Cobertura: 14 BIS - 30 anos no SESC Pinheiros


Hoje em dia o 14 BIS é uma daquelas bandas de que boa parte das pessoas gosta/conhece alguma coisa, mas que não consegue localizar no nem quando, nem onde ou como começou a gostar. Foi assim para mim por bastante tempo, cresci ouvindo os clássicos da banda nas mais diversas situações mas não posso dizer que gostava com aquele gostar consciente e especial até alguns anos atrás, na ocasião que me deparei com todo o movimento mineiro em que ela estava inclusa, e contextualizando aquele repertório já conhecido pude finalmente reconhecer nele todo seu valor. E esse show, ocorrido no último dia 9 foi o ápice desse reconhecimento (existem inúmeras razões para eu nunca ter ido a um show deles antes e, embora em algum momento elas tenham parecido coerentes, hoje me arrependo enormemente de ter cedido a cada uma delas).

Pois bem, SESC Pinheiros - Teatro Paulo Autran já garante, de cara, organização e estrutura de som e iluminação impecáveis e um público mais familiar, juntando o domingo de dia dos pais com a apresentação de um especial de 30 anos de uma banda que influencia tantas outras bandas/pessoas. Temos aí o cenário perfeito pra um show aconchegante e com aquele clima de celebração entre gerações.

Nesse contexto não havia música melhor do que Bola de Meia, Bola de Gude para abrir o show. Toda essa interação de gerações que o 14 BIS provoca representada musicalmente nessa canção do segundo álbum da banda e que permanece um hit indiscutível. Já aqui percebemos o que seria uma constante de todo o show, a experiência de uma banda que permanece ativa há anos e cujos membros são amigos pessoais "desde sempre", fazendo da apresentação uma demonstração de qualidade técnica e pessoal, com entradas e saídas de instrumentos e vozes perfeitas, efetuadas com aquele cuidado e sintonia que anos de amizade e dedicação a um projeto comum podem criar.

O show segue com Sonhando o Futuro, parceria de Cláudio Venturini e Lô Borges, uma das músicas mais bonitas do grupo, que mostra como mesmo após a saída de Flávio Venturini em 87 o grupo não só se manteve na ativa como manteve os bons lançamentos e composições. Que o digam Siga o Sol, O Fogo do Teu olhar, Eu já Fechei Meus Olhos e Canções de Guerra, também presentes no show e que mostram que a banda ainda produziu muitos clássicos pós anos 80.



Não tem como deixar de citar os momentos de público que foram as "baladas" Caçador de Mim - de Sérgio Magrão, tornada um sucesso na voz de Milton Nascimento, Canção da América, Todo Azul do Mar e Espanhola – com a participação de Maurício Gasperini. A despeito da sonoridade mais pop destas faixas, há de se comentar que esse talvez seja um grande mérito do 14 BIS, transpor para a sonoridade popular toda a dedicação das músicas bem trabalhadas, a preocupação em criar boas linhas instrumentais e agregá-las a um vocal pensado, com backings vocals precisos e bem colocados. Deve-se comentar ainda que ao vivo eles se dão a liberdade de improvisar mais, brincar mais, tornando as músicas bem mais interessantes que as versões de estúdio, evidenciando influências dos grandes mestres do Rock'n'Roll na sonoridade da banda. Tanto que seria injusto limitar a um único momento do show todo o fascínio que Cláudio Venturini consegue transpor para o público nos seus riffs de guitarra, sempre achando um bom ponto nas músicas para se desenvolver e arrancando gritos de aprovação da platéia.

E se é pra citar a repercussão dessas influências chegamos aqui ao meu momento favorito do show. Adentrando no mundo dos clássicos do rock temos Nave de Prata e seus arranjos de teclado lembrando os mestres do progressivo, Natural e Mesmo de Brincadeira, ambas com aquela batida dançante típica do folk e a incrível Xadrez Chinês, com um clima mais pesado, o que a destaca das outras. Trata-se de uma representação óbvia dessa busca por padrões tecnológicos exemplares nas composições da banda, sempre trazendo a modernidade, mas ainda assim uma modernidade amparada pela cultura e tradição, a essência do que é o sonho do 14 BIS.

Enfim, Planeta Sonho, aquela que por mérito e qualidade ostenta o título de maior clássico da banda, e não por menos, levanta o público e encanta a todos com um vocal que carrega um lirismo típico das grandes poesias mesclado a batida do Rock e às influências populares, construindo todo um sentimento pueril e inocente para as mais variadas gerações que acompanhavam a apresentação. Poderia ter sido um bom final, mas não, público de grandes bandas nunca está satisfeito com apenas um final, as palmas não cessam, a platéia só parece mais feliz e empolgada, a banda não pode ir embora sem um bis para complementar o já extenso set list. As escolhidas são O Sal da Terra de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, como que pra homenagear não só essa, mas todas as grandes parcerias da historia da banda, e Linda Juventude, que assim como a música de abertura, traz aquele clima nostálgico, porém uma nostalgia benéfica, que recupera valores e conceitos, que celebra o passado e o presente e deixa a vontade de “quero mais” para o futuro.




O 14 BIS conta com Cláudio Venturini nos vocais e guitarra , Vermelho nos teclados, Sérgio Magrão no baixo e Hely Rodrigues na bateria, a apresentação contou ainda com Sérgio Vasconcellos nos teclados e Maurício Gasperini como participação especial no vocal de Espanhola.

A set list oficial, salvo algum deslize meu foi:
Bola de meia, bola de gude / Sonhando o futuro / Uma Velha Canção Rock n Roll / Canções de Guerra / Caçador de Mim / Siga o Sol / Outros Planos / Canção da América / O Fogo de teu olhar / Sinais de Amor / Eu já fechei meus olhos / Espanhola / Nave de Prata / Todo Azul do Mar / Xadrez Chines / Mais uma Vez / Natural / Mesmo de Brincadeira / Planeta Sonho Bis: O Sal da Terra / Linda Juventude


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