para ouvir a voz da nossa efêmera musa que canta pra caralho.

E “um som diferente”, como explanado pela própria vocalista anuncia a música seguinte. Um misto de funk com... algo diferente. A voz entoando palavras abrasileiradas, demorou para cair a ficha e entender que a música estava em português. Era Oito da própria banda. A faixa agradou muito e deixou um gostinho de quero mais.

Silêncio. “Toca raul !” gritou um infeliz no fundo do bar. Terceira ou quarta vez, se contabilizei corretamente. A resposta veio em grande tom. Preparada para momentos como tal, creio eu, a banda solta uma versão mais pesada de Metamorfose Ambulante, do grande Raul Seixas. DEMAIS ! o arranjo ficou perfeito. Eu até ouviria mais Raul se fosse assim. “Essa é pro cara que ficou pedindo ‘toca raul’”, HÁ, toma!

Mostrando que o público ainda lembra do velho rock do Creedence, Proud Mary rolou com direito a cantar o refrão com a banda. “Rolling, rolling, rolling on the river!”

E a Carla pergunta: O que vocês querem ouvir agora? “Mars Volta !” gritamos nós, “Janis !” grita outro. “Que tal um Jethro Tull ?” ela pergunta, capisciosamente. “TOCA AQUALUNG !”. Não é que tocaram? “Sitting on a park bench” Execução foda e o vocal, mesmo feminino, encaixou no arranjo de uma maneira estupenda.

“E agora? Que tal um Beatles?”. Segue “Helter Skelter”. É impressionante como ficaram bons os arranjos das músicas e a voz da Carla encaixou nesses covers.

Um pouco de Led Zeppelin, não podia faltar. “Good times bad times” e seus riffs de baixo contagiaram o público já descrecente da casa.

Mais uma mudança abrupta no ritmo do Armazém, já batendo as 3:20 da matina, nova supresa quando a banda encaixa O Vira, do Secos & Molhados, originalmente performado por Ney Matogrosso. Os mais empolgados (tentei um pouco, mas estava impedido), dançaram o vira conforme manda a música, senhoritas vieram próximas ao palco virar homem e lobisomem.

Quem assiste o seriado House, e/ou conhece The Who, ficou instigado pela música seguinte, Baba O’Riley. Presença de palco da banda, encarnando os sentimentos contidos nas letras.

Findada a faixa anterior, a banda leva um ritmo de samba muito divertido e letras improvisadas para divertir o público enquanto Leoneti afina uma guitarra peculiarmente pequena.

Alternative metal à caminho, apesar de não ser grande fã desse estilo, Aerials é uma boa faixa com um arranjo interessante que ficou delicioso na voz da Senhora X. (um adendo: nós somos fãs declarados da Madam X, de Bellingham). Teve direito até a cantar junto “Aerials, in the sky !”.

Mais uma pausa. Ao longo do show pude perceber uma presença de uma moça, peculiarmente jovem no Armazém. Viemos a saber que se chama Lorena, é filha da Vocalista, tem 13 anos e manda muito bem no baixo. Ao lado da infante, a banda mandou Roadhouse Blues, The Doors. Destaque realmente pra jovem que apesar de parecer tensa no começo, mandou muito nessa faixa.

Neste momento entra em cena a quem eu classifiquei como chato da noite. Sem mais comentários por ameaças do mesmo. E os senhores anunciam a saideira.

Visto de longe, o setlist da banda parecia ter um Metallica, e eu, já há tempos ouvinte do Hammett e do Hetfield, fiquei entusiasmado, mas com o pé atrás duvidando que eles fossem mesmo tocar.

Som de cítara no sintetizador do Beto, notas estranhas não pareciam com nada conhecido, mas tinham o mesmo tom de Wherever I may roam. Continuaram estranhas. Beto pára. Carla tira um sarro. Beto reflete e retoma as notas.

Nem ouvi a Carla cantar essa. Tanto tempo sem ouvir Metallica, tanto tempo sem ouvir alguém tocar ao vivo, me empolguei e cantei junto a última música da noite do começo ao fim.

Quatro da matina. Satisfeitos. Roucos. E loucos para ouvir mais do Senhor X. Essa foi a sensação que ficou da noite. Kudos para as horas de prazer auditivo proporcionada e pelas longas horas dispendidas preparando o palco. Podemos dizer que os Senhores são versáteis e cobrem, muito bem, uma gama interessante de períodos do rock nacional e internacional. Mas eu ainda quero ouvir Interstellar Overdrive.



