O Kindle seria para mercado editorial o que o MP3 Player foi para a indústria da música?

Consequência óbvia das facilidades de produção e comunicação das últimas décadas, a mudança de rumos na indústria da música poderia ser considerada apenas a crista da onda na revolução do consumo do entretenimento. Não é difícil antever as mesmas relações deste meio acontecendo com outras mídias. Se terá o primeiro exemplo disso com a distribuição de livros no formato PDF e a popularização dos leitores e-ink, que levará a indústria editorial a se adaptar às essas novas tendências em modelo semelhante a música.

A evolução dos meios de produção e comunicação ao longo dos últimos cem anos anos fez com que o consumo de bens como a vitrola, o toca-fitas e o CD Player fossem alavancados exponencialmente. Da mesma maneira aconteceu com o projetor, o video-cassete e o DVD Player. Estes passaram a ocupar grande parte do lugar e status que antes os espetáculos de música e teatro possuiam junto a grande população. 

Mais recentemente, atrações que antes tomavam parte apenas nas salas de estar da família foram parar direto na mão dos consumidores, com tocadores de música e vídeo portáteis, graças à compactação de dados em formatos com o MP3 e o AVI.

Ao mesmo tempo, a tecnologia que envolvia a produção de música e vídeo também se tornou mais acessível, permitindo que mais e mais pessoas passassem não só a consumir, mas também a produzir entretenimento. Em particular a música, seu consumo tornou-se exponencial, assim como sua produção. E estas novas relações em muito abalaram a grande indústria fonográfica. Houve espaço mesmo para o surgimento da indústria independente, onde cada músico ou banda produz seu próprio material, o disponibiliza online e é acessado por milhares de consumidores. Um processo semelhante deve acontecer com a indústria editorial. 

Já há grande abertura para livros, artigos, revistas e quadrinhos disponibilizados online, em diversos formatos e por vários canais. E a tecnologia para tornar este acervo portável surgiu com os leitores e-ink, como o Kindle, produto cada vez mais barato. Logo mais será tão comum baixar toneladas de textos, armazenar e ler num destes dispositivos quanto o é com o MP3. Seja por versões ditas pirateadas seja pela sua compra dita legal. 

Da mesma maneira, estas novas tecnologias tendem a facilitar o acesso para a publicação de livros independentes. Não é de hoje que há escritores que não chegam às livrarias, barrados pelas editoras. Quando outrora eles publicavam seu material por conta própria, com panfletos, jornais e fanzines, hoje eles ganham páginas onlines, blogs e toda sorte de nova mídia. 

E assim como a vasta produção de música independente é filtrada por diversos canais de informação e em particular pelo próprio gosto dos usuários, haverá uma indústria editoral independente guiada por estes preceitos. Portais, sites e blogs agregando o conteúdo publicado devem tornar-se prática comum, assim como outras ferramentas de troca e redes sociais podem ganharão espaço.

Warren Ellis mostrava na sua série Transmetropolitan um universo onde um país inteiro acompanhava as informações assinando feeds de notícias, recebendo texto, imagem, áudio e vídeo integrados, através de aparelhos portáteis. Este cenário está cada vez mais perto de acontecer, com o surgimento dos celulares com acesso a conteúdo multimídia e tablets. Logo mais, a informação escrita efetivamente ganhará também o bolso da calça dos leitores.

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