Resenha: Tributo ao Pink Floyd pela banda Senhor X: O Lado Escuro do Senhor X

Dando continuidade à iniciativa do Programa Bluga de elucidar mentes menos esclarecidas quanto à boa música, será esboçado um review do show que na opinião do autor é um ótimo exemplo daquela.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro aos que não conhecem a trupe do Senhor X qual é a proposta da banda. Pelo menos ao meu limitado ver, adquirido pela audiência de tão somente um show, o Senhor X procura fazer um som que, mesmo tendo boa parte do seu repertório nos clássicos (e não se pode censurá-los por isso), fuja do lugar comum. O estilo peculiar da banda fica claro tão logo se escute a faixa própria, Oito - ótima, originalíssima - ou então se observe a vocalista Carla Viana em ação, com suas caretas a lá Serj Tankian (System of a Down) e uma interpretação única, muito digna do excelente repertório que a banda apresenta. Fica aqui a minha grande admiração por essa vocalista, sem dúvida uma das melhores do circuito nacional, e também pelo brilhante guitarrista, Beto Leoneti, que, além de executar solos improvisados sempre muito bem colocados, faz um uso inteligente do synth.

O viés inovador da banda é refletido também na tendência do repertório ao Rock Progressivo, ao Rock Psicodélico e ao Space Rock. E eu, prezando altamente por experimentalismos e por originalidade, tive, como principal fator atrativo no Senhor X, justamente essa caracaterística, que acabou me fazendo virar fã da banda no final das contas.

Pois bem, ao show. O tributo origina-se com a música de abertura do álbum The Wall, In the Flesh. Nada mais apropriado, já que, sendo a canção de abertura, o show começa com a devida imersão, costumeira aos fãs de Pink Floyd, no material subseqüente do álbum. Só que, nesse caso, a imersão é na ARREBATADORA VIAGEM proporcionada pelo show. De cara, tudo impressiona pela fidelidade com a qual a música é reproduzida.

A banda é sábia ao encaixar logo em seguida uma das composições mais famosas da banda homenageada, Another Brick in the Wall (parte 1 e 2). A canção mal tinha começado e eu já podia sentir que esse show iria ultrapassar as altas expectativas criadas pela visualização dos vídeos da banda no youtube. A apoteose do coro do público somada com o olhar hipnótico, em estado de transe, de Carla - que faz vez de back vocal na faixa - consubstanciavam-se na grandiosidade que deveria ser sentida em todo show cover de Pink Floyd.

Ao longo do tributo, o olhar de contemplação hipnotizada da front woman faz perceber que a música não é somente cantada, mas inteiramente sentida e repassada de modo irrestrito ao público.

Uma das minhas preferidas do Floyd vem em seguida. É a eterna Dogs. Muito bem vocalizada pelo guitarrista Beto(que no tributo é também vocalista), trazendo cerca de 17 minutos de um cover belamente produzido, com direito a latidos e tudo o mais! O casal Carla e Beto se reveza harmoniosamente nas guitarras, enquanto este faz uso do synth para literalmente soltar os cachorros em cima da platéia.

Quase como uma abertura para o álbum que imediatamente depois seria tocado de cabo a rabo, The Dark Side of the Moon, vem outra faixa altamente conhecida, Shine on You Crazy Diamond. Nela, Beto faz maravilhas com sua guitarra, executando impecavelmente, com o feeling que lhe é notório, o famoso solo de David Gilmour. A música acaba com uma sensação de pendência, deixando a impressão de que alguma força maior obrigaria a banda a tocá-la novamente.

O que se segue, é nada mais nada menos do que uma versão ao vivo do terceiro álbum mais vendido do mundo, o Dark Side of the Moon. Um fã de Pink Floyd não poderia querer nada mais – exceto quem sabe uma Interstellar Overdrive, de lambuja (se algum integrante da banda ler o review, que fique registrado). A canção de abertura, Speak to me, começa com o uso extensivo do sintetizador por Beto Leoneti, reproduzindo os efeitos sonoros de um helicóptero, de um relógio, de uma caixa registradora, de uma risada insana e de um coração batendo, que compõem a música e que serão depois novamente usados, respectivamente nas faixas On the Run, Time, Money, Brain Damage e Eclipse.

Breathe vem depois, com o baixista Beto Braz fazendo o back vocal. Seguindo a ordem do álbum, On the Run, com o baterista Wellington Ruvieri destruindo no chimbal.

