Resenha: SancaStock 2008 – Parte II: A Estaçao da Luz


Como prometido, cá estamos com a segunda parte do review do SancaStock 2008. E as expectativas envoltas no que tocaria na sequência eram grandes, posto o material previamente conferido no YouTube. A banda A Estação da Luz postava lá Secos & Molhados, Os MutantesCasa das Máquinas. Trazia na manga até Somebody to Love, que me fazia desejar uma hora só de Jefferson Airplane. e


Mas justamente esse último anseio revela a grande verdade que recai sobre minha pessoa e que temia se abater por uma grande maioria do público: o desconhecimento do (vastíssimo) repertório nacional do gênero. Não cabe aqui apontar as razões para tanto, mas já alfinetando, devo dizer que
a grande falácia não-produzimos-nada-a-contento deve ser desmentida na cabeça dos mais xiitas. Está aí para provar isso um sem número de bandas, partindo dos supra-citados, passando por Patrulha do Espaço e Novos Baianos, refletidas em pedidos por aquela uma ou outra, mesmo sendo sempre as mesmas.


De qualquer maneira, prometo fazer minha lição-de-casa de História do Brasil.


Contudo, todo medo do show esfriar se esvai quando a banda de São José do Rio Preto entra no palco do CAASO, deixando várias e várias letras (das mesmas?) na boca do povo de imediato. Claro que começam algumas baixas, ao mesmo tempo que as caras mudam um pouco e o público se renova, mas no geral a “caasa” estava cheia.


Literalmente, a sensação de viagem no tempo para a década de 70 fica presente, quando a trupe se apresenta completamente a caráter, com calças boca-de-sino e direito a ônibus de tour pomposo. Logo de cara impressiona a guitarra de braço duplo no mesmo tom cereja da Gibson EDS-1275 de J. Page. O mal é que ficou só na impressão, porque não me lembro de ter visto doze cordas palhetadas em nenhum momento.


Ah, claro, falando de música e deixando os performáticos de lado, no repertório clássicos e clássicos do rock psicodélico da década onde eu queria ficar preso no tempo. Personificando uma Rita Lee, a lindíssima vocalista Renata Ortunho solta a voz numa Esse tal de Roque Enrow, prometendo, nas vezes de lead singer, um algo mais, enquanto em outras faixas, fazendo back, abrilhanta o trabalho já vivaz do chamado “Petardo do Rock Nacional”, Ricardo Fish, vocalista de mão-cheia, com excelente técnica. A dupla mostra entrosamento melhor e melhor, com uma presença de palco contagiante, embalando a multidão.


Num momento saudosista, With a little help from my friends, dos Beatles, numa releitura da já versão de Joe Cocker. Nada mais justo do que uma homenagem a um clássico do Woodstock de 1969 tocando-a no SancaStock (o nome, pra começar, ficou ótimo!). Entrando em seu sintetizador com excelentes samples, Alberto Sabella nos dá a consagrada introdução do seriado Anos Incríveis com suavidade, evoluindo ora pras teclas mais pesadas ora pros estonteantes acordes que dão o tom para a liberdade da guitarra de Cristhiano Carvalho fazer as vezes, cantando alto com a belezinha dele, num empolgado solar, enquanto o baixo de Sandro Delgado aprofunda a coisa toda. Aqui, Júnior Muelas, que parou no tempo com cabeleira e bigodes, mostra que seu estilo não fica só no visual, derramando uma bateria cadenciada, ao mesmo tempo que vibrante, junto ao brilho da percussão de Daniel Velotta. Claro que nosso “petardo” não trouxe o timbre mais grave e rasgado de Joe Cocker, mas particularmente gostei dos arranjos de vocal, em especial com o back vocal da garota lindíssima Renata, junto com mais meia-banda, que fazem toda uma diferença. Baita música!


Só me irritou ao longo do show o sempre presente público do maldito gritinho de “Toca Raul” que se proliferava volta e meia. Sinceramente, Raulzistas que me perdoem, não era a hora. Os caras deveriam ter toneladas de material mais interessante pro momento. E eu gosto de
Raul, ok?


A Estação da Luz revelou-se uma banda de mão-cheia, nostálgica, com bons instrumentistas e excelentes arranjos, numa apresentação quase teatral. Uma horinha apenas de show foi pouca, porque já saíram deixando saudades. Só confirmei as expectativas de que seria a melhor apresentação da noite (embora muito ainda estivesse por vir). Espero vê-los de novo, por cá também.


E falando em banda completíssima, não podia faltar a apresentação de um material deles. Aliás, excelente material. Tocaram duas composições próprias, Desespero, faixa interessantíssima, refletindo na psicodelia o título, e Par Perfeito, tendo até clipe perdido por aí. Nessa última, mais uma vez faz toda a diferença os teclados de Sabella e nossos vocalistas, cantando arranjos bem feitos da letra bacanuda.


Li por aí que vem álbum em abril desse ano. Já está na wishlist.


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