Lobão, a Música Independente é toda empreendedora!

Acabou que trombei com o vídeo que vai abaixo com falas do Lobão. Dê uma olhadela ou se não tiver paciência, veja aqui a transcrição de Marcelo Costa, que twittou a parada esta semana.


Comentei lá no Calmantes com Champagne que apesar destas declarações criticarem veementemente a música independente, essa me parece justamente em total alinho com o proposto por Lobão. Mas cabe uma resposta melhor do que uma arremedo de comentário ou 140 caracteres.

Afirma-se ali que os músicos independentes estariam dando um tiro no próprio pé enquanto profissionais ao procurar disseminar seus trabalhos deixando de lado as ferramentas de divulgação convencionais, incorrendo em pouco ou nenhum lucro ao procurar inicialmente um público centrado em espaços segmentados.

Acredito que enxergar as coisas assim é um grande equívoco. Apesar de a música independente fazer aniversários de décadas, mais recentemente aqui no Brasil ela adotou moldes que se valem do maior catalisador de lucro e divulgação possível: A música independente criou seu mercado próprio. Fez isso de maneira gradativa e continuará crescendo.

Trata-se de um modelo bastante empreendedor, que fez isto tudo se valendo de TODAS as ferramentas convencionais, empresários, produtores, agências, técnicos, estúdios, publicitários, gravadoras, radiodifusoras, redes de televisão, canais online e tudo o mais. Só porque eles centraram estas funções todas nos próprios músicos e nos envolvidos em coletivos e afins não significa que eles abdicaram delas. A sacada é genial! Os canais de comunicação atingirem segmentos específicos é restringir-se a nichos, nichos de mercado. O fato de haver menos envolvidos no processo é praticamente aplicar um modo de produção enxuta.

Há coletivos organizados por toda extensão do território nacional operando com mais metas e reuniões que o mais inovador do empresariado nacional, numa operação de guerra franca, apoiando-se em redes de comunicação e tecnologias de informação mais eficazes que as de grandes corporações globais. Há espaços interligados ao longo de todo o Brasil para apresentações. Há festivais. Há a criação de marcas que o público já reconhece. Há um público já bastante consolidado, que é parte da engrenagem disseminadora, expandindo. E há dinheiro rolando pra cá e pra lá. Há verba pública também, inclusive, mas esta é outra conversa.

Aliás, acredito inclusive que a crítica toda era motivada por ações como as que Rádio UFSCar realizou na Campus Party de 2009, com oficinas de comunicação livre e transmissão de músicas independentes em canais online direto do evento. Ela figura um bom exemplo de apoio a este processo.

Esta é a estrutura envolta no processo do mercado da música independente. E o músico nisso? O músico óbviamente não quer ser ouvido por poucos, muito menos ganhar pouco por isto, é um absurdo crer nisto. Ele quer ter seu trabalho devidamente reconhecido sim, quer crescer. O engano está em pensar que ele quer (ou não quer) atingir o mainstream. Me aparenta que o músico independente não acredita no futuro do mainstream. Se eles estão certos, veremos, mas a velocidade de informação com a popularização de tecnologias propicia maior acesso ao trabalho de qualquer um e facilidades para surgir este trabalho, vide este próprio blog. O músico independente quer a consolidação do mercado independente como único mercado predominante e possível, com o declínio das práticas de até então.

Há um grande erro na leitura dos discursos, que envolvem palavras de difícil conceituação. Democratização, sustentabilidade, desmistificação, libertarismo. O mercado da música independente não propõe uma revolução ao sistema capitalista. Ele propõe uma alternativa dentro do próprio sistema, valendo-se dele, explorando-o ao limite.

Se Lobão visa lucro e se apoia no mercado convencional, por assim dizer, o então criado novo mercado da música independente está um passo a frente visando lucro e se apoiando no sistema convencional. E o mercado velho vai ter de correr para manter seu patamar e a briga está boa, muito boa.

E então digo que trata-se de trocar a metade da dúzia por outros seis. Saíremos de um mercado para outro mercado, invariavelmente, caso o mercado independente emplaque quer o grande mercado se modifique para seguir o passo e predomine. Continuaremos presos a uma indústria que se expropria de elementos culturais para incentivar o consumismo, sem qualquer desprendimento do sistema. E não se propõe aqui alternativas a isto, nada revolucionário, muito menos propondo a revolução (falando do sistema, não do campo cultural). Longe disso. Só se aponta um diagnóstico de outros textos. Provavelmente enviezado, provavelmente limitado, mas preocupante onde lhe cabe.

3 comentários:

Jaguadarte disse...

Fato, a declaração do Lobão é um amontoado de besteiras e aparenta um desconhecimento de causa... Curioso. Ele devia dar um beijo no pessoal do Circuito.

Zelenski disse...

O Lobão foi supérfluo. Assim, se o cara quer fazer sucesso, ele, de certa forma, tem que ter gravadora, tocar em rádio e tal.

Mas assim. ouvi isso essa semana, não sei quem falou, o mainstream é uma grande lama. Por mais que vc esteja bem vestido, se vc entrar pro mainstream, vc se suja dessa lama. Vc vai estar bem vestido, mas cheio de lama.

Ou seja, são duas coisas diferentes. Quer fazer sucesso e ganhar dinheiro que nem o Lobão, vai pagar jabá. Quer se expressar, fazer música por que gosta,fica no under. É uma escolha. Uma não anula a outra. O Lobão não tinha que ficar menosprezando nada. Isso é medo da internet.

Milton Miranda disse...

Olá...sou músico e produtor independente....venha conhecer meu blog....espero sua visita

abraços

juninho