Depois, a excelente Time, com Leoneti cantando os versos e Braz cantando os refrões, enquanto Carla Viana faz um back vocal afinadíssimo.

E aqui é onde entra um dos ápices do tributo ao meu ver. Pois, como talvez se perceba por meus comentários, o que mais me impressionou no Senhor X, junto com a sensibilidade e técnica apurada de Beto Leoneti, foi a performance de Carla Viana, com uma bela e potente voz e cujo estilo original nos tira da mediocridade da grande maioria de vocalistas que vemos por aí. Pois é justamente ao ápice da cantora que me refiro: The Great Gig in the Sky realmente NOS LEVA AO CÉU. Carla substitui Clare Torry, que faz as vocalizações na música original, de modo quase divino, mostrando toda a potência de suas cordas vocais.

Money, começando com o som temático da caixa registradora, marca bem a mistura de estilos entre blues rock e recursos eletrônicos que o Dark Side of the Moon representa, dentro do progressivo. Novamente, indefectível performance da banda.

As faixas que entram para dar desfecho ao álbum Us and Them, Any Colour You Like, Brain Damage e Eclipse vão na mesma linha, com os vocais de Beto Leoneti, back vocals marcantes de Carla e ocasionais back vocals de Beto Braz. Todas elas muito bem compassadas pela bateria de Wellington Ruvieri e pelo baixo de Braz, com belíssimos solos interpretados por Leoneti e modulados por Carla(usando, inclusive, um aparelho interfaceado com touch screen muito interessante e cujo nome eu desconheço) e com o uso muito conveniente do sintetizador.

A força, que permeia entre os espectadores de modo inconfundivelmente pink-floydiano, parece afetar a banda nessa altura, e tráz de volta ao palco a pendente Shine on You Crazy Diamond, como um mistério que ainda não foi resolvido. E de volta, arrepiando até o insensível copo de cerveja largado ao pé do amplificador, vem o coro da platéia: “Shiiine on you crazy diamond”. Impagável.

Certo, chega dessa divagação transcendental. Voltemos ao mundo, onde baladinhas como Wish You Were Here e Hey You fazem demasiado sucesso. São essas as composições tocadas após o cômico arrepio do copo de cerveja. Foi legal. Aqui sim a platéia cantou com toda a sua voz - ao menos em Wish You Were Here(incrível como todos conhecem a letra dessa música).

E a banda volta com In The Flesh, quase como num diálogo com a platéia. Um dizer “Hey, o show não acabou, a coisa ainda fica melhor!”.
So ya thought ya might like to go to the show. To feel the warm thrill of confusion, that space cadet glow.”.

Esperemos que com isso o Senhor X não tenha querido dizer também “If I had my way I'd have all of ya shot.”. De fato, eu sei que eles não tinham essa intenção, pois se apresentaram como uma banda muito amigável e carismática durante o show.

Mas claramente o “Hey, o show não acabou, a coisa ainda fica melhor!” era pra valer. Seguiram-se duas excelentes e psicodélicas faixas, Comfortably Numb e Run Like Hell.

Comfortably Numb segue dentro do esperado, com um solo de Leoneti no final da música de quase 3 minutos.

E Run Like Hell.... Run Like Hell! Foi empolgante! Empolgante como o inferno. Empolgante, no ritmo de alguém que corre como se fugisse do inferno. Os holofotes amarelos acendiam aos berros de RUN! RUN! RUN! de ambos os Betos e iluminavam os rostos extasiados daqueles que assistiam o estupendo show que acontecia diante deles. Definitivamente, um final perfeito.

Final... porém, não bem um final. Uma pausa de 10 minutinhos.

Foram dois shows em uma noite, a bem da verdade. Pois, após essas mais de duas horas de inspirado tributo, a banda Senhor X, com sua enorme benevolência para aqueles que apreciam seu trabalho, nos presenteou com mais 2 horas de um repertório excelente, fazendo jus a própria excelência da banda.

Repertório com direito a Aqualung (eu, adorando Jethro Tull e rock progressivo, penso ser essa uma faixa providencial aos shows da banda), System of a Down, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e a excelente composição própria previamente citada, Oito. Mas isso fica para outra hora... ou para outrém (leia-se Shigueo).

Agora, chá-mate para acalmar(mesmo sendo este um estimulante) os ânimos reavivados pela memória.


http://www.senhorx.com
http://www.myspace.com/bandasenhorx
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=748723
http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=49501
http://www.youtube.com/watch?v=9x_XBWjEk5U

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