Resenha: Fenícia no Rock'n'Blues

Em mais uma das muitas investidas da molecada do Programa Bluga ao chão do CAASO, na sexta-feira, dia 28 de Março de 2008, acabamos conferindo logo DUAS das bandas que perdemos, por razões alheias a nossa vontade, na ocasião do evento Grito Rock que passou por São Carlos.

Embora a noite em questão se chamasse Rock’n’Blues, pode-se dizer que a primeira banda não caia exatamente sobre essa alcunha. Recheada de covers de bandas do cenário Alternative Metal, a banda Fenícia revelou-se uma excelente abertura para a noite, senão a peça principal, atraindo tanto público quanto o mel atrai moscas. Havia tempos que eu não via um roquinho colocar tanta gente, incluindo raparigas, dentro do CAASO (alguém se lembra de como um mítico cover do Pearl Jam encheu o lugar?).

Nesta nova passagem pelo território uspiano, o pessoal de Descalvado iniciou a noite por volta da 01h da manhã, tocando All my life, a preferida para abertura de shows do próprio Foo Fighters. Assim, a escolha não podia ser melhor e depois dessa, veríamos clássicos e mais clássicos (dos últimos dez anos, mas enfim, clássicos), que fariam a massa ficar num nervoso headbanging ao longo noite.

Seguindo com o show, a guitarra entra com uma Your Time has Come, que realmente vem a brilhar quando entram os pratos do baterista Antônio Carlos, vibrando tal e qual o Audioslave. Teuzinho Rocks tenta, consegue um bom som, mas não chega nessas do Tom Morello, embora se note a clara influência.

Continuando com o Morello, Teuzinho cai bem melhor no estilo com Sleep Now in the Fire, do Rage Against The Machine. O baixo me pareceu ficar devendo um pouco, mas o vocal fica interessante, revelando a força e presença da voz de Ninne, no limiar entre o cantar e o gritar (senão, o protestar), que marcaria várias outras faixas, inclusive o refrão da próxima tocada, Zombie, do The Cranberries, onde o vocal feminino se encaixa bem ao timbre da vocalista da Fenícia.

E dando continuidade ao que poderíamos chamar de “sessão protesto”, a banda traz uma composição própria. Deixando de lado a discussão sobre a própria incursão pela causa e nos concentrando na análise da musicalidade da faixa Eutanásia, ela se mostra um bom material, embora de riffs medianos, mas de baixo presente e vocal atirado, com muita influência das bandas deste cenário, quase num Rap-Metal.

E voltando para os covers, no mesmo seguimento eles trazem o que seria a vedete da noite: System of a Down. Como primeira faixa desta banda, vem Aerials, que só abrilhanta a voz da garota Ninne, muito a vontade, segurando bem a música. A banda faz uma interessante performance em palco, sobressaindo-se a figura de Ninne, que parece imerge na sensação da música, ao lado do guitarrista, que viria a entrar mais atirado no back vocal, fazendo aquele jogo de vozes típico do System, sem muito se preocupar com qualquer lirismo na coisa. Fica feio, mas talvez isso se justifique na desculpa esfarrapada de que não só sua voz, mas toda sua atitude no palco é atirada e imponente. Praticamente um showman.

Depois de uma Megalomaniac do Incubus, com um baixo arrebatador, a Fenícia trás outra de suas faixas, Não Enrola, que entra numa guita excelente, revezando-se com um baixo cavalgante, num estilo Rap Metal na melhor inspiração de Rage, incluindo a letra de música de protesto com vocal forte da vocalista, que ainda se ganha espírito no palco e encara firme a platéia.

E mais uma vez a banda visita o SOAD, deixando bem claro de quem são fãs e onde buscam inspiração, que se reflete em muito na postura do guitarrista Teuzinho Rocks, embora ele esteja esquecendo que o macaco louco do System é o baixista. Mas a troca de papeis é justa, assim como a troca da guitarra para tocar todas e exclusivamente as faixas desta banda, deixando de lado o espiral no melhor estilo Gibson Les Paul de Zakk Wylde. Traziam uma extremamente energética Innervision, naquela pegada pesadinha como na original, sentindo o baixo retumbante. E essa empolgação se reflete num uso demasiado de pratos na faixa, mas que não ficaram de modo algum exagerados, muito pelo contrário, caindo bem.

