Já passado pelas três da manhã e com várias expectativas na cabeça, vi a banda Tomada subir no palco para uma abertura que fez calar a boca, me forçando a dizer que foi uma entrada de respeito. Simplesmente blugaram os instrumentos, tocando non-stop uma excelente seqüência de covers rearranjados. Arrebatador. Destaque para Spanish Castle Magic, do Jimi, com seu bumbo retumbante numa toada mais ágil e guitarra suja que caíram excelentes! Só o vocal ficou devendo nestas faixas, em muito porque o mike não parecia a contento.
De qualquer maneira, emendaram suas três ou quatro músicas sem parar pra respirar, revigorando imediatamente o público já diminuto pelo adiantado da hora e demora pra (re)recomeçar a brincadeira de gente grande no palco.
Após a decisão do primeiro pronunciamento do vocalista, cumprimentando os presentes, a banda paulistana trouxe a faixa Shine do seu primeiro álbum, de 2003, Tudo em Nome do Rock’n’Roll. Na boa influência de um Tom Morello, a faixa se desenrola com Rodrigo Casais Gomes e guitarra modulando um eletrônico metalizado (que lembram muito Your Time has come, por sinal). O vocal de Ricardo Alpendre por fim entra nos conformes e puxa um refrão bacanudo. Ou era a garganta dele que só responde pras faixas da banda?
Em seguida, mais uma deles, Volts, faixa homônima do segundo álbum, de 2005. Trás uma composição bacana, com riff em cima de riff. Contudo, nesse momento recai sobre mim aquela impressão que eu havia esquecido no começo do show. Ouvindo o material deles previamente, me lembrei daquela suma máxima proferida a torto e a direito: Hard Rock cantado em português não soa legal. E isto se traduz nesta música. Não que o mal sejam só as letras, porque em inglês elas são por vezes do mesmo tamanho, mas parece que no britânico soa melhor. Digamos prosaicamente que nossa língua mãe seja nobre demais pro estilo. E já que estamos nessa discussão, os letristas também são de todo culpados, porque nossa recorrente temática futebol, mulher e cerveja é boba por demais. Claro que a idéia não é trazer os tolkenianos do rock sinfônico melódico medieval, mas podia ser melhor, não é?
Mais além na noite, apresentaram algumas faixas de seu vindouro novo cd, como Jogue tudo foraDoidão. A última é digna de nota, pela brincadeira excelente, que se fosse de improviso seria genial, dos vocais com o título da música. Me aparenta que os caras tem um bom material pra apresentar ainda, na mesma linha dos seus álbuns antigos. Claro que estes trabalhos tem muitas faixas boas, trazendo o excelente som do power trio mais vocal, com sua sempre estilosa guitarra e baixo bem marcado e vivo. Particularmente, gosto mais do primeiro álbum, com destaque pra faixa de abertura (pra não falar na primeira metade toda, com excelentes toques de blues, funk de baixo e mesmo soul), e Notícias de Ontem, e Na Estrada e a faixa-título, Tudo em Nome do Rock’n’Roll . Já Volts traz algumas bem interessantes como Página 3, SSP-SP, além da última faixa do grupo que viria a ser tocada na seqüência do show. E fica a dica de que tudo está disponível pra download na página da Trama Virtual!
Como dito, tocaram ainda mais do álbum de 2003: Blues da Garrafa e Meia, num ritmo moroso e vocal inspirado de Alpendre; Ainda, Pé na Água Fria, memorável faixa que eu mesmo pediria se esse fosse meu mote, com guitarra inspirada, seguindo uma bateria com pratos cheios de Alexandre Marciano e as linhas de Marcelo Pepe Bueno, tocando um belíssimo (e sonoro) Rickenbacker preto. Pepe atira notas pro alto empunhando o baixo enquanto inspira alucinação com olhos esbugalhados.
E pra finalizar o show, um dos momentos impagáveis da noite, quando Alpendre e Pepe fazem questão de conclamar ao palco o fugidio vocalista Ricardo Fish, da banda anterior, Estação da Luz, que sai dali cunhado como o “Petardo do Rock Nacional”. E faz jus ao nome com sua voz, fazendo um excelente back vocal. E rolou realmente um puta lance, tocando o que eu imagino ser Superstition, música de Stevie Wonder, num cover da famosa versão de Jeff Beck (a menos que eu esteja muito errado). Excelente, excelente, com a guitarra de Gomes fazendo bonito, com os wah-wahs manipulados inclusive em parceria com o próprio petardo. Faltou um talkbox, mas enfim, teve slide e tudo.
Eis que a banda de estilo menos compactuante(mas que merecia ser vista), saiu-se melhor do que o esperado. Sempre é interessante conferir o que está rolando por aí, em especial quando sabe-se que a Tomada está com as asinhas de fora, com shows em diversas casas de Sampa e mais álbuns engatilhados. E o material é bem aproveitável, diga-se de passagem. Sinceramente torço para que firmem o nome no grande mercado, apresentando que a nação também faz um bom Hard Rock.