*Nota do Editor: Impressionantemente os dois “críticos” desse show acabaram por pura coincidência usando quase as mesmas expressões. Depois dizem que consciência universal não existe...

Resenha: Tributo ao Pink Floyd pela banda Senhor X: O Lado Escuro do Senhor X

Dando continuidade à iniciativa do Programa Bluga de elucidar mentes menos esclarecidas quanto à boa música, será esboçado um review do show que na opinião do autor é um ótimo exemplo daquela.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro aos que não conhecem a trupe do Senhor X qual é a proposta da banda. Pelo menos ao meu limitado ver, adquirido pela audiência de tão somente um show, o Senhor X procura fazer um som que, mesmo tendo boa parte do seu repertório nos clássicos (e não se pode censurá-los por isso), fuja do lugar comum. O estilo peculiar da banda fica claro tão logo se escute a faixa própria, Oito - ótima, originalíssima - ou então se observe a vocalista Carla Viana em ação, com suas caretas a lá Serj Tankian (System of a Down) e uma interpretação única, muito digna do excelente repertório que a banda apresenta. Fica aqui a minha grande admiração por essa vocalista, sem dúvida uma das melhores do circuito nacional, e também pelo brilhante guitarrista, Beto Leoneti, que, além de executar solos improvisados sempre muito bem colocados, faz um uso inteligente do synth.

O viés inovador da banda é refletido também na tendência do repertório ao Rock Progressivo, ao Rock Psicodélico e ao Space Rock. E eu, prezando altamente por experimentalismos e por originalidade, tive, como principal fator atrativo no Senhor X, justamente essa caracaterística, que acabou me fazendo virar fã da banda no final das contas.

Pois bem, ao show. O tributo origina-se com a música de abertura do álbum The Wall, In the Flesh. Nada mais apropriado, já que, sendo a canção de abertura, o show começa com a devida imersão, costumeira aos fãs de Pink Floyd, no material subseqüente do álbum. Só que, nesse caso, a imersão é na ARREBATADORA VIAGEM proporcionada pelo show. De cara, tudo impressiona pela fidelidade com a qual a música é reproduzida.

A banda é sábia ao encaixar logo em seguida uma das composições mais famosas da banda homenageada, Another Brick in the Wall (parte 1 e 2). A canção mal tinha começado e eu já podia sentir que esse show iria ultrapassar as altas expectativas criadas pela visualização dos vídeos da banda no youtube. A apoteose do coro do público somada com o olhar hipnótico, em estado de transe, de Carla - que faz vez de back vocal na faixa - consubstanciavam-se na grandiosidade que deveria ser sentida em todo show cover de Pink Floyd.

Ao longo do tributo, o olhar de contemplação hipnotizada da front woman faz perceber que a música não é somente cantada, mas inteiramente sentida e repassada de modo irrestrito ao público.

Uma das minhas preferidas do Floyd vem em seguida. É a eterna Dogs. Muito bem vocalizada pelo guitarrista Beto(que no tributo é também vocalista), trazendo cerca de 17 minutos de um cover belamente produzido, com direito a latidos e tudo o mais! O casal Carla e Beto se reveza harmoniosamente nas guitarras, enquanto este faz uso do synth para literalmente soltar os cachorros em cima da platéia.

Quase como uma abertura para o álbum que imediatamente depois seria tocado de cabo a rabo, The Dark Side of the Moon, vem outra faixa altamente conhecida, Shine on You Crazy Diamond. Nela, Beto faz maravilhas com sua guitarra, executando impecavelmente, com o feeling que lhe é notório, o famoso solo de David Gilmour. A música acaba com uma sensação de pendência, deixando a impressão de que alguma força maior obrigaria a banda a tocá-la novamente.

O que se segue, é nada mais nada menos do que uma versão ao vivo do terceiro álbum mais vendido do mundo, o Dark Side of the Moon. Um fã de Pink Floyd não poderia querer nada mais – exceto quem sabe uma Interstellar Overdrive, de lambuja (se algum integrante da banda ler o review, que fique registrado). A canção de abertura, Speak to me, começa com o uso extensivo do sintetizador por Beto Leoneti, reproduzindo os efeitos sonoros de um helicóptero, de um relógio, de uma caixa registradora, de uma risada insana e de um coração batendo, que compõem a música e que serão depois novamente usados, respectivamente nas faixas On the Run, Time, Money, Brain Damage e Eclipse.

Breathe vem depois, com o baixista Beto Braz fazendo o back vocal. Seguindo a ordem do álbum, On the Run, com o baterista Wellington Ruvieri destruindo no chimbal.