Mas o grande pulo da noite viria com a faixa nacional de Raimundos, com Eu quero ver o oco, com Lucas Eduardo desfiando aquele baixo catchy pra deixar a guitarra lançar aquele riffinho grudento. Aliás, trabalho muito bom de Lucas, com um baixo sonoro. (Ademais, havia tempos que eu não via um som tão bem setado num show do CAASO. Pra quem já tentou ver até um Paulinho Moska cair no veneno daquele palco, estava EXCELENTE. Foi trabalho do Leozinho isso é?) Enfim, pra lá de empolgante, a faixa, acabou levando mesmo quem não gosta do gênero. E levou TODO o público a entoar o mítico refrão junto com a vocalista Ninne, mais uma vez forte, conduzindo com maestria seu coral para a empolgação generalizada.

Continuando no que eu chamo agora de “sessão coral”, trouxeram um pouco do Post-Grunge da segunda metade da década de 90, com um Silverchair, Freak, onde mais a guitarra caiu como uma luva. Tocaram ainda Paparoach, Broken Home, pra não deixar faltar nenhuma das clássicas daquela época.

Pra não dizer que eu não falei dela, eles tocaram mais uma, que eu me recuso a comentar, porque é uma faixa deplorável.

MAS, pra felicidade geral (ou exclusivamente minha, considerando a predecessora), trouxeram mais um System of a Down, encarnado em Toxicity, que foi simplesmente ARREBATADOR. E a despeito de que a faixa por si só ser fulminante, tocada muito bem, a banda reafirma sua presença de palco, que veio num crescendo ao longo do show e culminou na espetacular investida de Teuzinho Rocks com a estrelinha colocada na cabeça da guitarra, iluminando o breu estabelecido no CAASO com a chuva de fogos de artifício. FIRE, man, FIRE!

E não obstante o que seria o desfecho perfeito, eles vem com a (sessão) saideira! Anunciaram a outra composição própria, que me deixou temeroso pela vinda de uma das faixas de trabalho da banda, Anjo Negro, que não cairia nem um pouco bem ao mote do show que eles se propuseram a mostrar. Isso sem considerar que em minha opinião, a faixa é pobre, com letra abaixo do medíocre e ferindo mortalmente a liturgia, sem muito a acrescentar. Felizmente trouxeram a luz 14 Palavras, que, embora eu não conheça na integra o material do grupo, não me deixa outra escolha senão afirmar que é a faixa mais promissora apresentada até então, podendo realmente vir a lançá-los na mídia, dado o apelo comercial da faixa, assemelhando a alguns trabalhos da cantora Pitty. Quem quiser conferir o material, que procure nos diversos links lá embaixo (até o fechamento deste artigo o site oficial da banda estava fora do ar*).

E pra fechar o sol, mais uma empolgante seção de Rage, com Killing in the Name of, cantada aos brados por Ninne com todo o estilo necessário, com toda a empolgação do encerramento do show da banda. Baixo ensurdecedor, promovendo mais uma vez o balançar de cabeças na massa ouvinte e outro replicar do refrão.

A meu ver, se tivessem promovido melhor a festa, teria sido um estrondo, porque a Fenícia trouxe muitas caras novas ao lugar. Tudo bem que era uma sexta depois da semana santa, mas enfim... Resta dizer que se esse não era o metier comum da “caasa”, acho bom os organizadores de festa do CAASO olharem com muita atenção para este seguimento, porque se, mesmo perdida no nome da festa, sem dizer a que veio exatamente, a Fenícia arrebatou aquele público diferente do visto normalmente, que fariam covers de SOADs, RATMs e Pearl Jams da vida?

Ultimamente não tenho visto bandas tão boas fazendo covers dessa leva de famosos, tocando com tanta vontade e com essa presença de palco fenomenal, cativante ao extremo. Posso dizer que os garotos e a menina fizeram o que não se via há muito tempo no CAASO: contagiar o público (novo).


*Em tempo: Segundo informações da banda, o site oficial fica fora do ar até maio. Ademais, adicionamos abaixo o link da banda no MySpace.


http://www.bandafenicia.com.br/
http://
www.myspace.com/feniciarock
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=18759906
http://bandasdegaragem.uol.com.br/hotsite/index.php?id_banda=4896


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