Skatalites no Espaço MOG em Campinas: Uma Noite com os Pais do Ska

Na noite do 21 de Abril passado tive o grande privilégio de estar no Espaço MOG, em Campinas. Digo isto porque na ocasião passaria pela casa a lendária banda jamaicana The Skatalites, no primeiro de dois shows na cidade.


Minha preocupação em chegar cedo e garantir um ingresso se mostrou ser exagerada, pra minha sorte e pro azar de quem deixou de ir. A casa estava bastante movimentada, mas não lotada, provavelmente por conta do feriado prolongado da Páscoa. Adentrando Espaço MOG já me deparei com uma discotecagem diferenciada, na mistura certeira entre clássicos e versões contemporâneas do Ska, Reggae, Ragga e Dancehall, criando alta expectativa para o que viria a seguir.

A casa, que acomodaria confortavelmente 600 pessoas, apesar de não ser tão grandiosa, passa uma impressão bastante aconchegante: diversos sofás, puffs e mesas estrategicamente dispostos, além de fantásticas máquinas de flipper. O palco está muito bem localizado, permitindo boa visualização de praticamente todos os pontos. E é fácil notar a acústica do ambiente, com boa sonorização apesar de constatar alguma microfonia e falta de retorno.

Primeiros da noite, a banda paulistana We Are The Clash fazia homenagem ao extinto The Clash. Logo que subiram ao palco, foram avisados para se apressar devido ao atraso costumeiro dos shows, mas isso não os impediu de reproduzir a nostalgia que os londrinos traziam à suas apresentações.

Em seguida veio Mr. Dick, banda originalmente paranaense, mas que agora faz de Campinas seu lar. Formada por Carlo (bateria), Kidinho (baixo e backing vocal), Rato (vocal e guitarra) e Tata (backing vocal e percussão) o grupo é um bom exemplo do Reggae contemporâneo nacional. Suas faixas Nadando Contra a Maré, Drop de Fé e Não Corte a Minha Brisa não deixam nada a desejar para composições consagradas da banda Natiruts, que há alguns anos atrás trouxe o estilo ao mainstream no país, mesmo que por um breve momento.

Mas eis que chegava o momento que todos aguardavam ansiosamente: Skatalites subindo ao palco, com uma formação ligeiramente diferente da apresentada dias antes na Virada Cultural. Dessa vez sem Azemobo Audu no sax, mas com os skatalites originais, Lloyd Knibb na bateria e Doreen Shaffer, não necessariamente um membro original, mas que canta com o grupo desde o início da década de 60. Acompanhava a dupla os skatalites da nova geração, Kevin Batchelor (trompete), Andrae Murchison (trombone), Natty Frenchy (guitarra), Val Douglas (baixo), Cameron Greenlee (teclado) e um saxofonista substituto (de alto nível, diga-se), cujo nome infelizmente vou ficar devendo.

No Espaço MOG e em toda mídia anuncia-se o grupo como sendo os pais do Ska. O que se via no palco de fato era uma aula do gênero. Com o suingue hipnotizante e contagiante, era impossível encontrar alguém parado no recinto. Os pontos altos da apresentação foram a belíssima canção de abertura Freedom Sound e faixas como Latin Goes Ska, Simmer Down (uma das poucas com o belo vocal da rainha do Ska, Doren Shaffer), A Message To You Rudy e Guns of Navarone.


Vendo a empolgada reação do público presente, me incluindo nesse entusiasmo, me deparei com a questão: qual o espaço do Ska, Reggae e afins na atual indústria da música?

Dias antes, o Skatalites figurava como uma das principais atrações da Virada Cultural, ação megalomaniaca que cabe bem à megalópole São Paulo. Lá, os jornais afirmavam que o grupo era um dos grandes responsáveis pela lotação do evento. Dias depois, se apresentavam para um público bem menor, no que parecia ser um show extremamente exclusivo para aqueles felizardos. Como em um espaço tão reduzido de tempo pode haver tamanha discrepância no número de seu público? É óbvio que ao comparar as capacidades dos espaços físicos (Av. São João, São Paulo e Espaço MOG, Campinas), os preços dos eventos (show grátis e entrada a R$60,00 na hora) e as datas de realização (sábado, dia 16 e quinta-feira, dia 21, feriado de Corpus Christi), já ajuda muito a explicação, mas ainda não é o suficiente.

A verdade é que o Ska é um gênero que perdeu seu espaço no mainstream. Desde os tempos áureos de Bob Marley, a participação dos ritmos jamaicanos nas paradas de sucessos é esporádica e rara. Porém, foi justamente observando a empolgação do público pequeno que marcou presença na apresentação de quinta que também conclui que apesar de ter da relativamente pequena audiência, o Ska tem público cativo e fiel. Faço um paralelo breve com o apreciador e colecionador de vinil; este é uma porção menor dos consumidores de música, mas mesmo assim mantém a indústria de bolachas viva ainda hoje, pela sua paixão que muitas vezes contagia filhos e amigos, e assim sobrevive à ação do tempo. Da mesma maneira vejo grupos novos do cenário nacional, reproduzindo um Ska contemporâneo de altíssima qualidade. Lembrando de nomes como Firebug e Orquestra Brasileira de Música Jamaicana percebo que o Ska tem seu espaço hoje, ainda que restrito. E tem futuro.



Setlist We Are The Clash
01. London Calling; 02. Whiteman (in Hammersmith Palais); 03. Rudie Can’t Fail; 04. Wrong on Boyo; 05. Bankrobber; 06. Pressure Drop; 07. I Fought the Law.


Setlist Mr. Dick
01. Africa Reggae; 02. Rasta Pública; 03. Vivendo Sem Limites; 04. Roots Rock Reggae/ Survival; 05. FYA; 06. O Bêco/ Iron Lion Zion; 07. Crack; 08. La Luna; 09. Muito se Fala Em Paz; 10. Não Corte a Minha Brisa; 11. Arte na Rua; 12. Drop de Fé; 13. Nossa Corrente; 14. Nadando Contra a Maré.


Setlist The Skatalites
01. Freedom Sound; 02. Occupation; 03. Dick Tracey; 04. James Bond; 05. El Pussycat; 06. Latin Goes Ska; 07. My Boy Lollipop; 08. Golden Luv; 09. Nice Time; 10. Can’t You See; 11. Simmer Down; 12. You’re Wondering Now; 13. Adorable You; 14. A Message To You Rudy; 15. Guns of Navarrone; 16. Bridge View; 17. Two for One; 18. Phoenix City; 19. Freedom Sound.



Texto por Fernando Francini, vulgo Jubaz.

Fotos por Espaço MOG e vídeo por wallasbr.

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