Por que Afronte?

Eu lhe perguntaria: por que não afronte?

À primeira vista, a palavra seca, remete a algo agressivo. Mas os próprios significados do termo já remetem a meia dúzia de outras interpretações.

Não, não estamos fugindo do afronte. Afrontamos. Mas o afronte só se dá com clareza e consciência. Se não devem haver meias palavras, também não deve haver espaço para simplismos. Afronte-se.

Colocar-se frente a frente, encarar, provocar, refletir, entrar em embate... afrontar. Não há pensamento sem afronte. Não há ação que não afronte. No mundo homogeneizado e apaziguado dos mass media e da produção e consumo industrializados de cultura, símbolos, valores, experiências e vontades – além, é claro, de toda a base material de nossa existência e de toda atividade produtiva humana, do trabalho à ação política – não se pode permitir o afronte: apenas a indiferença, a indiferenciação, a diluição, a fusão acrítica do eu com o mundo – o trabalhador perfeito e o consumidor mais que perfeito!

Por isso, afronte – e por tudo o mais de prosaico, cotidiano e agressivo a que o termo também pode remeter. Não, não agressivo no sentido da violência – da subjugação do outro através da força ou subtração de sua condição de sujeito livre – mas sim no sentido da provocação, do afetar ao outro. Do afeto, portanto. Da agressividade provocativa, afe(ta)tiva.

E pra onde desejamos ir com afrontes? Caminhar. Provocar. Perguntar: "por que não?" Perguntar caminhando. Fazer perguntando. Por que não buscar entretenimento fora do mundo do espetáculo? Por que não ritualizar nossos momentos de diversão e interação coletivas? Por que não espectador e produtor ao mesmo tempo? Mas também: por que não dar sentido aos tempos vazios? Por que não ocupar os espaços (e não só os tempos) vazios? Por que não fazer uso daquilo que já está ali? Por que não produzir? Por que não ocupar?

Pensamento é afronte. Ação é afronte. Cultura é pensamento e ação. Política é pensamento e ação. Cultura é afronte. Política é afronte. Política é cultura. Cultura é política. Por uma cultura política e por uma política cultural, afrontemos!


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Este é o texto divulgado no Ato I do Afronte que por fim, carregado de ironias, começa. Como bem disse Jaguadarte Delarue, fez-se o Ato I e muito do esperado de fato aconteceu.

Se no texto não já temos as justificativas para as ações, que sequer precisam de justificativa em muitas vezes, não será aqui que apresentaremos mais. Mas, quem sabe, elucidemos alguns dos desdobramentos do Ato I. E deixemos mais claro muito do ocorrido ali, afinal o noticiado pela mídia, na matéria intitulada Festa Universitária no Cidade Jardim acaba na delegacia, no canal online de notícias São Carlos Agora foi parco e inverossímil. Felizmente, gerou mais de uma centena de comentários, embora apenas alguns sejam passíveis de crédito.

Além do óbvio pontapé inicial, experimentação do não-formato, disseminando algo diverso, ao mesmo tempo em que o constrói, esta ação tinha por objetivo local afirmar o posicionamento de que tudo o dito ali é possível. Questionar e se expressar tanto quanto necessário ou possível, deixando de lado moralismos e convenções.

Do São Carlos Agora, há que se pontuar algumas várias coisas, começando por dizer que não era uma festa universitária. Não nos moldes como sempre se encara esta alcunha. Se havia universitários no meio, pouco importa.

E nada acabou na delegacia, muito menos algo foi encerrado. O Ato I não parou a primeira vez que a polícia por lá passou, muito menos da segunda vez. E não acabou enquanto ato e muito menos enquanto afronte, quando tudo o passado ali foi discutido posteriormente, espalhando o acontecido e os posicionamentos tomados. Inclusive, nos mais de cem comentários ditos na notícia. Afrontar é sustentar, manter, lembram-se?

E justamente por isso era apenas o primeiro ato. Eis alguns registros dele aqui. Logo mais, Afronte - Ato II.

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