Depois, a excelente Time, com Leoneti cantando os versos e Braz cantando os refrões, enquanto Carla Viana faz um back vocal afinadíssimo.

E aqui é onde entra um dos ápices do tributo ao meu ver. Pois, como talvez se perceba por meus comentários, o que mais me impressionou no Senhor X, junto com a sensibilidade e técnica apurada de Beto Leoneti, foi a performance de Carla Viana, com uma bela e potente voz e cujo estilo original nos tira da mediocridade da grande maioria de vocalistas que vemos por aí. Pois é justamente ao ápice da cantora que me refiro: The Great Gig in the Sky realmente NOS LEVA AO CÉU. Carla substitui Clare Torry, que faz as vocalizações na música original, de modo quase divino, mostrando toda a potência de suas cordas vocais.

Money, começando com o som temático da caixa registradora, marca bem a mistura de estilos entre blues rock e recursos eletrônicos que o Dark Side of the Moon representa, dentro do progressivo. Novamente, indefectível performance da banda.

As faixas que entram para dar desfecho ao álbum Us and Them, Any Colour You Like, Brain Damage e Eclipse vão na mesma linha, com os vocais de Beto Leoneti, back vocals marcantes de Carla e ocasionais back vocals de Beto Braz. Todas elas muito bem compassadas pela bateria de Wellington Ruvieri e pelo baixo de Braz, com belíssimos solos interpretados por Leoneti e modulados por Carla(usando, inclusive, um aparelho interfaceado com touch screen muito interessante e cujo nome eu desconheço) e com o uso muito conveniente do sintetizador.

A força, que permeia entre os espectadores de modo inconfundivelmente pink-floydiano, parece afetar a banda nessa altura, e tráz de volta ao palco a pendente Shine on You Crazy Diamond, como um mistério que ainda não foi resolvido. E de volta, arrepiando até o insensível copo de cerveja largado ao pé do amplificador, vem o coro da platéia: “Shiiine on you crazy diamond”. Impagável.

Certo, chega dessa divagação transcendental. Voltemos ao mundo, onde baladinhas como Wish You Were Here e Hey You fazem demasiado sucesso. São essas as composições tocadas após o cômico arrepio do copo de cerveja. Foi legal. Aqui sim a platéia cantou com toda a sua voz - ao menos em Wish You Were Here(incrível como todos conhecem a letra dessa música).

E a banda volta com In The Flesh, quase como num diálogo com a platéia. Um dizer “Hey, o show não acabou, a coisa ainda fica melhor!”.
So ya thought ya might like to go to the show. To feel the warm thrill of confusion, that space cadet glow.”.

Esperemos que com isso o Senhor X não tenha querido dizer também “If I had my way I'd have all of ya shot.”. De fato, eu sei que eles não tinham essa intenção, pois se apresentaram como uma banda muito amigável e carismática durante o show.

Mas claramente o “Hey, o show não acabou, a coisa ainda fica melhor!” era pra valer. Seguiram-se duas excelentes e psicodélicas faixas, Comfortably Numb e Run Like Hell.

Comfortably Numb segue dentro do esperado, com um solo de Leoneti no final da música de quase 3 minutos.

E Run Like Hell.... Run Like Hell! Foi empolgante! Empolgante como o inferno. Empolgante, no ritmo de alguém que corre como se fugisse do inferno. Os holofotes amarelos acendiam aos berros de RUN! RUN! RUN! de ambos os Betos e iluminavam os rostos extasiados daqueles que assistiam o estupendo show que acontecia diante deles. Definitivamente, um final perfeito.

Final... porém, não bem um final. Uma pausa de 10 minutinhos.

Foram dois shows em uma noite, a bem da verdade. Pois, após essas mais de duas horas de inspirado tributo, a banda Senhor X, com sua enorme benevolência para aqueles que apreciam seu trabalho, nos presenteou com mais 2 horas de um repertório excelente, fazendo jus a própria excelência da banda.

Repertório com direito a Aqualung (eu, adorando Jethro Tull e rock progressivo, penso ser essa uma faixa providencial aos shows da banda), System of a Down, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e a excelente composição própria previamente citada, Oito. Mas isso fica para outra hora... ou para outrém (leia-se Shigueo).

Agora, chá-mate para acalmar(mesmo sendo este um estimulante) os ânimos reavivados pela memória.


http://www.senhorx.com
http://www.myspace.com/bandasenhorx
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=748723
http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=49501
http://www.youtube.com/watch?v=9x_XBWjEk5U